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As coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz?

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As coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz?

As coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz?

Será verdade que as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé, também chamada de Pirâmide de Khufu ou Quéops, são exatamente iguais a velocidade da luz? Será que isso quer dizer, que as pirâmides do Egito foram construídas por seres extraterrestres tecnologicamente avançados ou que os antigos egípcios tinham um conhecimento muito maior do Universo do que pensamos? Bem, é isso que diversos sites e canais no YouTube dedicados a disseminação desenfreada de teorias da conspiração vêm alegando há anos.

Entretanto, será que isso é realmente verdade? Será que toda essa história realmente faz sentido? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

A Alegação por Parte dos Teóricos da Conspiração

Antes de começarmos é muito importante ter em mente, que os teóricos da conspiração ou disseminadores de desinformação não se importam nem um pouco com a Arqueologia, a Antropologia, a Matemática, com fatos verdadeiramente históricos, e nem mesmo com aqueles que acessam o conteúdo fornecido por eles. Aliás, eles não possuem o menor pudor de pegar uma informação, distorcê-la, e inventar novas situações para que tudo encaixe quase perfeitamente nas narrativas propostas por eles.

O motivo? Dinheiro. Há um grande mercado para livros, souvernirs, palestras e congressos, que geram muito lucro para tais pessoas. Além disso, eles dependem do clique de cada um em seus respectivos sites, devido a grande carga publicitária embutida nas páginas, e precisam que as pessoas assistam seus vídeos (a maior quantidade de minutos possível), para gerar receita. É, inclusive, difícil até imaginar se os disseminadores (na parte alta da cadeia alimentar da mentira) realmente acreditam naquilo que propagam ou se fazem isso só pelo simples fato, que há um mercado ávido e farto a espera deles lá fora.

Antes de começarmos é muito importante ter em mente, que os teóricos da conspiração ou disseminadores de desinformação não se importam nem um pouco com a Arqueologia, a Antropologia, a Matemática, com fatos verdadeiramente históricos, e nem mesmo com aqueles que acessam o conteúdo fornecido por eles. Aliás, eles não possuem o menor pudor de pegar uma informação, distorcê-la, e inventar novas situações para que tudo encaixe quase perfeitamente nas narrativas propostas por eles.

Enfim, entre tantas desinformações e alegações, que são despejadas diariamente na internet, temos algumas recorrentes. Entre elas está a alegação de que as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz. Essa é uma alegação bem antiga. Ao fazer uma simples busca no Google, encontramos publicações em 2016, 2012, e 2001. Porém, recentemente, em 25 de janeiro de 2019, o tabloide britânico “Daily Star”, usando como base um vídeo de um canal do YouTube chamado “thirdphaseofmoon“, voltou a ventilar essa alegação.

Citando um tal de “Dr. J” foi mencionado que:

“pesquisadores acreditam, que extraterrestres deixaram pistas vitais no projeto da pirâmide, que provam que não poderiam ter sido nossos ancestrais que as construíram. E, os especialistas acreditam, que a verdade está por trás das coordenadas. A velocidade da luz é 299.792.458 m / s. E as coordenadas geográficas da grande pirâmide são 29.979.2458 graus norte. Os humanos não conseguiram medir a velocidade da luz com precisão até 1950, milhares de anos após a construção das pirâmides.

Recentemente, em 25 de janeiro de 2019, o tabloide britânico “Daily Star”, usando como base um vídeo de um canal do YouTube chamado “thirdphaseofmoon”, voltou a ventilar a alegação de que as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz

Então, foi mencionado que, “aqueles que creem” acreditam, que seres extraterrestres teriam voltado do futuro para construir tais monumentos. Ao final, o artigo do “Daily Star” apontou comentários de usuários, que também acreditavam que seres extraterrestres tivessem construído as pirâmides do Egito.

Questionamentos Básicos em Relação ao Artigo do Tabloide Britânico “Daily Star”

O artigo publicado pelo tabloide britânico “Daily Star” é muito problemático, começando pelo próprio tabloide, que considero ser o pior tabloide do Reino Unido, ao lado de um outro chamado “Daily Express”. Ninguém deveria usar qualquer publicação oriunda desses tabloides como fonte de informação. Além disso, o canal do YouTube “thirdphaseofmoon” é mais um daqueles canais disseminadores de desinformação, que propaga farsas e distorce o que é divulgado por outras fontes, ou seja, um hoaxer. Basicamente, ninguém que foi citado acima é uma fonte confiável de informação.

Mesmo que você não soubesse disso, há enormes red flags (expressão em inglês comumente usada para indicar problemas em potencial) no artigo. Quem é o “Dr. J”? Quem são os especialistas e pesquisadores que acreditam nisso? Nenhum arqueólogo, antropólogo, historiador ou matemático, que tenha uma formação minimamente decente, acredita nisso! Os únicos que “acreditam” e propagam isso são pessoas que ganham dinheiro com livros, souvernirs e palestras sobre o assunto. Para piorar há diversas pessoas que se autointitulam “especialistas” ou “doutores”, mas não possuem nenhuma formação acadêmica, que justifique a atribuição de seus títulos. É muito importante conhecer a realidade por trás desses disseminadores de desinformação, porém muitas vezes isso passa completamente batido em relação aos seus seguidores.

Algumas Doses Iniciais de Realidade Matemática e Histórica Sobre Essa Alegação

Conforme vocês puderam notar, os teóricos da conspiração adoram propagar que a velocidade da luz e as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são iguais. Porém, há falhas completamente grotescas em todas as narrativas já criadas até hoje. Vamos começar a desmistificar toda essa história a partir de agora.

A Velocidade da Luz

Até o início do período moderno, não se sabia se a luz viajava instantaneamente ou a uma velocidade finita muito rápida. A primeira discussão que se tem conhecimento sobre esse assunto foi na Antiga Grécia, quando o filósofo Empédocles (490 a 430 a.C.) foi o primeiro a propor uma teoria sobre a luz, e alegou que a mesma tinha uma velocidade finita. Ele alegou, que a luz era algo em movimento e, portanto, devia levar algum tempo para viajar, mas ele não fazia ideia qual era a velocidade da luz.

Até o início do período moderno, não se sabia se a luz viajava instantaneamente ou a uma velocidade finita muito rápida. A primeira discussão que se tem conhecimento sobre esse assunto foi na Antiga Grécia, quando o filósofo Empédocles (490 a 430 a.C.) foi o primeiro a propor uma teoria sobre a luz, e alegou que a mesma tinha uma velocidade finita.

As primeiras tentativas de medir a velocidade da luz, no entanto, ocorreram somente entre os anos de 1629 e 1667, porém foram inconclusivas. A primeira tentativa, que nos deu algum número sobre a velocidade da luz veio através do astrônomo dinamarquês Ole Rømer, em 1676, quando ele trabalhava no Observatório Real, em Paris. Ao cronometrar os eclipses de Io, uma das luas de Júpiter, Rømer estimou que a luz levaria cerca de 22 minutos para percorrer uma distância igual ao diâmetro da órbita da Terra ao redor do Sol. Isso dava uma velocidade de cerca de 220.000 km/s, cerca de 26% menor do que o valor atual. Desde então, outros valores foram sugeridos.

A primeira tentativa, que nos deu algum número sobre a velocidade da luz veio através do astrônomo dinamarquês Ole Rømer, em 1676, quando ele trabalhava no Observatório Real, em Paris. Ao cronometrar os eclipses de Io, uma das luas de Júpiter, Rømer estimou que a luz levaria cerca de 22 minutos para percorrer uma distância igual ao diâmetro da órbita da Terra ao redor do Sol. Isso dava uma velocidade de cerca de 220.000 km/s, cerca de 26% menor do que o valor atual

Na segunda metade do século XX, muito progresso foi feito para aumentar a precisão das medidas da velocidade da luz, primeiro por técnicas de ressonância de cavidades e, posteriormente, por técnicas de interferômetro a laser. Essas técnicas foram auxiliadas pelas novas e mais precisas definições do metro (unidade de medida de comprimento do Sistema Internacional de Unidades), e do segundo (unidade de medida de tempo no Sistema Internacional de Unidades). Em 1950, Louis Essen determinou a velocidade da luz como sendo 299.792,5 ± 1 km/s, usando ressonância de cavidade. Posteriormente, em 1955, Louis ajudou a criar o primeiro relógio atômico de césio do mundo.

Para finalizar, foi somente em 1983, durante a 17ª Conferência Geral sobre Pesos e Medidas, que a velocidade da luz no vácuo foi definida como 299.792.458 m/s ou aproximadamente 300.000 km/s, que por sua vez é o valor mais comum utilizado como referência.

Em 1950, Louis Essen determinou a velocidade como 299.792,5 ± 1 km/s, usando ressonância de cavidade. Posteriormente, em 1955, Louis (à direita) ajudou a criar o primeiro relógio atômico de césio do mundo, cujo equipamento aparece na foto acima.

Portanto, podemos chegar a algumas conclusões:

  • Os antigos egípcios, embora fossem ótimos matemáticos para sua época, não tinham conhecimento da velocidade da luz;
  • Não há nenhum papiro, documento ou qualquer inscrição, que tenha sido descoberta até hoje, que denote esse conhecimento por parte dos antigo egípcios;
  • Essa ideia existe apenas na mente daqueles, que vivem profissionalmente da mentira.

A Unidade de Medida de Comprimento Chamada “Metro”

Hoje em dia é muito comum as pessoas terem uma fita métrica, uma régua ou até mesmo uma trena em casa. Elas facilitam muito a medição de nossa altura, roupas, paredes e diversos objetos em centímetros e metros, mas você sabia que o metro não existia antes da Revolução Francesa? Naquela época, a existência de diferentes sistemas de medidas era uma das causas mais frequentes de litígios entre comerciantes, cidadãos e cobradores de impostos.

Com um país unificado, uma moeda única e um mercado nacional também unificado, havia um forte incentivo econômico para acabar com essa situação e padronizar um sistema de medidas. O problema constante não eram somente as diferentes unidades, mas, principalmente, os diferentes tamanhos das unidades. Ao invés de simplesmente padronizar o tamanho das unidades existentes, os líderes da Assembleia Nacional Constituinte Francesa decidiram que deveria ser adotado um sistema completamente novo.

Hoje em dia é muito comum as pessoas terem um fita métrica ou até mesmo uma trena em casa. Elas facilitam muito a medição de nossa altura, roupas, paredes e diversos objetos em centímetros e metros, mas você sabia que o metro não existia antes da Revolução Francesa? Naquela época, a existência de diferentes sistemas de medidas era uma das causas mais frequentes de litígios entre comerciantes, cidadãos e cobradores de impostos.

O Governo Francês fez um pedido à Academia Francesa de Ciências para que criasse um sistema de medidas baseadas em uma constante não arbitrária. Após esse pedido, um grupo de investigadores franceses, composto de físicos, astrônomos e agrimensores, deu início a essa tarefa, definindo assim uma nova unidade de comprimento, que conhecemos atualmente como “metro”. Em 30 de março de 1791, a Assembleia Nacional da França aceitou a proposta da Academia Francesa de Ciências de que a nova definição para o metro fosse igual a um décimo milionésimo (1/10.000.000) do comprimento da distância do Equador ao Polo Norte através do meridiano de Paris.

A única placa sobrevivente das 16 placas com a medida padrão do metro, em mármore, que foram instaladas em vias de grande movimento em Paris, entre fevereiro de 1796 e dezembro de 1797. Isso foi feito para que os comerciantes e moradores pudessem copiar livremente a medida e adotar oficialmente o metro.

Ao longo do tempo, assim como aconteceu a velocidade da luz, o metro foi redefinido várias vezes.  Em 1983, durante a 17ª Conferência Geral sobre Pesos e Medidas, o metro passou a ser definido como o comprimento do caminho percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 de segundo.

Portanto, podemos chegar a algumas conclusões:

  • Os antigos egípcios não tinham nenhum conhecimento sobre a unidade de medida de comprimento chamada “metro”;
  • O metro foi inventado somente após a Revolução Francesa, ou seja, no final do século XVIII;
  • Essa ideia existe apenas na mente daqueles, que vivem profissionalmente da mentira.

E qual era a unidade de medida utilizada no Antigo Egito?

Os antigos egípcios utilizavam uma unidade de medida chamada “cúbito real” (também conhecido como “côvado real”), que é a distância do cotovelo até a ponta do dedo médio (algo que, para os antigos egípcios, variava de 523.5 até 529.2 mm, ou seja, cerca de 50 cm). Evidentemente, o cúbito era uma medida aproximada, visto que dependia do porte do indivíduo (por isso a variação). Cada cúbito real era subdividido em 7 “palmos” de 4 “dígitos” (a largura dos dedos) cada, num total de 28 subdivisões.

O dígito também era subdividido. Em um “bastão de cúbito”, que nada mais era do que um bastão com a medida do cúbito e suas subdivisões (muitos deles foram encontrados em tumbas no Egito), o décimo quarto dígito era marcado em 16 partes iguais. O dígito seguinte era dividido em 15 partes iguais, e assim por diante, até o 28º dígito, que era dividido em duas partes iguais. Assim sendo, a medição poderia ser feita em frações de dígitos com qualquer denominador de 2 a 16. A menor divisão, 1/16 de um dígito, era igual a 1/448 de um cúbito real.

Fragmento do Cúbito Cerimonial de Osorkon II, localizado no Museu do Cairo

A precisão do bastão de cúbito é atestada pelas dimensões da Grande Pirâmide de Gizé; embora milhares de pessoas tenham sido empregadas na construção, seus lados não variam mais do que 0,05% do comprimento médio de 230,364 metros, o que sugere que as dimensões originais eram 440 por 440 cúbitos reais.

Bastão de cúbito real egípcio de Amenemope, localizado no Museu Egípcio de Torino, na Itália

Também havia, por exemplo, o seked (ou seqed). Um antigo termo egípcio, que descrevia a inclinação das faces triangulares de uma pirâmide, cujo sistema se baseava no cúbito real. As inclinações, portanto, eram expressas como o número de palmas e dígitos horizontais em relação a cada aumento de cúbito real. O exemplo mais famoso vem, novamente, da Grande Pirâmide de Gizé. Com base em pesquisas modernas, as inclinações das faces desse monumento tinham 5 1/2 palmos ou 5 palmos e 2 dígitos. Em termos modernos, isso seria equivalente a um declive de 1.27, um gradiente de 127%, e uma elevação de 51,84° horizontal (em nosso sistema de 360 graus, é claro).

Interessante, não é mesmo? Ainda mais, porque diversas civilizações antigas também utilizaram o cúbito, porém com definições diferentes. O cúbito romano tinha, por exemplo, a medida de 6 “palmos” (cerca de 444.5 mm em tempos modernos). De qualquer forma, os egípcios não usavam o metro como unidade de medida, até mesmo porque o metro sequer existia naquela época.

A Unidade de Medida de Tempo Chamada “Segundo”

Desde a pré-história, o homem busca realizar a contagem do tempo e, para isto, utiliza medidas. Ao longo de toda a história, as unidades criadas pelos povos para medir o tempo basearam-se em fenômenos celestes. Os antigos egípcios, por exemplo, subdividiam o dia (período claro) e a noite (período escuro) em períodos de doze horas cada um, ou seja, isso fazia com que a duração de uma hora variasse com a estação do ano. Contudo, eles não dividiam a hora em 60 minutos ou 3.600 segundos.

A divisão da hora em 60 minutos e do minuto em 60 segundos foi o resultado do sistema sexagesimal usado na antiga Babilônia, posteriormente utilizado no Egito. Curiosamente, no entanto, os babilônios não usavam a hora, mas usavam a hora-dupla (120 minutos), o minuto grau (4 minutos) e a cevada com duração de 3 1⁄3 de segundo, porém não subdividiam de maneira sexagesimal essas unidades menores de tempo.

Desde a pré-história, o homem busca realizar a contagem do tempo e, para isto, utiliza medidas. Ao longo de toda a história, as unidades criadas pelos povos para medir o tempo basearam-se em fenômenos celestes. Os antigos egípcios, por exemplo, subdividiam o dia (período claro) e a noite (período escuro) em períodos de doze horas cada um, ou seja, isso fazia com que a duração de uma hora variasse com a estação do ano. Contudo, eles não dividiam a hora em 60 minutos ou 3.600 segundos.

A precisão do segundo, tal como conhecemos atualmente, foi definido apenas na 13ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, em 1967. Assim sendo, o segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.  O Comitê Internacional de Pesos e Medidas, em 1997, afirmou que a definição do segundo refere-se ao átomo de césio, cuja temperatura termodinâmica seja igual a 0 K. Isso só foi possível, é claro, com o desenvolvimento de relógios atômicos, visto que se tornou mais fácil medir a duração da transição entre dois níveis de energia de um átomo ou molécula.

Os antigos egípcios não possuíam relógios atômicos, apenas solares e a clepsidra ou relógio de água, que foi um dos primeiros sistemas criados pelo homem para medir o tempo. Tratava-se de um dispositivo movido a água, que funcionava com o auxílio da força da gravidade, no mesmo princípio da ampulheta (aquela de areia). As primeiras clepsidras do Egito Antigo datam da época de 1600 a.C, e suas precisões eram da ordem de 5 a 10 minutos modernos.

Uma Pequena Aula de Geografia Sobre Paralelos, Meridianos, Latitudes e Longitudes

Antes de prosseguirmos é necessário uma pequena aula de Geografia. Isso porque é importante ter em mente, que as coordenadas geográficas baseiam-se em diversas linhas imaginárias horizontais e verticais traçadas sobre o globo terrestre:

  • os paralelos são linhas paralelas ao equador que circundam a Terra — a própria linha imaginária do equador é um paralelo;
  • os meridianos são linhas semicirculares, isto é, linhas de 180° que ligam os polos — eles vão do Polo Norte ao Polo Sul, e cruzam com os paralelos.

Cada meridiano possui o seu antimeridiano, isto é, um meridiano oposto que, junto com ele, forma uma circunferência. Todos os meridianos têm o mesmo tamanho. Convencionou-se que o meridiano de Greenwich, que passa pelos arredores da cidade de Londres, na Inglaterra, é o meridiano principal. A partir dos paralelos e meridianos, estabeleceram-se as coordenadas geográficas, que são medidas em graus, para localizar qualquer ponto da superfície terrestre.

A partir dos paralelos e meridianos, estabeleceram-se as coordenadas geográficas, que são medidas em graus, para localizar qualquer ponto da superfície terrestre.

Nos paralelos, o 0º corresponde ao equador. Ao norte do equador, os paralelos são medidos por valores crescentes até 90º (Polo Norte ou 90º N) e, ao sul, suas medidas são decrescentes até o limite de -90º (Polo Sul ou 90º S). Nos meridianos, o 0º corresponde ao meridiano de Greenwich. A leste de Greenwich, os meridianos são medidos por valores crescentes até 180º e, a oeste, suas medidas são decrescentes até o limite de -180º.

Assim sendo, chegamos na latitude e na longitude:

  • A  latitude é a distância de qualquer ponto da superfície terrestre em relação a Linha do Equador. Esta distância mede-se em graus, podendo variar entre 0º e 90º para Norte (N) ou para Sul (S);
  • A longitude é a distância de qualquer ponto da superfície terrestre em relação ao meridiano de Greenwich. Esta distância mede-se em graus, podendo variar entre 0º e 180º para Leste (E) ou para Oeste (W).

Diferentemente da latitude, que tem a linha do Equador como um marco inicial natural, não havia uma posição inicial natural para marcar a longitude. Portanto, um meridiano de referência tinha que ser escolhido. Isso foi definido por acordo internacional em 1884, sendo que o Meridiano de Greenwich, que havia sido estabelecido somente em 1851, enfrentou uma concorrência com a França (seria denominado “Meridiano de Paris”), Espanha, (seria denominado “Meridiano de Cádis”) e com Portugal, (seria denominado “Meridiano de Coimbra”), porém este acabou vencendo a disputa devido a forte influência que a Inglaterra possuía na época.

Diferentemente da latitude, que tem a linha do Equador como um marco inicial natural, não havia uma posição inicial natural para marcar a longitude. Portanto, um meridiano de referência tinha que ser escolhido. Isso foi definido por acordo internacional em 1884, sendo que o Meridiano de Greenwich (na foto podemos ver as longitudes referentes a algumas cidades do mundo), que havia sido estabelecido somente em 1851.

Resumindo? Não existia Meridiano de Greenwich antes de 1851, sendo que outras culturas adotaram outros meridianos para fazer seus cálculos. Por exemplo, o cientista grego Ptolomeu adaptou o das ilhas Afortunadas ou Ilhas Canárias, por estarem no limite ocidental dos países conhecidos naquele tempo; Luís XIII, rei de França, determinou por decreto aos geógrafos franceses de se referirem as longitudes ao meridiano da Ilha de Ferro, que é a mais ocidental daquele arquipélago; os holandeses adaptaram o do Pico de Tenerife; e até 1884, quase todas as nações adaptaram os meridianos de seus respectivos observatórios, ou seja, cada um fazia o que queria.

Verdade ou Mentira? As Coordenadas Geográficas da Grande Pirâmide de Gizé e a Tentativa Forçada de Relacioná-la a Velocidade da Luz

Tendo tudo isso em mente, vamos as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé, segundo o site GeoHack: 29° 58′ 45.03″ N, 31° 8′ 3.69″ E (no formato DMS, ou seja, grau, minuto e segundo) ou 29.979175, 31.134358 (no formato decimal). A primeira sequência de números é referente a latitude, já a segunda é referente a longitude.

As coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé, segundo o site GeoHack: 29° 58′ 45.03″ N, 31° 8′ 3.69″ E (no formato DMS, ou seja, grau, minuto e segundo) ou 29.979175, 31.134358 (no formato decimal). A primeira sequência de números é referente a latitude, já a segunda é referente a longitude.

Conforme vocês podem perceber, os valores da latitude são ligeiramente diferentes daqueles apresentados no Daily Star (29.979.2458). Porém, podemos adaptar isso, de forma deliberada, e colocar na latitude a sequência numérica referente a velocidade da luz, em metros por segundos, no vácuo: 29.9792458, 31.134358. Eis o resultado:

Conforme vocês podem perceber, os valores da latitude são ligeiramente diferentes daqueles apresentados no Daily Star (29.979.2458). Porém, podemos adaptar isso, de forma deliberada, e colocar na latitude a sequência numérica referente a velocidade da luz, em metros por segundos, no vácuo: 29.9792458, 31.134358

Repararam, que não variou muita coisa? Isso acontece por um motivo bem simples. As coordenadas geográficas, quando usadas no formato decimal são comumente expressadas até a quarta casa decimal. Basta digitar no Google “pyramid giza coordinates“, e iremos obter o seguinte resultado: “29.9792° N, 31.1342° E”. Isso acontece porque, após a quarta casa decimal, a distância varia apenas alguns poucos metros ou milímetros, então é praticamente redundante.

As coordenadas geográficas, quando usadas no formato decimal são comumente expressadas até a quarta casa decimal. Basta digitar no Google “pyramid giza coordinates”, e iremos obter o seguinte resultado: 29.9792° N, 31.1342° E . Isso acontece porque, após a quarta casa decimal, a distância varia apenas alguns poucos metros ou milímetros.

Assim sendo, poderíamos pegar o valor de 29.9792 e acrescentar quaisquer sequências numéricas que quiséssemos após a quarta casa (entre 001 e 999), que não faria praticamente a menor diferença. Porém, os teóricos da conspiração tentam forçar essa conexão com a sequência numérica da velocidade da luz. Curiosamente, no entanto, eles comparam apenas a latitude, desprezando completamente a longitude, porque obviamente não conseguem encaixar seus valores em nenhuma narrativa. Se invertêssemos os valores, iríamos parar no meio do nada, em uma espécie de campo na cidade de Alexandria, no Egito. Além disso, se mantivéssemos esse valor na latitude, poderíamos escolher qualquer valor entre 180 e -180 em termos de longitude, e isso resultaria em outras localidades bem diferentes da Grande Pirâmide de Gizé, e que também não teriam nenhuma conexão com a velocidade da luz.

Entendam, que a velocidade da luz é um número inteiro. Uma latitude de 299.792.458 não seria um grau válido, então temos que colocar deliberadamente um decimal no lugar certo para que isso faça algum sentido. Isso resulta em duas opções, com uma variação possível cada uma: 2.99792458 (também podendo ser -2.99792458), e 29.9792458 (também podendo ser -29.9792458). Diante das opções existentes apenas uma serve para a narrativa dos teóricos da conspiração.

De qualquer forma, os egípcios não tinham conhecimento sobre coordenadas globais, e muito menos ao sistema utilizado atualmente, que foi adotado somente a partir de 1884. Se eles tivessem algum conhecimento desse tipo, e criassem uma espécie de meridiano, obviamente não escolheriam o de Greenwich ou de Paris, porque ambas localidades sequer existiam naquela época. Provavelmente, escolheriam a capital Tinis ou posteriormente Mênfis. Isso resultaria em valores completamente diferentes dos atuais.

A esfinge do alabastro de Amun-Ofis II, em Mênfis, capital do Antigo Egito

Uma boa parte dos teóricos da conspiração sabe da fragilidade dessa tentativa de conexão. Então, eles tentam adicionar novos elementos na narrativa, que possam desviar a atenção e dar um certo ar misterioso e místico ao que propõe. Por exemplo, algumas pessoas alegam, que os valores da latitude coincidem exatamente com o topo da Grande Pirâmide. Já outras alegam, que coincidem exatamente sobre uma estrutura interna chamada Câmara da Rainha. E. outras dizem que não, que os valores coincidem sobre a Câmara do Rei. Porém, nenhuma das alegações é verdadeira.

Se clicarmos no topo da Grande Pirâmide, essas serão as coordenadas geográficas: 29.979752, 31.134644. Essa latitude é bem diferente daquela sequência de números, que compõe a velocidade da luz, não é mesmo?

Se clicarmos no topo da Grande Pirâmide, essas serão as coordenadas geográficas: 29.979752, 31.134644. Essa latitude é bem diferente daquela sequência de números, que compõe a velocidade da luz, não é mesmo?

Além disso, uma vez que a Câmara da Rainha está praticamente alinhada com o topo da Grande Pirâmide, a latitude de 29.9792458 não passa por ela. A melhor opção talvez fosse a Câmara do Rei, porém aqui temos um pequeno problema, visto que a localização geográfica dela se dá juntamente com a longitude, cuja referência é o meridiano de Greenwich, que não existia na época do Antigo Egito. Além disso, teríamos que escolher um ponto de forma arbitrária, que fosse mais próximo da Câmara do Rei, ou seja, uma decisão consciente de alguém, que está tentando forçar uma conexão, que não existe com a velocidade da luz.

Portanto, diante de tudo o que mencionamos anteriormente, é completamente errado dizer que as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide são iguais a velocidade da luz. No máximo, poderíamos dizer apenas, que é uma mera coincidência a existência dos mesmos números, que compõe a velocidade da luz, em metros por segundo, no vácuo, em relação ao formato decimal de uma das inúmeras possíveis latitudes da Grande Pirâmide de Gizé. Porém, dizer algo assim para as pessoas, sem ser de forma alarmista, não dá acesso. Então, quem propaga esse tipo de coisa, sempre evita comentar sobre tudo isso, que acabamos de informar a vocês.

Conclusão

A alegação de que as coordenadas geográficas da Grande Pirâmide de Gizé são exatamente iguais a velocidade da luz é totalmente arbitrária, ou seja, depende da escolha feita por uma determinada pessoa, que precisa usar uma série de parâmetros e medidas inexistentes no Antigo Egito, e organizá-los de uma maneira muito específica, não natural, para forçar tal conexão. Além disso, se não houvesse o metro, o segundo, o sistema de coordenadas sexagesimais, e a definição do meridiano de Greenwich como meridiano principal, tudo isso seria bem diferente.

Quanto a alegação de que seres alienígenas do futuro voltaram no tempo para criar ou ajudar a criar as pirâmides do Egito, bem, me desculpe aqueles que acreditam nisso, mas não faz o menor sentido. Afinal de contas, por que seres avançados tecnologicamente voltariam no tempo para empilhar pedras usando uma mão de obra de dezenas de milhares de pessoas ao longo de décadas? E quanto as ferramentas modernas de corte e as estruturas de transporte? A eletricidade? Os motores elétricos? Todas as inovações tecnológicas e descobertas feitas até hoje não serviriam para nada? Além disso, porque os seres extraterrestre mediriam a velocidade da luz usando o metro, uma unidade inventada na França, tipicamente criada através de parâmetros terrestres? Enfim, é impressionante a quantidade de pessoas, que acreditam em tais alegações e sequer refletem sobre aquilo que é despejado diariamente na internet.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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