Saúde
A líder de um movimento pró-aborto morreu durante aborto?
É verdade que a jovem María del Valle González López, líder de movimento pró-aborto, morreu durante aborto, logo após legalização na Argentina?
As publicações que afirmam que uma jovem de 23 anos de idade teria sido a primeira vítima do aborto legalizado na Argentina voltaram a ser compartilhadas nas redes sociais na segunda quinzena de abril de 2022, sendo também espalhadas através de grupos de WhatsApp e de Telegram.
De acordo com o que foi espalhado, a líder de um movimento pró-aborto chamada María del Valle González López teria morrido aos 23 anos de idade durante um procedimento de aborto. A moça teria sido a primeira vítima fatal após a legalização do aborto na Argentina!
Será que isso é verdade ou mentira?
Verdade ou mentira?
Como o texto não é datado, quem lê a manchete pode ter a impressão de que o caso fatal teria ocorrido recentemente (em algumas versões, a notícia está datada como janeiro de 2022). No entanto, o triste caso da ativista aconteceu em abril de 2021 e, sim, ela morreu de complicações que podem ter sido ocasionadas por causa do procedimento abortivo! Mas calma que vamos explicar tudo direitinho.
María era presidente da Juventude Radical de La Paz e no dia 5 de abril de 2021, começou o procedimento de aborto com um medicamento chamado Misoprostol. A família disse que a jovem havia sido orientada pelo médico por telefone a tomar 12 comprimidos do medicamento e, ao ingerir a segunda dose, começou a se sentir mal.
Dias depois, a mãe da moça afirmou que a filha teria tomado os 12 comprimidos e não apenas um. Ela conta que a jovem havia ido a um posto de saúde dias antes, onde recebeu o medicamento e a instruções para o procedimento.
María faleceu 6 dias após tomar o medicamento no hospital Alfredo Ítalo Perrupato, em San Martín (Argentina). Ela estava na 11ª semana de gravidez.
Causa da morte: septicemia
A autópsia realizada pelo Corpo Médico Legal no dia da morte indicou que a jovem teria sofrido um distúrbio hemorrágico ou coagulopatia que gerou um quadro de septicemia generalizada. Segundo especialistas, isso pode ter sido causado por diferentes fatores:
- medicações administradas após a intervenção cirúrgica;
- a própria intervenção
- o aparecimento de uma bactéria que causou septicemia irreversível.
Os laudos da necropsia revelaram que ela morreu de parada cardíaca causada por septicemia, reação do organismo a uma grave infecção.
Caso único naquela unidade hospitalar
Somente no ano de 2020, a rede hospitalar pública de Mendoza – onde a fatalidade ocorreu – realizou 1.267 procedimentos com misoprostol em gestantes que interromperam a gravidez, bem como em maternidades para acelerar a dinâmica do processo (o medicamento também é utilizado para auxiliar no parto). Nenhum outro caso de morte por uso desse medicamento foi registrado.
A administração de 12 comprimidos Misoprostol para o aborto está dentro das práticas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e cumpre o que determina a Lei 27.610 de acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez, que entrou em vigor em 24 de janeiro de 2020 na Argentina.
A Lei também estabelece que é obrigação do sistema de saúde fornecer “informações sobre o procedimento e cuidados posteriores”, “atendimento à saúde durante todo o processo” e “informações e fornecimento de métodos contraceptivos disponíveis”.
Seis meses da nova Lei, nenhuma morte
Em julho de 2021, a Argentina havia passado de seis meses da legalização do aborto e, segundo dados apresentados pela ministra argentina de Mulheres, Gêneros e Diversidade, Elizabeth Gómez Alcorta, nenhuma mulher morreu no país por causa do procedimento pós aprovação da Lei.
Antes da aprovação, cerca de 38 mil mulheres foram hospitalizadas ao ano no país por conta do aborto. Cerca de 3 mil argentinas morreram em decorrência de abortos clandestinos no país desde 1983.
Em entrevista ao site argentino RT, Vilma Ibarra, da Secretaria Jurídica e Técnica do Governo – redatora da Lei 27.610 – disse que antes da legalização, “havia um enorme problema invisível que girava em torno de 370.000 abortos clandestinos por ano […] O que implicava mulheres com problemas de saúde, mortes e condições dramáticas, sociais e econômicas”.
Ainda assim, a Justiça investiga se houve negligência médica no atendimento dessa jovem mulher, pois – apesar da Lei permitir o procedimento abortivo em casa, com acompanhamento telefônico – a mulher tem que terminar o procedimento no hospital, onde são realizados a curetagem e demais procedimentos médicos. A família ainda alega que nem todos os passos anteriores, como apoio psicológico, e posteriores, como os procedimentos corretos no hospital, foram seguidos.
Conclusão
É verdade que uma jovem de 23 anos morreu 6 dias depois de realizar um procedimento abortivo. Laudos médicos indicaram que ela morreu de parada cardíaca devido a uma infecção generalizada. O caso, que aconteceu em abril de 2021, ainda está sendo investigado e a família está processando o Estado por negligência médica!