Falso
A Índia vai condenar à morte cientista da OMS por não ter recomendado ivermectina?
É verdade que a Índia irá condenar à morte a cientista-chefe da OMS por suprimir dados da eficácia da Ivermectina no tratamento contra a COVID-19?
A notícia surgiu em diversos sites e blogs na primeira semana de julho de 2021 e afirma que a Índia teria entrado com uma ação legal contra a cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Dra. Soumya Swaminathan, por ela ter omitido dados da eficácia do uso do medicamento Ivermectina no tratamento do novo coronavírus.
Ainda segundo o texto, que também foi bastante compartilhado em grupos de WhatsApp, a cientista corre o risco de ser condenada à morte.
Será que isso é verdade ou mentira?
Verdade ou mentira?
O link que nos leva à reportagem a respeito da alegada condenação da doutora Soumya Swaminathan pela morte de vítimas da COVID-19 na Índia, é um texto explicando que há um pedido da Indian Bar Association (Ordem dos Advogados da Índia) contra uma alegação feita pela dra. Soumya Swaminathan em seu perfil no Twitter a respeito da ineficácia do uso do medicamento Ivermectina no combate ao novo coronavírus.
Apesar do que se espalhou nas redes sociais, o documento não é um processo movido pelo país contra a doutora e tampouco terá qualquer peso jurídico, visto que trata-se apenas de um “aviso legal”, um pedido extrajudicial feito por uma entidade e não pelo governo daquele país.
Em entrevistas, um porta-voz da entidade confirmou que trata-se apenas de um aviso:
“O aviso legal é apenas o primeiro passo. Nós vamos levar isso adiante. Há forças trabalhando para reprimir a ivermectina pelos motivos mencionados no edital”
A Índia não parou de usar ivermectina
É errado afirmar que uma ordem da Dra. Soumya Swaminathan fez com que a Índia parasse com o uso do vermífugo ivermectina em pacientes com COVID-19 no país. O medicamento continua constando no protocolo de manejo clínico indiano para casos médios da Covid-19 mesmo com a sua ineficácia comprovada.
No dia 7 de junho de 2021, a Diretoria Geral de Serviços de Saúde do Ministério da Saúde indiano atualizou as diretrizes de tratamento à Covid-19, retirando a recomendação de substâncias como a ivermectina e a hidroxicloroquina para pacientes assintomáticos. Aliás, segundo as novas diretrizes, os assintomáticos não devem tomar nenhum medicamento.
A OMS não é a única a não recomendar Ivermectina
Estudos mostram que não há evidências de que o uso do medicamento tenha ajudado a diminuir casos de COVID-19 na Índia. Isso não é só a OMS que disse, mas uma enorme quantidade de outras entidades e pesquisadores.
Um estudo publicado na primeira semana de julho de 2021, na mais importante revista científica de infectologia, a Clinical Infectious Diseases, da Oxford University Press, concluiu que o antiparasitário ivermectina não funciona no tratamento da covid-19.
Os autores concluíram que:
“em comparação com tratamento padrão ou placebo, a ivermectina não reduziu todas as causas de mortalidade, tempo de internação ou depuração viral em estudos controlados por placebo em pacientes com covid-19, principalmente com doença leve […] ivermectina não é uma opção viável para tratar pacientes com covid-19”.
Portanto, condenar apenas a dra. Swaminathan pela afirmação seria no mínimo injusto.
A própria fabricante nega eficácia
Em um comunicado divulgado em fevereiro de 2021, a Merck – fabricante da ivermectina e uma das maiores interessadas em vender a droga – informou não haver evidência de que o produto funcione contra Covid-19.
No documento, a Merck explica que não há base científica para um potencial efeito terapêutico potencial contra a Covid-19 em estudos pré-clínicos já publicados e acrescentou também que não há evidência significativa de eficácia clínica em pacientes com a doença.
Conclusão
É falso afirmar que a cientista-chefe da OMS será condenada (ou poderá ser condenada) à morte por não recomendar ivermectina aos indianos com COVID-19. A Ordem dos Advogados da Índia enviou um aviso-legal para que a Dra. Soumya Swaminathan removesse um tuite sobre a ineficácia do medicamento no combate ao novo coronavírus (e ela até já removeu, talvez pra evitar mais falatório). O fato é que não há comprovação de que o medicamento seja eficaz contra o novo coronavírus e o seu uso nesses casos já foi condenado por várias entidades no mundo todo!