A fraude nas eleições venezuelanas foi descoberta graças ao voto impresso?
É verdade que só foi possível comprovar a fraude nas eleições da Venezuela através da contagem manual dos votos impressos?
A alegação começou a se espalhar através das redes sociais no começo de agosto de 2024, poucos dias após as eleições presidenciais ocorridas na Venezuela em 28 de julho. De acordo com o que foi disseminado, foi comprovada a fraude na votação graças ao voto impresso, que – aliado à urna eletrônica – teria trazido muito mais segurança para o pleito.
As publicações dão a entender que esse seria o principal motivo do Tribunal Superior Eleitoral ter rejeitado a implantação do voto impresso no Brasil!
Será que isso é verdade ou mentira?
Texto de uma das versões publicadas no Twitter: “Por isso não querem o voto impresso e auditável aqui no Brasil, visto que na Venezuela o que escancarou a fraude foi o voto auditável. E agora, que os venezuelanos têm a certeza da fraude, o que vão fazer?” (foto: Reprodução/Twitter)
Verdade ou mentira?
A primeira questão é a seguinte: foi comprovada a fraude nas eleições venezuelanas?
A resposta é: ainda não se sabe ao certo! De fato, há – por enquanto – fortes suspeitas de que houve manipulação dos resultados, mas ainda não houve provas!
As pesquisas de intenção de votos são proibidas próximas ao dia das eleições na Venezuela, por isso, temos que nos valer das últimas pesquisas realizadas por lá. Nessa, divulgada em julho de 2024, o candidato da maioria da oposição liderava com quase 60% de simpatizantes, enquanto Maduro ocupava o segundo lugar entre os entrevistados com 14,64%.
Como Maduro afirma ter vencido as eleições com 51,2% dos votos, muita gente achou que a diferença entre as pesquisas e os votos foi muito grande.
Uma das formas de se auditar as eleições na Venezuela é através das atas eleitorais, documento impresso pelas urnas eletrônicas ao final do dia do pleito com um resumo dos votos daquela seção. A ata é bem parecida com os boletins de urna aqui do Brasil:
Ata eleitoral venezuelana! (foto: Reprodução/BBC)
Essa matéria do Terra mostra quais são dos dados presentes no documento e explica como identificar a sua autenticidade. No entanto, o governo de Nicolás Maduro não liberou as atas eleitorais para consulta pública, aumentando ainda mais a desconfiança sobre a lisura das eleições venezuelanas.
A agência de notícias Associated Press analisou atas eleitorais divulgadas pela oposição da Venezuela, algo em torno de 80% das urnas de votação do país, e concluiu que González – rival de Maduro – recebeu quase meio milhão de votos a mais do que o governo diz que Maduro obteve. O problema é que essa apuração foi feita apenas com dados fornecidos pela oposição e ainda não há como comparar com as atas oficiais.
Aqui no Brasil, as cópias dos boletins de urna ficam penduradas nas portas das seções eleitorais, além de também serem entregues para os fiscais dos partidos políticos. A soma das contagens dos votos presentes nesses documentos batem e sempre bateram com os dados enviados para o TSE.
O voto impresso já foi testado no Brasil
Em 2002, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) testou o voto impresso em 23 mil urnas eletrônicas brasileiras e o resultado foi o contrário do que se esperava. Em vez do aumento da segurança, da transparência e da confiabilidade, a impressão do voto tornou a votação mais confusa, lenta e passível de fraude. Filas enormes se formaram devido à demora extra de cada impressão, além dos inúmeros problemas mecânicos apresentados pelas impressoras (quem tem impressora em casa sabe como esse periférico é problemático).
O relatório do TSE resumiu os problemas encontrados:
“A experiência demonstrou vários inconvenientes na utilização do denominado módulo impressor externo. Sua introdução no processo de votação nada agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou problemas. Nas seções eleitorais com voto impresso foi: a) maior o tamanho das filas; b) maior o número de votos nulos e brancos; c) maior o percentual de urnas com votação por cédula, com todo o risco decorrente desse procedimento; e d) maior o percentual de urnas que apresentaram defeito, além das falhas verificadas apenas no módulo impressor”.
No Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 60% dos eleitores não conferiram a impressão, enquanto inúmeros eleitores da Bahia sequer conseguiram finalizar a votação. No Distrito Federal, onde 100% das urnas eletrônicas tinham impressão de voto, o índice de quebra foi de 5,3%, contra apenas 1,4% do restante do país.
Resumo em vídeo
Assista ao resumo dessa checagem em vídeo:
@efarsas Descoberta de Fraude nas Eleições da Venezuela! Verdade ou Mentira? fraude eleições voto Vemezuela maduro fakenews
Conclusão
Não é verdade que foi descoberta fraude nas eleições na Venezuela e também não é verdade que a falcatrua só foi descoberta graças ao voto impresso! O governo de Nicolás Maduro ainda não liberou as atas eleitorais para consulta e sequer disponibilizou os votos impressos para recontagem manual!
