Cinema / TV
A Cinderela usava sapatos de pele de esquilos na história original?
É verdade que na versão original de Cinderela, a protagonista usava sapatinhos de pele de esquilos ao invés de sapatos de cristal?
Com a estreia do filme musical Cinderela, em setembro de 2021, uma história a respeito de uma suposta versão original deste conto de fadas voltou a se espalhar nas redes sociais e em diversos grupos de WhatsApp. De acordo com o que foi compartilhado, na história original da Cinderela não havia sapatinho de cristal, mas sapatos feitos com a pele de esquilos!
A mudança – segundo afirmação compartilhada na web – teria surgido de um erro na primeira tradução de Cinderela para o inglês, quando o tradutor teria entendido errado o termo “pantoufle de verre” (que é “sapato de vidro”, em francês) ao invés de “pantoufle de vair” (que seria “sapato de pelo”, do conto original de Charles Perrault).
Será que a história original de Cinderela não tinha mesmo os sapatinhos de cristal? A personagem usava sapatos feitos com pele de esquilos mesmo?
Verdade ou mentira?
A história de Cinderela possui várias versões (somente na França, são cerca de 38) e a mais conhecida é a de 1697, escrita por Charles Perrault, em 1697. No conto, uma jovem que morava com a madrasta e com suas duas filhas, até que um dia tem a chance de conhecer o príncipe e… o resto você já sabe!
Acontece que já no seu livro Contos dos tempos idos, de 1697, o escritor francês Charles Perrault já trazia no título de um de seus contos o sapatinho de cristal. O conto Cendrillon ou la Petite Pantoufle de verre (Cinderela ou o sapatinho de vidro) era um dos 8 que compunham o livro.
Sapatos de vidro ou de pele?
Na Wikipédia em francês há um verbete somente para essa polêmica que já se arrasta desde o século XIX, e parece que surgiu em cima de um debate sobre uma publicação do escritor francês Honoré de Balzac. Curiosamente, ele próprio não chegou a participar do tal debate, visto que essa “dúvida” surgiu décadas após a sua morte!
Como não há menção da palavra “vair” nas versões anteriores à do livro de Perrault (e tampouco depois), é muito difícil que tenha havido algum erro de tradução.
Além disso, a palavra “vair” era usada na idade média e já havia caído em desuso na França do século XVII.
O material do calçado não era muito importante
No seu livro Le Conte populaire français, o pesquisador Paul Delarue descobriu que das versões francesas de Cinderela, 32 citam calçados ou chinelos (sem maiores detalhes do que são feitos), 14 falam de chinelos, 10 de sandálias, 1 chinelo de vidro, 4 chinelos de ouro, 1 sapato de vidro e 1 sapato de cristal. Nenhum de pele de animal…
Em um estudo feito com 345 versões internacionais desse conto, a pesquisadora Marian Roalfe Cox concluiu que apenas 6 delas citam explicitamente chinelos de vidro, a grande maioria retrata o calçado como sendo feito de ouro, prata, seda, bordados com pérolas , adornado com diamantes, etc. A pesquisa também não encontrou nada falando sobre peles de esquilos (ou de outros animais)!
Conclusão
A afirmação de que a Cinderela usava sapatos feitos de pele de esquilos no conto original é falsa!