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Leões comeram um caçador vivo após ele matar três famílias de babuínos?

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Leões comeram um caçador vivo após ele matar três famílias de babuínos?

Leões comeram um caçador vivo após ele matar três famílias de babuínos?

Desde meados de março de 2019, uma estranha história começou a circular nas redes sociais. Basicamente foi relatado, que um grupo de leões comeram um caçador vivo após ele matar três famílias de babuínos. O incidente teria ocorrido recentemente na Reserva Natural de Ingwelala, na África do Sul.

Sem dúvida alguma, soava ser mais uma daquelas histórias que costumam circular nas redes sociais e, quase sempre, a torcida fica a favor do predador. Contudo, será que essa história é realmente verdadeira? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Como Toda essa História Começou?

No dia 17 de março de 2019, o site “Nature is Metal” publicou uma notícia intitulada “Trophy Hunter Eaten Alive By Lions After He Murdered 3 Baboon Families” (“Leões comeram um caçador vivo após ele matar três famílias de babuínos”, em português). O texto dizia, que o clima na Reserva Natural de Ingwelala havia sido abalado, devido aos gritos de um homem atacado por um grupo de leões. Ao chegarem no local, funcionários da reserva teriam encontrado o corpo do homem praticamente devorado, exceto a cabeça.

O texto dizia, que o clima na Reserva Natural de Ingwelala havia sido abalado, devido aos gritos de um homem atacado por um grupo de leões. Ao chegarem no local, funcionários da reserva teriam encontrado o corpo do homem praticamente devorado, exceto a cabeça.

A polícia inicialmente acreditou, que a vítima era um motorista de trator que trabalhava na reserva. Mais tarde, quando o motorista apareceu vivo, novas suspeitas surgiram. Quando um rifle de caça foi recuperado perto dos restos mortais, os funcionários passaram a acreditar que se tratava de um caçador. Ainda segundo o texto, o tal caçador não merecia misericórdia, porque havia matado três famílias de babuínos. Ele teria espalhado os corpos de modo a atrair e distrair os leões para facilitar a caça.

Problemas em Potencial e a Disseminação da Notícia nas Redes Sociais

Apesar do apelo emocional, todo o texto possuía inúmeros problemas em potencial (“red flags“):

  • Quando o incidente aconteceu? Os únicos indicativos de tempo são a data da publicação e uma inserção (“Breaking News“) numa das fotos sugerindo que teria ocorrido recentemente;
  • O caçador não foi identificado? Houve alguma declaração dos responsáveis pela reserva? E da polícia? Enfim, nada disso foi mencionado.

Ignorando tudo isso, e sem qualquer verificação prévia, contas no Twitter, a exemplo da “Campaign to Ban Trophy Hunting” deram voz a essa notícia e a republicaram.

Ignorando tudo isso, e sem qualquer verificação prévia, contas no Twitter, a exemplo da “Campaign to Ban Trophy Hunting” deram voz a essa notícia e a republicaram.

O tuíte da “Campaign to Ban Trophy Hunting”, por exemplo, obteve mais de 8.500 retuítes e 37 mil curtidas.

Verdadeiro ou Falso?

Parcialmente falso! Um grupo de leões, na África do Sul, realmente matou um suspeito de estar caçando ilegalmente dentro da Reserva Natural de Ingwelala. Os leões devoraram a maior parte do corpo masculino, dificultando a identificação da pessoa. Funcionários localizaram o cadáver do homem junto com um rifle de caça e munição de grosso calibre. No entanto, o incidente ocorreu no início de fevereiro de 2018, não em março de 2019, conforme sugerido pelo site “Nature Is Metal”. Além disso, o homem morto pelo grupo de leões não matou nenhuma família de babuínos antes do incidente.

Alguns dias depois, segundo o porta-voz da polícia provincial, o tenente-coronel Moatshe Ngoep, o homem foi identificado como sendo “David Baloyi”, 50 anos. Ele estava na companhia de outros dois suspeitos de estarem caçando ilegalmente. Os outros dois homens conseguiram escapar do ataque dos leões, e fugiram para Moçambique, onde eles contaram à família de David o que havia acontecido. A cunhada de David entrou em contato com a polícia, na África do Sul, e posteriormente acabou reconhecendo o corpo.

E as Fotos que Foram Publicadas?

O homem que aparece na foto segurando a cabeça de um babuíno chama-se Joe Rogoff. Até onde sabemos, ele continua bem vivo. Aliás, a foto em questão foi publicada em maio de 2017, no site do “Blaauwkrantz Safaris”, e não possui nenhuma relação com o incidente. Já as fotos em que aparecem leões e locais aparentemente destruídos são aleatórias.

O homem que aparece na foto segurando a cabeça de um babuíno chama-se Joe Rogoff. Até onde sabemos, ele continua bem vivo.

Houve também uma outra “foto”, que foi disseminada nas redes sociais. Confira a mesma abaixo:

Outra foto supostamente relacionada ao incidente, que foi divulgada nas redes sociais.

Entretanto, essa outra “foto”, na verdade, é apenas uma cena de um filme norte-americano chamado “Roar”, de 1981, mas que foi relançado em diversos cinemas independentes em 2015. Confira o trailer desse filme, logo abaixo (a cena acontece em 0:40):

Uma Rede de Disseminação de Notícias Falsas?

Em dezembro de 2018, o site “Natural is Metal” já havia publicado praticamente o mesmo texto e as mesmas fotos, porém em um contexto ligeiramente diferente. Na época, o site alegava que um caçador havia morrido nessa mesma reserva, porém após ter matado um filhote de leão!

O mais grave, no entanto, é que tudo indica que o site pertence a uma rede de disseminação de notícias falsas! O motivo? Em julho de 2018, dois outros sites chamados “Southland Post” e “Voyager Channel” também divulgaram essa outra versão. Os sites são praticamente idênticos ao “Natural is Metal” e, para completar, o email de contato de todos os três sites é o mesmo. Portanto, aparentemente, tudo indica que sejam operados pela mesma pessoa.

Conclusão

Apesar de um suposto caçador ter sido devorado por leões dentro da Reserva Natural de Ingwelala, na África do Sul, em fevereiro de 2018, ele não morreu após ter matado três famílias de babuínos. Além disso, as fotos divulgadas no site “Natural is Metal” não são relacionadas ao incidente. Como exemplo, o homem que aparece segurando a cabeça de um babuíno chama-se Joe Rogoff. Até onde sabemos, Joe continua vivo, e não teve qualquer relação com o incidente ocorrido no ano passado.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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