É verdade que o cigarro pode curar os pacientes do coronavírus?
Será verdade que cientistas descobriram que o cigarro é eficaz no tratamento de vítimas do coronavírus?
A notícia começou a ser compartilhada nas redes sociais na segunda quinzena de abril de 2020 e afirma que pesquisadores teriam descoberto que algumas substâncias encontradas no cigarro podem ter efeitos curativos nos pacientes com a COVID-19. A suposta descoberta foi compartilhada por muitos usuários como sendo uma opção fácil e barata para o fim da epidemia de coronavírus, mas será que isso é verdade?
Verdade ou mentira?
A grande maioria das publicações feitas em sites brasileiros surgiu de um estudo francês publicado em 21 de abril de 2020 por três autores intitulado “Uma hipótese nicotínica para COVID-19 com implicações preventivas e terapêuticas”.
Acontece que, apesar do estudo já ter sido aceito pela revista científica Compte rendu de l’Académie Académie des Sciences Biologie, o trabalho ainda é “somente” uma pré-impressão, ou seja, um estudo que ainda não passou pelas revisões necessárias antes de ser publicado de fato!
Em resumo, o texto sugere que um receptor celular ativado por nicotina “desempenha um papel crítico na fisiopatologia da infecção por COVID-19 e pode representar um alvo para a prevenção e controle da infecção por COVID-19“. A hipótese proposta é a de que a nicotina impediria o coronavírus de se fixar no receptor celular que ele normalmente utiliza e, com isso, evitando que o vírus penetre nas células e se espalhe pelo organismo.
Especialistas explicaram, no entanto, que trata-se de um estudo que apresenta uma hipótese, mas ele não foi desenvolvido e não fornece dados científicos e verificáveis, o que não permite tirar muitas conclusões práticas.
É preciso lembrar que a nicotina está, sim, presente no cigarro, mas o perigo é que ao fumar, o usuário é exposto a cerca de 4.700 substâncias (como alcatrão e monóxido de carbono) que causam doenças associadas ao consumo de tabaco.
Fumantes são mais vulneráveis ao coronavírus
Um estudo publicado no Chinese Medical Journal em fevereiro de 2020 mostrou que fumantes têm um risco 14% maior de desenvolver pneumonia quando infectados pelo novo coronavírus. Além disso, o fumante coloca a mão na boca mais vezes que os não-fumantes, o que pode ajudar na proliferação da contaminação pelo coronavírus.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer – do Ministério da Saúde – o tabaco causa diferentes tipos de inflamação, além de prejudicar os mecanismos de defesa do organismo.
“Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. Os fumantes são acometidos com maior frequência por infecções como sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose. Além disso, o consumo do tabaco é a principal causa de câncer de pulmão e importante fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), entre outras doenças.Pelo exposto, podemos dizer que o tabagismo é fator de risco para a Covid-19. Devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar, o fumante possui mais chances de desenvolver sintomas graves da doença.”
Conclusão
O cigarro não ajuda no combate ao coronavírus e pode ser até mais prejudicial! Tudo começou com um estudo feito na França com a nicotina, mas mesmo assim ainda não há nenhuma prova de que a substância ajude na cura da COVID-19.