Correntes
Professora é presa por ensinar alunos a não sujarem a Escola em BH
Uma professora teria sido presa em Belo Horizonte (MG) após colocar alunos para limpar pichações em escola pública. Será que isso aconteceu mesmo?
A notícia apareceu no Facebook no dia 04 de janeiro de 2014. De acordo com o texto, acompanhado da foto de uma senhora idosa com a mão tampando o rosto, uma professora da escola estadual Professor Caetano Azeredo (em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais) foi presa ao dar continuidade num projeto que visava ensinar aos alunos a importância da limpeza na escola, fazendo com que os pequenos limpassem as pichações das paredes da instituição.
A notícia afirma que o pai de uma das crianças resolveu denunciar a professora por exploração do trabalho infantil e a professora (que já é aposentada) foi algemada e levada de camburão à delegacia.
O assunto gerou inúmeros compartilhamentos no Facebook e dezenas de milhares de comentários. A maioria deles condenando o ato do pai da criança por ter denunciado a professora.
Mas será que essa história é real?
Verdade ou farsa?
A notícia tem todas as características de um boato digital:
- Não é datada
- Cita o nome de entidades para dar mais credibilidade
- Não cita fontes
- Tem um tom conspiratório e apelativo
- Pede para ser compartilhada para o maior numero de pessoas
Quando o fato teria ocorrido? O texto não afirma. Sabemos, pelo artigo, que essa seria a segunda vez que a escola promove esse tipo de mutirão. No entanto, não sabemos quando esses trabalhos teriam ocorrido.
Outra dúvida que surge é: Uma professora tem autonomia para promover esse tipo de atividade na escola? É bem provável que não!
Nenhuma ação pedagógica pode ser promovida na escola partindo apenas de um professor. Dentro da organização escolar, um projeto desse tipo deve ser levado aos coordenadores e estes, juntamente com a direção da escola, desenvolvem toda a ação para o evento. Isso, claro, num mundo ideal…
Mas, vamos supor que a senhora idosa tenha se metido a passar por cima da hierarquia da instituição e tenha mesmo colocado os pequenos para trabalhar. Ela não iria presa (com direito a algemas, camburão e tudo mais). No máximo, a tal professora sofreria um processo administrativo. Afinal, ela estaria mesmo explorando as crianças ao colocar os alunos para trabalhar ao invés de ensinar e, como sabemos da morosidade da justiça brasileira, iria demorar um bocado de tempo até que tudo se resolva.
Além disso, a professora não seria processada sozinha. Os coordenadores e a direção teriam que responder pelo ato (claro que estamos falando de uma hipótese que poderia acontecer no mundo ideal).
Nenhum jornal ou site publicou nada a respeito dessa historia, a não ser em blogs que copiaram o mesmo texto (sem mudarem uma vírgula) que, ao que parece, surgiu na fanpage Verdade Oculta no Facebook. A Verdade Oculta, para quem não sabe, tem vários precedentes de notícias falsas em seu acervo.
O autor do texto já prevê que muitos iriam questionar a razão do fato não ter aparecido nos jornais locais e se previne. O texto explica que o caso não saiu na imprensa e que o relato de professores e de diretores é a única fonte confiável.
O autor também pede para que quem tiver em dúvida, que ligue para a escola para confirmar. Fizemos o que o a notícia pede para fazer e não tivemos sucesso. A secretaria da escola não funciona nos finais de semana e, como a notícia apareceu num sábado, teremos que esperar até a segunda-feira para tentar novamente.
Nesse trecho, o autor tenta enganar o leitor com a falácia da inversão do ônus da prova, que consiste em transferir para quem está duvidando a obrigação de provar algo. Ora! Quem está afirmando é que tem que provar que aquela afirmação é real.
De qualquer maneira, enviamos um e-mail para a escola citada no texto e estamos no aguardo de alguma resposta. Talvez isso demore um pouco, já que as escolas estaduais estão de férias em janeiro (claro, a secretaria da escola funciona durante as férias, mas com um pessoal reduzido e, talvez, nosso e-mail demore para ser respondido).
Atualização: 06/01/2013
Em resposta ao nosso e-mail, Simone Lage, diretora da Escola Estadual Professor Caetano Azeredo, nos respondeu que essa história não procede e que trata-se de um boato eletrônico!
A foto da manchete
O que chama a atenção na manchete é que o nome da professora não foi citado. Muitos afirmarão que isso foi feito propositalmente, uma vez que a sua identidade foi poupada por questões de segurança. No entanto, o seu rosto (ainda que tampado) aparece na manchete. Era pra mostrar ou não?
Uma rápida busca na web e descobrimos que a mulher mostrada na notícia não tem nada a ver com o fato citado na matéria. A senhora que aparece na foto é, na verdade, de outra notícia. De acordo com o G1, a mulher da imagem é uma idosa de 90 anos que foi presa no dia 26 de março de 2013, após furtar uma blusa e um colar em uma loja de um shopping Center em Goiânia (GO).
Conclusão
É muito provável que a história seja falsa. Conforme resposta da própria diretoria da escola referida, essa história não passa de mais um boato eletrônico! A foto usada na manchete é de uma ladra que roubou um shopping em Goiás no começo de 2013.