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Casal acusado de assassinar brutalmente o pequeno Rhuan é militante do PT?

Crimes

Casal acusado de assassinar brutalmente o pequeno Rhuan é militante do PT?

Casal acusado de assassinar brutalmente o pequeno Rhuan é militante do PT?

Desde o dia 31 de maio de 2019, data marcada pelo brutal assassinato do pequeno Rhuan, crime este cometido pela própria mãe e sua companheira, diversas informações vêm sendo veiculadas e atreladas as assassinas.

Cerca de 11 dias após o crime, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu a investigação e divulgou maiores detalhes sobre a dinâmica dos fatos, os meios e requinte de crueldade empregados pela mãe (Rosana Auri da Silva Cândido, 27 anos) e a companheira dela (Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28 anos), que resultaram na morte da criança.

Rosana Cândido (à direita) e sua companheira Kacyla Priscyla (à esquerda).

Rhuan estava dormindo quando recebeu a primeira facada no peito e, em seguida, outras onze foram desferidas enquanto estava de joelhos, ao lado da cama. Como se isso não bastasse, ele teve sua cabeça arrancada, ainda com os sinais vitais presentes. Rosana também chegou a arrancar toda a pele do rosto de Rhuan para ele não fosse identificado. Seu corpo, em pedaços, foi distribuído em duas mochilas infantis, sendo uma delas jogada num bueiro.

Segundo o investigador Carlos André, da PCDF, os crimes teriam sido motivados por um fanatismo religioso exacerbado e um profundo ódio pela criança, pois representava o passado afetivo da mãe e era considerada um “peso” na vida homoafetiva das envolvidas. Para maiores informações clique aqui e aqui.

Militantes Petistas?

Antes disso, no entanto, começaram a circular informações de que Rosana e Kacyla eram militantes do Partido dos Trabalhadores (PT). Surgiram diversas publicações nas redes sociais com fotos relacionando-as ao PT. Somente uma única postagem realizada no Facebook, no dia 2 de junho, obteve cerca de 4,5 mil compartilhamentos!

Publicação no Facebook.

Um usuário do nosso grupo, no Facebook, inclusive, chegou a nos questionar se essa informação realmente procedia. Assim sendo, resolvemos verificar!

Será que essa história é verdadeira? As assassinas de Rhuan estão realmente segurando uma bandeira alusiva ao PT? Elas eram militantes petistas? Qual o contexto por trás da foto? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Verdadeiro ou Falso?

A foto é verdadeira! Rosana e Kacyla são as duas mulheres que aparecem segurando uma bandeira alusiva ao PT, quando ambas ainda moravam em Rio Branco, no Acre. Essa e outras fotos foram originalmente publicadas na conta de Kacyla, no Facebook, no dia 16 de outubro de 2014. Elas foram tiradas em um evento de campanha de Tião Viana (PT), então candidato ao governo do estado, naquele mesmo dia.

No dia 26 de outubro, Tião acabou sendo reeleito no segundo turno com cerca de 51,29% dos votos válidos.

A foto foi tirada em 16 de outubro de 2014, quando ambas ainda moravam em Rio Branco, no Acre.

Confira abaixo algumas das fotos que foram publicadas:

Foto de Kacyla Priscyla segurando uma bandeira alusiva a candidatura de Tião Viana.

Foto de Rosana Cândido segurando uma bandeira alusiva a candidatura de Tião Viana.

Foto de Kacyla e Rosana juntas.

E a Questão da Militância?

No perfil público de Kacyla, no Facebook, esse é o único evento político que ela publicou fotos desde 2011. Nesse sentido, é importante destacar que quase todas as suas publicações, até 2014, foram predominantemente de caráter religioso, frases de autoajuda ou dedicadas a sua filha pequena, a L.G.

Ainda em termos de política, encontramos apenas uma outra publicação, onde Kacyla lamentou a morte de Eduardo Campos, então candidato à Presidência da República nas eleições presidenciais de 2014, que foi vítima de um acidente aéreo em agosto daquele ano.

Kacyla chegou a lamentar a morte de Eduardo Campos.

O perfil público de Rosana também segue essa mesma linha de publicações! São predominantemente de caráter religioso, frases de autoajuda ou dedicadas ao Rhuan. Não encontramos nenhuma publicação que estivesse relacionada a eventos políticos, comícios, passeatas etc..

Rosana publicava, predominantemente, mensagens religiosas, frases de autoajuda ou dedicadas ao seu filho, o Rhuan.

Não há Publicações Após 2014

Rosana teve o Rhuan com 18 anos de idade. Com dois anos de relacionamento, ela e o pai de Rhuan se separaram, porque ele descobriu que ela mantinha um relacionamento com Kacyla. Já Kacyla ficou grávida de L.G. após um namoro de oito meses com um determinado rapaz. Eles ficaram juntos por quatro anos após o nascimento da menina. Após isso, ela se separou dele para engatar um relacionamento com Rosana. As duas teriam se conhecido em uma igreja evangélica.

Ambas perderam as guardas das crianças para os respectivos pais. A família do pai de Rhuan também havia conseguido, na Justiça, que o menino recebesse tratamento especial na escola, já que ele apresentava sinais de autismo e tinha histórico de dificuldade na fala e no desenvolvimento motor. Contudo, Rosana e Kacyla fugiram com os filhos, em 2014. Bem antes de se estabelecer em Samambaia, uma região administrativa do Distrito Federal, ambas passaram por diversos estados.

Antes de chegarem em Samambaia, uma região administrativa do Distrito Federal, ambas passaram por diversos estados.

Neste meio tempo, as famílias dos pais seguiam procurando as duas crianças. Ao menor indício de que haviam encontrado Rosana e Kacyla, as duas fugiam novamente.

Durante nossa pesquisa, nos deparamos com o nome de Rosana, que chegou a ser incluído na lista de novos beneficiários do Programa Bolsa Família, em abril de 2016, durante a passagem do casal por Maceió, no Estado de Alagoas. Ao fazermos uma consulta pública recente, no entanto, não obtivemos nenhum resultado.

O nome de Rosana apareceu em uma lista de novos beneficiários do Bolsa Família, em abril de 2016.

Enfim, a fuga de ambas é a razão pela qual os perfis “congelaram no tempo”, não havendo publicações além de 2014. Isso não quer dizer, é claro, que ambas não fossem politicamente ativas.

Ambas eram* Filiadas ao Partido Comunista do Brasil (PC do B)

Tanto Rosana quanto Kacyla eram* filiadas ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). Isso podia* ser facilmente comprovado a partir da lista atualizada de filiados disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao consultarmos a relação de filiados do PC do B, no Acre, rapidamente encontravámos* o registro de ambas:

Tanto Rosana quanto Kacyla são filiadas ao Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Ambas as filiações constavam* como regulares. Kacyla havia se filiado* no dia 28 de agosto de 2014 (o processamento ocorreu em 13 de abril de 2019).  Já Rosana havia se filiado* no dia 26 de janeiro de 2015 (o processamento ocorreu em 18 de abril de 2017).

*Atualização #1 (20/06 às 19h):

Estranhamente, o nome de Rosana e Kacyla não constam mais como filiadas do PC do B. O registro de ambas simplesmente desapareceu da lista disponibilizada pelo TSE, que foi acessada por nós na madrugada da última terça-feira (18). Para confirmar isso, geramos duas certidões e ambas mostram que elas não pertencem a mais nenhum partido político. Assim sendo, atualizamos o tempo verbal desse subtítulo para se adequar a essa nova condição.

A Exploração Política de um Assassinato Brutal

Infelizmente, algumas pessoas atribuem estereótipos, de maneira tresloucada, diante de casos assim. Deixam de julgar as pessoas pelo caráter delas,  pela honestidade, pelo compromisso social e bem-estar daqueles ao seu redor, e passam a julgar, genericamente, por suas preferências políticas. Como se pertencer ou estar mais alinhado a um partido político não fosse mais apenas um mero “defeito moral”, mas a sinalização de um futuro ato criminoso. Isso é muito perigoso, porque acaba “cegando” completamente as pessoas.

Da mesma forma, o fato de alguém ter votado em “A” ou “B”, não deveria ser considerado como premissa e nem prefácio de quaisquer assassinatos. Portanto, dizer que somente pelo fato de estar filiado a um determinado partido político definiria uma eventual sociopatia é impreciso e de certa forma questionável. E isso vale para ambos os lados. É compreensível que haja todo um embate ideológico, devido as mais diferentes visões diferentes de mundo, mas não podemos pré-imputar crimes a outras pessoas que nada fizeram, exceto evocar o direito à liberdade de pensamento e expressão. Tenham cautela em fazer acusações com base apenas num mero viés de confirmação.

Conclusão

A foto é verdadeira! Rosana e Kacyla são as duas mulheres que aparecem segurando uma bandeira alusiva ao PT, quando ambas ainda moravam em Rio Branco, no Acre. Essa e outras fotos foram originalmente publicadas na conta de Kacyla, no Facebook, no dia 16 de outubro de 2014.  Elas foram tiradas em um evento de campanha de Tião Viana (PT), então candidato ao governo do estado, naquele mesmo dia.

Em termos de militância, não temos dados suficientes para estimar o quão engajadas ou politicamente ativas elas eram em relação ao PT, visto que temos apenas fotos relativas a um único evento de campanha ao governo do Acre. Por outro lado, ambas eram* filiadas ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). Kacyla havia se filiado* no dia 28 de agosto de 2014.  Já Rosana havia se filiado* alguns meses depois, em 26 de janeiro de 2015. Seus respectivos registros constavam como regulares até a madrugada do dia 18 de junho de 2019. No dia 20 de junho, o registro de ambas estranhamente desapareceu da lista disponibilizada pelo TSE.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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