É verdade que o óvulo brilha no momento da concepção?
Vídeo mostra que o óvulo emite fortes luzes no exato momento da concepção, indicando que o espermatozoide conseguiu gerar uma vida! Será?
As imagens ganharam força em compartilhamentos nas redes sociais no final de junho de 2024 e mostram o que seria a prova irrefutável do exato momento em que a vida é gerada. Um óvulo se iluminando logo após ser fecundado por um espermatozoide estaria mostrando como a magia da vida pode ser provada cientificamente desde o seu início!
Será que o vídeo é verdadeiro ou falso?
Verdade ou mentira?
Em abril de 2016, uma reportagem publicada no jornal The Telegraph, deu origem a uma das maiores balelas que circulam pela web desde então: “um clarão brilhante de luz marca o momento incrível em que a vida começa…”, diz o início do artigo.
A suposta descoberta foi repicada por sites cristãos e por grupos que lutam pela criminalização do aborto no nundo todo. Afinal, “se a vida está lá desde a sua concepção, um aborto seria um assassinato”, dizem.
O site Catholic Online, por exemplo, deu a notícia da seguinte forma:
“Centelha da vida: cientistas descobrem o momento em que as almas entram nos ovos no momento da concepção […] o momento em que Deus permite que um milagre aconteça […] Agora, com a descoberta da centelha da vida, a ciência pode ter provado que a Igreja estava certa o tempo todo.”
Ou seja, a Ciência só é bem-vinda para a Igreja quando a suposta descoberta científica corrobora com os preceitos da sua doutrina, né?
Algumas postagens feitas nas redes sociais ainda acrescentam um toque místico ao assunto, dando a entender que a tal “centelha da vida” finalmente havia sido comprovada pela Ciência…
Acontece que não há nenhuma explosão de luz, não há fogos de artifício e nem ao menos uma faísca no momento da fecundação. Tudo não passou de uma deturpação feita a partir da descoberta de um grupo de pesquisadores liderados pelos professores norte-americanos Teresa K. Woodruff e Thomas V. O’Halloran, na Northwestern University em Chicago.
O artigo original, publicado na revista Nature, se chama “A centelha de zinco é uma assinatura inorgânica da ativação do óvulo humano” e se refere apenas a uma assinatura de uma centelha de zinco. Uma reação inorgânica e sem nenhuma relação com o início de uma vida!
A claridade mostrada no vídeo é, na verdade, uma detecção feita com microscopia de fluorescência, que só ocorre em laboratório sob condições controladas. O clarão não acontece no organismo da mulher.
Em outras palavras, o nível de cálcio presente no óvulo aumenta quando o espermatozoide entra nele e faz com que o zinco, também presente no óvulo, seja expulso de seu interior. Os pesquisadores usaram um produto químico fluorescente que se liga ao zinco liberado pelo óvulo para medir o quanto desse material é expurgado, algo muito difícil de ser feito sem a fluorescência.
O estudo foi realizado numa tentativa de se encontrar métodos mais eficientes de se detectar os óvulos mais saudáveis para fertilizações in vitro e foi feito com óvulos de camundongos.
Conclusão
Não é verdade que o óvulo emite um feixe de luz quando é fecundado! O caso surgiu da má interpretação de um estudo científico que acrescentou uma substância fluorescente para detectar o zinco liberado pelo óvulo para conseguir identificar os mais saudáveis mais facilmente!