Falso
Relógio suíço moderno encontrado em tumba de 400 anos!
Um relógio suíço teria sido descoberto em uma tumba da época da dinastia Ming, na China. Como o objeto só poderia existir atualmente seria ele uma prova de viajantes do tempo?
A notícia surgiu em 2008, mas voltou à mídia no dia 18 de janeiro de 2014, depois de ser (re)publicada no blog do canal de TV por assinatura History. De acordo com o texto, o pesquisador Jiang Yanyo, curador do Museu de Guanxi, disse em entrevista que o estranho artefato é um relógio de metal, encontrado em dezembro de 2008, na tumba de Si Qing, da dinastia Ming, de 400 anos de idade. O relógio tem apenas 100 anos e contém a inscrição “Suíça”, um país inexistente durante a dinastia Ming.
O pesquisador disse ainda que ele e sua equipe estavam escavando o solo em volta do caixão quando um pedaço de pedra caiu no chão, fazendo um som metálico. Ao limpar o objeto, perceberam se tratar de um anel – que, depois de limpo, mostrou ser um relógio com a inscrição “Suíça”.
A descoberta abriu as portas de inúmeras teorias que vão desde a possibilidade de seres de outros planetas terem nos visitado em épocas remotas ou de viajantes do tempo, que voltaram aos séculos passados e, por um descuido, deixaram cair o artefato no local.
Será que isso é verdadeiro ou falso?
Verdadeiro ou falso?
Quando a notícia apareceu em 2008, cogitamos que poderia ser apenas um viral para a divulgação de algum novo filme de Hollywood. No entanto, o tempo passou e nada mais foi dito sobre isso. Até que, no dia 18 de janeiro de 2014, o canal History resolveu requentar uma matéria que ele mesmo havia publicado em junho de 2013.
Sob o título de “Mistério ainda sem respostas”, o History fez o que ele sabe fazer de melhor: Enrolar a audiência com matérias que não acrescentam em nada do que já se sabe. Simplesmente pegaram uma história interessante antiga e disseram que “continua como está”!
Ao contrário do que fez o History Channel, resolvemos dar uma pesquisada ao bom e velho estilo do E-farsas, usando a própria internet como ferramenta (aliás, isso poderia ter sido feito por qualquer estagiário da prestigiada rede de TV por assinatura).
Teorias
Os milhares de sites e blogs sensacionalistas e criadores das teorias mais malucas e absurdas possíveis sugerem que o tal relógio achado na China poderia ser:
- Um artefato deixado por algum visitante de outro planeta que, sem querer, deixou vestígios de sua visita;
- Objeto de um viajante do tempo que, sem querer, deixou vestígios de sua visita;
- Foi enviado para o passado intencionalmente por alguma equipe de pesquisa que, de alguma forma, descobriu como viajar no tempo;
Qual dessas teorias é a mais provável? E se acrescentarmos que houve uma contaminação do local da escavação? Essa, sim, seria a mais racional!
É bem provável que um objeto tão pequeno como aquele não faça um barulho perceptível ao cair no chão. Além disso, o minirrelógio parece estar esverdeado (possivelmente) pela presença de cobre e uma inscrição “Swiss” seria muito pequena (para esse tamanho) para ser lida a olho nu.
De qualquer maneira, o fato do relógio ter parado às 10:10 pode ser devido ao fato de que o objeto, na verdade, seja apenas um enfeite – como um brinco – que só mostra mesmo esse horário.
Podemos ver que em todas as propagandas de relógio, os aparelhos são sempre apresentados com os ponteiros marcando 10 horas e 10 minutos (ou 1h50m). Já reparou?
A explicação para isso, conforme explicado no Metamorfose Digital, é que os ponteiros dos relógios nas propagandas formam um “V”, que significa “aceitável”, além de que a posição pode ainda ser identificada como um sorriso.
Contaminação do local
Descartando todas as teorias de viajantes do tempo e de visitantes extraterrestres, ficamos com a mais provável: Contaminação do local de pesquisa!
A equipe do pesquisador Jiang Yanyo (que, na verdade, se chama Jiang Yanyu e o History escreveu errado) pode ter encontrado vestígios de objetos mais recentes misturados à lama e terra em torno da tumba. Isso, se a gente descartar a possibilidade da tumba ter menos de 400 anos.
É bom ressaltar que a matéria do History não disse que o relógio foi achado do lado de fora do enorme bloco de pedra, que era o objeto do estudo de Jiang Yanyu e de sua equipe. Do jeito que o achado foi noticiado, dá a impressão que o relógio estava dentro da tumba de Si Qing.
Uma prova para essa teoria da contaminação é uma reportagem publicada no dia 29 de novembro de 2008, em chinês, pela agência Xinhua. De acordo com a matéria, durante o transporte do caixão de concreto houve um vazamento de um líquido marrom de dentro do bloco, comprovando que houve infiltração no solo e, por consequência, o caixão havia sido contaminado por elementos de outras datas!
Relógio em forma de anel
Muita gente acha que os povos antigos não eram capazes de fazer coisas bacanas como um relógio minúsculo como esse, mas acredite, mas houve um tempo em que usar “relógios de dedo” era moda (e um luxo) na Europa e Estados Unidos!
Abaixo, um recorte de um anúncio de um desses relógios, de 1938:
E esse relógio Rolex, de 1950:
E se você acha que relógios de dedo de quase 100 anos de idade são muito recentes, dá só uma olhada nesse suíço, de 1890:
Curiosidade: A fábrica Vacheron Constantin foi fundada em 1755 e é considerada a fábrica mais antiga de relógios ainda em operação na Suíça.
Outra curiosidade: A Suíça existe como Confederação Suíça desde 1291!
Swiss Made
A inscrição “Swiss Made” (feito na Suíça) foi adotada no final do século 19 pelos fabricantes de relógios para comprovar a autenticidade dos produtos fabricados naquele país. É um tipo de carimbo, grafado na frente do mostrador, geralmente localizado acima do numero 6. São duas palavras e não apenas “Swiss” como mostrado na notícia. Possivelmente, o tal relógio seja uma cópia chinesa barata!
Outras possíveis explicações
O relógio suíço apareceu na Genebra em meados do século 16. Na época, a China mantinha o comércio marítimo com o Portugal, Espanha, Japão e Holanda. É possível, portanto, que o “morador” do caixão (datado em torno do ano de 1600) tenha sido um viajante endinheirado, ou poderia ter comprado o relógio exótico de algum um comerciante que passou por aquelas bandas.
Conclusão
Essa é uma notícia antiga que foi ressuscitada pelo blog de uma rede de TV que não tinha nada de bom para publicar naquele dia. O achado não tem nada de anormal ou extraterrestre e é muito provável que o relógio tenha sido de alguém que andou por aqueles lados há alguns anos e perdeu seu adorno. Uma análise mais detalhada no relógio poderia determinar a sua possível origem, mas parece que ninguém deu muita atenção para o objeto, pois não se falou mais no assunto.