Jumentos estão sendo apreendidos nas BRs e recebendo lacres luminosos para evitar acidentes?
No dia 19 de junho de 2019, uma página chamada “Notícias no Face“, no Facebook, divulgou uma curiosa informação. Segundo a página, jumentos apreendidos nas rodovias federais (BRs) estariam recebendo “lacres de iluminação noturna” para evitar acidentes. Essa informação viralizou e já foi compartilhada mais de 1,7 mil vezes!
Aliás, também fomos questionados sobre isso em nosso grupo, no Facebook.
Entretanto, será que essa história é verdadeira? Jumentos estariam sendo apreendidos e recebendo algum tipo de adorno reflexivo para evitar acidentes? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!
Verdadeiro ou Falso?
Tanto a história quanto as fotos são referentes a uma ideia divulgada por um deputado estadual de Pernambuco, porém no último trimestre de 2017. Além disso, a ideia era limitada a municípios do Sertão de Pernambuco, e os jumentos “sinalizados” não eram apreendidos naquela ocasião. Desde então, não houve mais notícias sobre a implementação dessa ideia. Atualmente, não encontramos nenhuma medida em vigor para a sinalização de muares, asininos ou equinos, em escala nacional.
Portanto, é falsa a alegação da página “Notícias no Face” – destinada a “divulgação de acontecimentos policiais do Estado do Rio Grande do Norte” – uma vez que pressupõe tratar de uma situação atual e não especifica onde tal medida está ocorrendo.
A Criação de um Parque Ecológico
Em 2013, o então deputado estadual Odacy Amorim (PT), de Pernambuco, criou o “Parque Ecológico de Proteção ao Jumento”, um local estruturado e amplo, na região de Rajada, distrito de Petrolina. Ele teria investido cerca de R$ 250 mil na implantação do Parque Ecológico, em parceria com o “Instituto Qualyvida”, responsável por administrar o espaço. Inicialmente, o local tinha capacidade para abrigar cerca de 300 animais.
Posteriormente, por uma questão de espaço, o parque foi transferido para uma área dentro de uma fazenda de Lagoa Grande, cidade localizada há 50 km de Petrolina, no Sertão do São Francisco. Assim sendo, a capacidade aumentou para 2 mil animais. Há muitas informações divergentes em relação a quantos animais esse parque abrigou ao longo dos anos. Há quem diga que o número que tenha girado em torno de mil animais. É interessante destacar que, apesar do foco ser o jumento, o parque também abrigava mulas e cavalos.
Em razão da falta de verbas para a alimentação dos animais, esse parque quase fechou em 2015. Nesse sentido, Odacy sempre reclamou da falta de apoio financeiro por parte do governo estadual e federal. Ele, inclusive, se mostrava bem reticente quanto a agilidade do Ministério Público. Devido a essa constante escassez de recursos financeiros, a estrutura em Lagoa Grande teria sido permanentemente desativada em julho de 2017.
Aparentemente, a antiga unidade de Petrolina teria retomado as atividades algum tempo depois, visto que ela é citada em uma notícia da Agrovale (uma empresa produtora de açúcar, etanol e bioeletricidade), em outubro do ano passado. Segundo o texto, essa unidade estaria sendo mantida com a ajuda de diversas entidades.
A Fita Reflexiva Proposta por Odacy Amorim
Em outubro de 2017, Odacy divulgou através de suas redes sociais uma ideia sobre uma fita reflexiva, que ao ser colocada no pescoço dos jumentos, tornava-os visíveis à noite para os motoristas. Segundo ele, isso contribuiria para reduzir os acidentes e as mortes – tanto de pessoas, quanto dos próprios animais – a curto prazo. Confira o vídeo abaixo:
Pessoal, todos sabem do projeto que temos de retirada de animais das estradas. O meu foco é a salvação da vida humana, e por consequência também a vida dos animais. Em 2013, com recursos próprios, criamos o Parque Ecológico de Proteção ao Jumento, um local estruturado e amplo, no qual abrigamos os animais encontrados. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, desde o momento da instauração do projeto até os dias atuais, houve uma redução de mais de 80 % na ocorrência de acidentes. Um trabalho bonito e importante, mas que infelizmente não encontrou apoio por parte dos governos municipais, nem tampouco do governo federal. Diante das dificuldades e da impossibilidade de retirada de todos os bichos das estradas, criamos um mecanismo que permite a identificação dos animais nas BRs ainda numa distância segura, havendo tempo para que o condutor evite a colisão e possa preservar a vida humana e também a vida animal. Trata-se de uma medida paliativa, mas que vem para ajudar a diminuir ainda mais, a curto prazo, as ocorrências. Provérbios 12:10"O justo tem consideração pela vida dos seus animais, mas as afeições dos ímpios são cruéis".
Posted by Odacy Amorim on Saturday, October 14, 2017
O próprio Odacy disse que se tratava de uma medida paliativa e menos onerosa, diante das dificuldades e da impossibilidade de retirada de todos os animais das estradas. Resumindo? A fita era colocada nos animais, porém eles não eram recolhidos das estradas.
Tudo se Resumiu a Apenas Alguns Municípios?
Em novembro de 2017, cerca de um mês depois, o blog “Waldiney Passos” noticiou que os municípios de Afrânio e Ouricuri, ambos em Pernambuco, tinham fechado parceria com Odacy Amorim. O objetivo, é claro, era sinalizar os animais.
“Trata-se de uma iniciativa simples, mas extremamente importante, que irá preservar muitas vidas. Só quem percorre as estradas sertanejas é que sabe o perigo que enfrenta. Se conseguirmos, através deste projeto, salvar ao menos uma vida, tudo já terá valido a pena. Agradeço aos prefeitos Rafael Cavalcanti e Ricardo Ramos pelo apoio, e iremos, com certeza, em busca de novas adesões ao nosso projeto“, disse Odacy.
Desde então, no entanto, não foram divulgadas maiores informações sobre a implementação dessa ideia.
Essa Iniciativa Não Foi Originalmente Criada por Odacy Amorim
É importante deixar claro que, apesar da preocupação de Odacy Amorim, essa iniciativa não foi originalmente inventada por ele.
Em maio de 2015, uma matéria exibida no Jornal Nacional, da Rede Globo (arquivo), alertava justamente sobre o perigo de animais cruzando as estradas no Brasil. Nessa matéria fomos apresentados ao inventor Rodolfo Rummenigge, do Estado do Rio Grande do Norte. Ele tinha encontrado uma solução que podia evitar novos acidentes e mortes nas estradas. Juntamente com sua sogra, eles testaram colares contendo faixas reflexivas no pescoço e nas patas de animais.
O resultado foi positivo, visto que os motoristas reduziam a velocidade ao perceberem mais facilmente os animais na pista. Entretanto, se tratava apenas de um teste, não uma iniciativa em escala regional, estadual ou federal. Desde então, também não houve mais notícias sobre a implementação dessa ideia.
Conclusão
Tanto a história quanto as fotos são referentes a uma ideia divulgada por um deputado estadual de Pernambuco, porém no último trimestre de 2017. Além disso, a ideia era limitada a municípios do Sertão de Pernambuco, e os jumentos “sinalizados” não eram apreendidos naquela ocasião. Desde então, não houve mais notícias sobre a implementação dessa ideia. Atualmente, não encontramos nenhuma medida em vigor para a sinalização de muares, asininos ou equinos, em escala nacional.
Portanto, é falsa a alegação da página “Notícias no Face” – destinada a “divulgação de acontecimentos policiais do Estado do Rio Grande do Norte” – uma vez que pressupõe tratar de uma situação atual e não especifica onde tal medida está ocorrendo.
De qualquer forma, é uma pena que uma medida tão simples tenha sido aparentemente deixada de lado. Algo relativamente barato, e que talvez ajudasse a resolver um problema crônico no Brasil. Quem sabe ainda não ouviremos falar sobre isso num futuro próximo?