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Faixas de protesto contendo erros ortográficos são verdadeiras ou falsas?

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Faixas de protesto contendo erros ortográficos são verdadeiras ou falsas?

Faixas de protesto contendo erros ortográficos são verdadeiras ou falsas?

Diversas fotos de faixas de protesto contendo erros ortográficos vêm circulando nas redes sociais desde a primeira quinzena de maio de 2019. Na absoluta maioria dos casos, elas vêm sendo divulgadas como se alunos ou professores tivessem usado tais faixas recentemente, na série de manifestações ocorridas pelo Brasil contra o contingenciamento de verbas para a educação, no dia 15 de maio de 2019.

Assim sendo, iremos analisar três fotos que ganharam uma maior repercussão entre os usuários. Será que as faixas são verdadeiras ou possuem algum tipo de manipulação digital? Será que elas foram usadas durante os recentes protestos? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

1 – Faixa de Protesto Contendo “Almentar” no Lugar da Palavra “Aumentar”

Nas manifestações ocorridas em 15 de maio de 2019, um determinado usuário publicou a foto de uma faixa de protesto. Essa faixa tinha um erro ortográfico bem visível, visto que a palavra “aumentar” tinha sido escrita com a letra “L” em vez de “U”. A publicação já foi compartilhada mais de 24 mil vezes no Facebook!

Somente em uma das publicações, no Facebook, essa imagem já foi compartilhada mais de 24 mil vezes. Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

No entanto, será que a faixa é verdadeira? Ela foi utilizada nas recentes manifestações?

Verdadeiro ou Falso?

A faixa que aparece na foto é verdadeira, não há manipulação digital! Porém, não foi utilizada recentemente.

Segundo uma notícia publicada pelo “G1” (arquivo), essa foto foi tirada pelo jornalista Guido Nunes, na época pertencente ao site de notícias “Gazeta Online”, no dia 23 de março de 2009! Na legenda da foto é mencionado, que se trata de uma manifestação de estudantes do ensino médio da rede estadual de Vila Velha/ES! Eles estavam protestando contra a ampliação da carga horária nas aulas e da infraestrutura das escolas.

Somente em uma das publicações, no Facebook, essa imagem já foi compartilhada mais de 24 mil vezes. Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

É interessante notar, que “aumentar” com a letra “L” não foi o único erro cometido. Temos outros pontos igualmente problemáticos. Entre eles podemos citar:

  • A palavra “horária” foi escrita sem o acento agudo no primeiro “a”;
  • O “porque”, junto e sem acento, é uma conjunção que indica causa, motivo, justificativa ou explicação. Os professores recomendam substituir por “pois”, para verificar se dá certo na frase. É geralmente utilizado em respostas, embora possa ser encontrado no meio de perguntas. Ex: “Será que ela está chateada comigo porque eu não apareci no encontro?” Ao começar perguntas, no entanto, o correto seria utilizar “Por que”, separado e sem acento.

Voltando no tempo através do recurso “Wayback Machine”, encontramos o artigo original no site da “Gazeta Online”. Embora as imagens estejam corrompidas, é possível notar os comentários citando os erros que aparecem na faixa. No texto, inclusive, é mencionado que um dos alunos percebeu o deslize no momento em que a reportagem registrava a manifestação, mas já era tarde demais para realizar alterações.

2 – Faixa de Protesto Contendo “Sulcateamento” no Lugar da Palavra “Sucateamento”

Milhares de usuários compartilharam uma outra foto de faixa de protesto. Dessa vez, o erro ortográfico estava na palavra “sucateamento”, que acabou ganhando mais uma letra e surgiu como “sulcateamento”. É bom deixar claro, que algumas publicações não citam explicitamente que a foto foi tirada no dia 15 de maio, porém diante da data e da magnitude das manifestações, elas acabam sugerindo ou induzindo as pessoas a acreditarem nisso. Assim sendo, as pessoas simplesmente compartilham e colaboram com a viralização por mero viés de confirmação.

Eis um claro exemplo disso:

Publicação de uma usuária no Twitter.

No entanto, será que a faixa é verdadeira? Ela foi utilizada nas recentes manifestações?

Verdadeiro ou Falso?

A faixa que aparece na foto é verdadeira, não há manipulação digital! Porém, não foi utilizada recentemente.

Segundo o site de notícias “Patos Online” (arquivo), a foto foi tirada no dia 18 de outubro de 2018! Ela retrata uma mobilização estudantil, que reivindicava uma melhor infraestrutura das escolas da cidade de Patos/PB, para oferecer mais conforto aos estudantes. Os representantes da Escola Estadual Monsenhor Manuel Vieira, o CEPA, por exemplo, cobravam a instalação do sistema de ar-condicionado nas salas de aula, melhorias no refeitório, ampliação dos banheiros e valorização dos professores e funcionários.

Segundo o site de notícias “Patos Online” (arquivo), a foto foi tirada no dia 18 de outubro de 2018! Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

A mobilização foi encabeçada pela Associação Paraibana dos Estudantes Secundaristas (APES) e contou com o apoio do Grêmio 28 de Março, tendo a participação também dos estudantes da Escola Estadual Monsenhor Manuel Vieira (CEPA), da Escola Estadual José Gomes Alves (Bairro Jatobá), Escola Estadual Coriolano de Medeiros (Bairro Santo Antônio) e da Escola Estadual Rio Branco (Centro).

Confira outras fotos tiradas nesse dia e dessa mesma faixa:

Outra foto mostrando o erro ortográfico contido na faixa. Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

Mais uma foto mostrando o erro ortográfico contido na faixa. Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

3 – Faixa de Protesto Contendo “Exijimos” no Lugar da Palavra “Exigimos”

Um membro de nosso grupo no Facebook questionou a veracidade de uma determinada faixa de protesto. Na faixa era possível notar um erro de ortografia, na qual a palavra “exigimos” foi escrita com “j” em vez de “g”. O erro na escrita de exigir ocorre, porque as consoantes “g” e “j” apresentam o mesmo som antes da vogal “i”: “gi” tem a mesma pronúncia que “ji”.

Como exigir tem sua origem na palavra em latim exigere, deve ser escrito com “g” e não com “j”. Também com “g” deverão ser escritas todas as palavras cognatas de “exigir”. Apenas algumas formas do verbo exigir são conjugadas com “j”. Essa troca ocorre antes da vogal “a” e da vogal “o”, para manutenção da pronúncia.

Publicação em nosso grupo no Facebook.

Apesar do usuário ter ciência que a foto é antiga, ela acabou sendo amplamente compartilhada, no Twitter e no Facebook, por outros usuários durante as manifestações ocorridas no dia 15 de maio. Entretanto, será que a foto é verdadeira? Será que ela é realmente antiga?

Verdadeiro ou Falso?

A faixa que aparece na foto é verdadeira, não há manipulação digital! Porém, conforme o usuário havia mencionado, a imagem é antiga, data de 9 de junho de 2014! Naquele dia, durante o período da manhã, o Sindicato dos Profissionais da Educação Municipal de São Luís (SINDEDUCAÇÃO), no Maranhão, realizou uma manifestação que interditou a Avenida Beira-Mar e interrompeu o tráfego de ônibus no Terminal de Integração da Praia.

O motivo? Segundo o “Portal G1”, os educadores estavam em greve desde o dia 22 de maio. Eles reivindicavam a valorização dos profissionais do magistério público; a reestruturação/reforma das escolas e construção de novas unidades de ensino; realização de concurso público; reestruturação da jornada de trabalho; maior celeridade nos processos de aposentadoria; implantação imediata dos direitos estatutários, com pagamento dos retroativos; reajuste dos vencimentos do magistério na base de 20%. A greve acabou apenas no dia 4 de setembro daquele ano.

Essa foto acabou sendo tirada por uma pessoa que passava pelo local da manifestação e foi publicada em diversos sites e blogs locais. Entre eles podemos citar o “Blog do Hugo Freitas” e o “Blog Gilberto Leda“.

Divulgação do caso no “Blog Hugo de Freitas”.

É interessante destacar, que fizemos uma análise independente da melhor cópia que conseguimos encontrar dessa imagem utilizando ferramentas de verificação disponíveis na internet (incluindo o FotoForensics/ELA e o Reveal). Conforme mencionamos anteriormente, não há nada indicando que se trata de uma manipulação digital.

Outra Faixa Problemática?

Curiosamente, naquele mesmo dia, houve a publicação de uma outra faixa de protesto problemática, pelo próprio “SINDEDUCAÇÃO”, em sua página no Facebook. Confira abaixo:

Captura de tela mostrando uma foto publicada pelo próprio “SINDEDUCAÇÃO”, em sua página no Facebook, no dia 9 de junho de 2014. Notem que está faltando um “S” em “REPASSADO”, visto que a concordância está sendo feita com R$ 134 milhões, que é plural.

Enfim, ambas as faixas também são compatíveis com o modelo utilizado pelo “SINDEDUCAÇÃO” naquela época.

Alunos em apoio aos professores da rede municipal de São Luís durante protesto promovido pelo SINDEDUCAÇÃO em frente a UFMA em agosto de 2014. Aplicamos um filtro no rosto dos estudantes, uma vez que muitos eram menores de idade.

Entramos em contato com o “SINDEDUCAÇÃO” para comentar sobre as faixas, porém até o momento não recebemos quaisquer respostas.

Algumas Observações Finais Importantes

Conforme mencionei em um artigo anterior, no caso de faixas impressas contendo erros ortográficos (ou pintadas a mão por alguém, assim como no primeiro caso) é até possível que algumas sejam frutos de erro da gráfica responsável pelo material. Infelizmente, isso é algo comum. Por outro lado, a utilização de material incorreto em protestos também abre margens para críticas. Sendo um protesto a favor da educação, não soa muito sensato utilizar tais faixas contendo erros, caso eles, é claro, realmente tenham sido previamente notados. De qualquer forma, não reparar no erro ou utilizar o material sabendo que está incorreto não serve de justificativa.

Diante do número de manifestações que ocorrem no país e da quantidade de faixas que circulam durante os protestos, tais casos soam, em princípio, pontuais e não deveriam servir como base de avaliação do nível de conhecimento de estudantes ou professores. Isso é feito através de provas de avaliação, ou seja, com critérios técnicos.

Conclusão

As três faixas são verdadeiras! Entretanto, elas não foram utilizadas nos recentes protestos, contra o contingenciamento de verbas da educação, ocorridos durante a primeira quinzena de maio de 2019.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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