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Alguma “Dieta da Moda” realmente funciona?

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Alguma “Dieta da Moda” realmente funciona?

Será que alguma das dietas da moda realmente funciona? Fizemos um resumão para descobrir como andam as pesquisas sérias a respeito!  

Todos os dias somos bombardeados com inúmeros estudos científicos, notícias e anúncios em jornais, revistas e sites e até mesmo amigos que aparecem com dietas milagrosas que prometem uma perda de peso rápida e sem sacrifício.

Então, assim como em um jogo de poker precisamos prestar atenção nos detalhes para saber quando blefar ou pagar pra ver o blefe de alguém, na vida real precisamos estar constantemente atentos para determinar se algo que estão nos oferecendo realmente funciona.

Já falamos aqui sobre o professor que emagreceu comendo apenas McDonald’s, do extrato de goji do Tibet e até mesmo do respiratorianismo. Entretanto, tão certas quantos as mudança das quatro estações, todos os anos surgem novas.

As últimas a fazerem sucesso são a “Paleo“, a “5:2“, a do “jejum intermitente” e várias dietas diferentes com a palavra “detox“… Então, será que alguma “dieta da moda” realmente funciona?

Source: Public Domain Pictures

Verdadeiro ou falso?

Para responder a essa pergunta primeiro precisamos falar sobre como a ciência nutricional chega às suas descobertas e os problemas inerentes a esta área do conhecimento.

Por que é tão difícil afirmar qualquer coisa sobre nutrição?

Da alegação de que vinhos aumentam a expectativa de vida, passando por chocolate ajudar contra a depressão e probióticos auxiliarem na regulação do intestino, procurando na internet conseguimos encontrar resultados positivos para praticamente qualquer afirmação positiva relacionadas aos alimentos que quisermos.

Isto se deve a dois problemas principais:

O primeiro problema é o fato de que a indústria alimentícia possui interesse em financiar experimentos enviesados que comprovem que os seus respectivos produtos fazem bem à saúde ou pelo menos não façam mal. Isto ocorre tanto devido a necessidade das empresas de que o consumo de seus alimentos aumente quanto devido a necessidade de laboratórios conseguirem financiamento para suas pesquisas.

Conforme reportagem da Vox citando a pesquisadora e professora de nutrição e sociologia da Universidade de Nova Iorque Marion Nestle, de 168 estudos financiados pela indústria, 156 apresentaram resultados positivos.

Outro estudo, que também foi citado na mesma reportagem, revelou que em 206 estudos sobre os efeitos benéficos do leite, sucos de frutas e refrigerantes. Aqueles financiados pela indústria tinham uma chance de quatro a oito vezes maior de apresentar dados favoráveis ao consumo destes produtos.

O segundo problema, que provavelmente é mais importante para a área como um todo, é extremamente e difícil para qualquer um realizar bons experimentos que não sejam enviesados – leia-se estudos controlados aleatórios e testes duplo-cegos com diversas pessoas mantendo uma dieta absolutamente regrada – devido aos custos proibitivos que eles teriam e a dilemas éticos.

Além disso, como estes tipos de experimentos são inviáveis para longos períodos de tempo, os pesquisadores precisam se contentar com estudos observacionais, compostos de diários alimentares, questionários de frequência de consumo alimentar e recordatórios de 24 horas.

Além de serem inerentemente fadados ao erro por serem baseados em dados que as próprias pessoas fornecem – por ser impossível relembrar e contar para o seu médico sem erros sua dieta inteira durante seis meses – e de não durarem muito tempo – no máximo alguns anos, quando seres humanos vivem décadas – estes estudos não conseguem controlar os diversos outros fatores que podem influenciar a saúde de alguém devido ao grande número de variáveis (como a reação de diferentes pessoas ao mesmo tipo de alimentação devido a diferenças genéticas).

Se nutrição é tão difícil, como definimos o que faz bem ou não?

De acordo com outro estudo, perguntas simples, como consumir muito açúcar (através de doces ou refrigerantes) aumentar o risco de diabetes, a deficiência de Vitamina C causar escorbuto, gordura trans fazer mal para a saúde (especialmente do coração) e outras dúvidas de causa e reação prejudiciais diretas são mais fáceis de responder.

Para perguntas mais difíceis, revisões sistemáticas da literatura disponível e metanálises de estudo são o caminho certo a percorrer.

Sendo assim, até o presente momento e de acordo com diversos pesquisadores consultados no mesmo artigo supracitado, a única coisa que a ciência nutricional pode afirmar com certeza sobre qualquer dieta é que uma dieta saudável é rica em vegetais, frutas, grãos integrais, laticínios com pouca ou nenhuma gordura, frutos do mar, legumes, nozes, moderada em ácool (apenas para adultos), com pouca carne vermelha ou processada e com pouco açúcar (tanto em comidas quanto em bebidas) e grãos refinados.

Qualquer coisa que vá além disto – de literalmente qualquer dieta da moda – simplesmente não foi estudado o suficiente e não será baseado em conhecimento científico confiável.

Então, por que dietas da moda parecem funcionar?

De acordo com toda a evidência científica disponível, toda e qualquer dieta que gere uma deficiência calórica será eficaz – pelo menos momentaneamente – para a perda de peso.

Todas as “dietas da moda” possuem algum tipo de restrição de grupo alimentar – a que elimina glúten, por exemplo, impede a pessoa de comer diversos tipos de carboidratos – ou período de tempo em que a pessoa pode comer – seja um jejum intermitente ou um período de “detox” em que são consumidos apenas sucos – que acaba por diminuir a quantidade de comida que a pessoa ingere levando a um déficit calórico que ocasiona o emagrecimento.

Entretanto, quanto mais difícil e restritiva for uma dieta, mais difícil será para uma pessoa segui-la por muito tempo. Isto muitas vezes leva, especialmente no caso de dietas com restrição radical de alimentos ou redução calórica muito alta, ao “efeito sanfona“, que consiste em engordar tudo que foi perdido ou até mesmo ganhar mais peso além do original.

Conclusão

A ciência nutricional é muito mais complexa do que pode parecer à primeira vista e afirmar qualquer coisa além do básico sobre alimentos é mais propaganda e marketing que ciência.

Sendo assim, qualquer “dieta da moda” – seja ela qual for – simplesmente não tem uma quantidade de estudos necessária para que seja possível afirmar qualquer coisa sobre ela ser melhor ou pior para a saúde.

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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