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A gripe suína foi muito mais fatal do que o novo coronavírus?

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A gripe suína foi muito mais fatal do que o novo coronavírus?

A gripe suína foi muito mais fatal do que o novo coronavírus?

É verdade que a gripe H1N1 matou muito mais pessoas do que o surto do coronavírus de 2020, mas a mídia quer te fazer acreditar do contrário?

A constatação começou a se espalhar através de grupos do WhatsApp no final de março de 2020 e compara a epidemia do COVID-19 com o surto da H1N1. Segundo o texto compartilhado, o coronavírus teria matado “apenas” 18 pessoas em 2020 no Brasil, enquanto que a epidemia da gripe suína teria feito mais de 2.100 vítimas fatais.

O comparativo ainda afirma que, dadas as circunstâncias, a “mídia esquerdista” estaria dando uma atenção exagerada ao coronavírus e manipulando a sua opinião, já que o COVID-19 seria bem menos perigoso que o H1N1.

Será que esses dados estão corretos? Estamos sofrendo um exagero da mídia?

Texto de uma das versões que se espalharam através do WhatsApp: “COVID-19 – Coronavírus, Casos No Brasil: 1.128 (21/3), Mortes: 18, Nível de Pânico: APOCALÍPTICO!! H1N1 – Gripe Suína Casos no Brasil: 58178, Mortes: 2.101, Nível de Pânico: É só um resfriado. Entenderam como uma mídia esquerdista pode manipular a sua vida?

Verdade ou mentira?     

A imagem viral surgida aqui no Brasil na última semana de março de 2020 é uma versão de um conteúdo semelhante ao que foi compartilhado em inglês, na primeira quinzena do mesmo mês. Como no Brasil, a versão norte-americana compara as epidemias de 2020 do coronavírus – na gestão de Donald Trump – com a de 2009 da gripe suína – na gestão do então presidente Barack Obama. Perceba que na versão em inglês, o texto também fala da suposta manipulação da mídia (sem falar de Esquerda ou de Direita).

As agências de checagem norte-americanas analisaram os números compartilhados por lá e apuraram que eles estão corretos, mas é preciso se analisar com mais cuidado para não compartilhar conteúdo enganoso.

Em primeiro lugar, o texto em inglês compara os números de vítimas do coronavírus de apenas dois meses contra a quantidade de vítimas do H1N1 de um período de mais de um ano (entre 2009 e 2010). Além disso, a taxa de mortalidade do H1N1 é de 0,02%, enquanto que a do coronavírus é de 2%.

Ainda em defesa da gestão Barack Obama, o diretor interino de saúde e serviços humanos do então presidente declarou o H1N1 uma emergência de saúde pública nos Estados Unidos quando o país tinha apenas 20 casos confirmados de H1N1 e ainda nenhuma morte.

Mas e o Brasil?

O texto compartilhado aqui no Brasil (inclusive, por pastores que insistem em manter suas igrejas abertas sob o risco de espalhar ainda mais a epidemia) também erra ao comparar dois períodos incompatíveis. O total de casos de H1N1 registrados no país foi de 59.867 com 2.173 mortes, mas isso se somando os anos de 2009 e 2010.

O primeiro caso de coronavírus foi registrado no Brasil no dia 25 de fevereiro de 2020. Até o dia 23 de março (28 dias depois) o Brasil havia registrado 1800 casos, com 34 mortos.   

Se compararmos o mesmo período de 28 dias entre o coronavírus e a gripe suína, o H1N1 havia matado “apenas” uma das suas 627 vítimas brasileiras.

Se avançarmos apenas 2 dias no calendário, vamos descobrir que o número de infectados no Brasil já havia subido para 2.433 casos, com 57 mortes. Ou seja, um aumento de mais de 600 casos em 2 dias!!!   

É IMPORTANTE notar que a Covid-19 já matou mais pessoas em três meses do que a H1N1 em um ano e meio. Portanto, temos motivos para preocupação, sim!

Dados da OMS são preocupantes!

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os dados da Covid-19 conhecidos até o momento da publicação desse artigo indicam que o coronavírus é uma doença mais contagiosa e mais letal que a gripe sazonal.

Enquanto que o número reprodutivo da gripe H1N1 é de 1,5 (cada pessoa infectada passa em média a doença para 1,5 pessoa) o vírus causador do coronavírus é de 2 e 3. Ou seja, o Covid-19 poderá infectar muito mais mais pessoas que a gripe comum se medidas não forem tomadas.

A mídia não falou nada na época da H1N1?

Outro trecho errado do texto compartilhado nas redes sociais é o que afirma que a mídia não deu atenção ao H1N1 na ocasião e que teria tratado o surto como “um simples resfriado”. Na verdade, ao fazer uma busca pelo tema no Google no período de 2009 e 2010, concluímos que os jornais deram bastante espaço para a doença e, inclusive, mostraram a gravidade da epidemia. Essa matéria do G1 – por exemplo – esclareceu as várias dúvidas em relação à gripe suína. Outro exemplo é essa matéria de 2009 da BBC. A Folha de São Paulo também tratou do assunto insistentemente, sem chamar o surto de “apenas um simples resfriado”.

Aqui no E-farsas, entrevistamos duas vezes o biólogo Atila Iamarino (em 2009 e em 2010) a respeito da gripe suína, mostrando a nossa preocupação com o tema na época. O vídeo a seguir é de 2010, quando tratamos de uma vacina que estava em fase de testes: 

Conclusão

O texto compartilhado através de grupos do WhatsApp erra ao comparar a epidemia de H1N1 de 2009 com o surto do coronavírus de 2020, pois os períodos comparados não são compatíveis, além da taxa de mortalidade do COVID-19 ser muito maior que a da H1N1. Os jornais da época deram atenção ao caso.

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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