Agenda Globalista! Um editorial publicado pelo New York Times apoiou a extinção da raça humana?
Durante o período pré e pós-eleitoral aqui no Brasil, o termo “globalismo” (não confundir com “globalização”) foi alvo de inúmeros questionamentos, dúvidas e controvérsias. Para muitas pessoas, o globalismo é a ideologia que preconiza a construção de um aparato burocrático — de alcance global, centralizador e pouco transparente — capaz de controlar, gerir e guiar os fluxos espontâneos da globalização de acordo com certos projetos de poder. Essa tal ideologia teria “predominantemente” um “viés esquerdista”. Algumas pessoas acreditam que, entre esses projetos de poder, por exemplo, estaria incluída a chamada “redução populacional”. O objetivo desta publicação não é discutir o “globalismo”, e nem tem qualquer pretensão de apoiar qualquer viés ideológico. Porém, essa introdução era necessária para que pudessem entender melhor o caso, que estamos prestes a mostrar a vocês.
No dia 9 de janeiro de 2019, o site “OVNI Hoje”, conhecido por republicar textos de cunho ufológico e muitas vezes conspiratório, traduzindo-os para o nosso idioma, publicou um artigo intitulado: “Editorial do New York Times apoia a extinção da raça humana“. No texto é mencionado, que Todd May, suposto professor de química da Universidade de Clemson, “argumentou que o fim da humanidade não seria tão ruim assim.” Segundo o site, “a esquerda tem usado a narrativa do aquecimento global para evocar o medo da iminente extinção humana há anos, mas declarar que o fim da humanidade seria bom para o planeta está levando a agenda de despovoamento global a um nível totalmente novo.” Ainda segundo o site, o jornal norte-americano New York Times (NYT), ao publicar tal editorial, estaria praticamente endossando tal agenda.
Entretanto, será mesmo que se trata de um editorial do New York Times? Todd May é professor de química, na Universidade de Clemson? Ele disse que o fim da humanidade não seria tão ruim assim? O NYT estaria endossando tal agenda globalista? Saiba se tudo isso é verdade ou mentira, aqui, no E-Farsas!
Verdade ou Mentira?
O artigo publicado pelo site “OVNI Hoje” possui uma série de problemas. Entre esses problemas estão:
- O texto publicado no “The New York Times” não faz parte de sua linha editorial principal, não apoia explicitamente a extinção da raça humana, e ainda que apoiasse não representaria a posição do jornal norte-americano sobre o assunto;
- Todd May não é um professor de química da Universidade de Clemson, é um professor de filosofia da referida instituição de ensino;
- A única fonte utilizada não é confiável, visto que o texto é praticamente uma cópia, de um artigo publicado pelo controverso site “Natural News”, que nunca deveria ser utilizado como fonte confiável de pesquisa.
Vamos entender o que foi realmente mencionado, em que seção do NYT isso foi exatamente publicado, quem escreveu o texto, como tudo isso acabou repercutindo e, finalmente, indo parar em sites acostumados a publicar conteúdo de cunho conspiratório.
O Texto Publicado por Todd May Não Faz Parte da Linha Editorial Principal do NYT
Todd May é professor de filosofia da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, e conselheiro filosófico da série norte-americana “The Good Place“, da emissora NBC. No dia 17 de dezembro de 2018, o site do NYT publicou um texto de autoria de Todd, intitulado: “Would Human Extinction Be a Tragedy?” (“A extinção humana seria uma tragédia?“, em português).
Esse texto foi publicado em um blog pertencente ao jornal, chamado “The Stone“, criado em 2010, que se denomina como “um fórum para filósofos contemporâneos e outros pensadores sobre questões oportunas e atemporais.” Esse blog está incluído naquilo que o NYT chama de “Opinionator”, que por sua vez é uma seção destinada ao jornalismo de opinião on-line exclusivo do jornal (também chamada de “OP-Extra”), e possui um moderador próprio.
O texto de Todd May, no entanto, é apenas um artigo de opinião, que não faz parte da linha editorial principal do NYT. Não é possível encontrá-lo listado nas páginas destinadas aos editoriais do próprio NYT, cartas dos leitores, ou de colunistas e colaboradores não afiliados em relação ao editorial. Essa lacuna de distinção, e que pode induzir as pessoas ao erro, está presente no artigo sobre editoriais da Wikipédia, em inglês. No artigo é mencionado, que jornais australianos e importantes dos Estados Unidos, assim como o “The New York Times” e “The Boston Globe“, frequentemente classificam os editoriais sob o título de “Opinion” (“Opinião”, em português”). Apesar de aparecer a palavra “Opinion”, o texto de Todd May não faz parte da linha editorial principal do jornal. Seu texto não representa, e muito menos endossa o posicionamento do veículo de imprensa sobre o assunto.
Agora, seu texto realmente apoia explicitamente a extinção da raça humana? Bem, vamos entendê-lo melhor.
O Artigo de Opinião de Todd May que foi Publicado no NYT
Inicialmente, Todd May disse, que existe uma série de discussões, em âmbito filosófico, sobre a perspectiva da extinção humana, o que não deveria ser tão surpreendente devido as ameaças decorrentes das mudanças climáticas. Ao refletir sobre essa questão, ele quis sugerir uma resposta para uma simples pergunta, que dificilmente cobriria todo o território filosófico, mas que seria um aspecto importante dele. A extinção humana seria uma tragédia?
Logo no segundo parágrafo, Todd disse, que para esclarecer essa questão, era importante distingui-la de algumas outras questões relacionadas. Ele disse que não estava perguntando se a experiência dos humanos chegando ao fim seria uma coisa ruim, e nem mesmo dizendo que os seres humanos, como espécie, mereciam morrer. O que ele estava perguntando era simplesmente, se seria uma tragédia se o planeta não tivesse mais seres humanos. Provisoriamente, antes de responder a essa questão, Todd disse, que sim, seria uma tragédia, mas que isso poderia ser uma coisa boa.
Para tornar tal alegação menos intrigante, Todd falou rapidamente sobre a palavra “tragédia“. Em seguida, ele disse que, no teatro, o personagem trágico é muitas vezes alguém que comete algo errado, geralmente significativo, mas com quem sentimos simpatia em seu declínio. Ele citou alguns exemplos de personagens e disse que, nesse caso, o caráter trágico é a humanidade. É a humanidade que estaria cometendo um erro, um erro que provavelmente levaria a eliminação da espécie, mas com quem, no entanto, podemos ser simpáticos, por algumas razões que serão mostradas daqui a pouco.
Então, Todd faz a seguinte alegação: Os seres humanos estão destruindo grandes partes de terra habitável, e causando sofrimento inimaginável a muitos dos animais que nelas habitam. Segundo ele, isso vem acontencendo de três formas: a contribuição humana para a mudança climática está devastando os ecossistemas; o aumento da população humana está invadindo ecossistemas que, de outra forma, estariam intactos; e a agricultura industrial fomenta a criação de milhões e milhões de animais para os quais oferece apenas sofrimento e miséria antes de abatê-los de maneiras muitas vezes bárbaras. Assim sendo, segundo Todd, não há razão para pensar que essas práticas vão diminuir tão cedo. Muito pelo contrário.
Todd continua sua linha da raciocínio dizendo que, certamente, a própria natureza dificilmente seria um ambiente de paz e harmonia, visto que animais matam outros animais regularmente, muitas vezes de maneiras que nós (não eles) consideraríamos cruéis. Contudo, não haveria outra criatura na natureza, cujo comportamento predatório fosse tão remotamente profundo ou tão difundido, quanto o comportamento que mostramos em relação “as nossas criaturas semelhantes” (expressão cunhada pela filósofa Christine M. Korsgaard, para se referir aos demais animais que dividem o planeta conosco).
Se somente isso fosse considerado, não haveria tragédia. A eliminação da espécie humana seria uma coisa boa, ponto final. Porém, há mais coisa a ser considerada. Segundo Todd, os seres humanos proporcionam coisas para o planeta, que outros animais não podem. Por exemplo, Todd diz que nós proporcionamos um nível avançado de razão, que pode surpreender o mundo de uma forma, que é estranha (quase beirando o sentido forasteiro, devido ao uso da palavra em inglês “foreign“) para a maioria, se não para todos os outros animais. Ele disse que criamos arte de vários tipos, entre elas: literatura, música e pintura. Ele também disse, que engajamos em ciências que buscam entender o universo e o nosso lugar nele, ou seja, se a nossa espécie fosse extinta, tudo isso seria perdido.
No entanto, poderia haver pessoas do lado que ele chamou de “sem tanto entusiasmo”, que poderiam argumentar que, se fôssemos extintos, não haveria perdas, porque não haveria ninguém para quem seria uma perda não ter acesso a essas coisas.
Todd, por outro lado, acreditava que essa objeção não compreendia nossa relação com tais práticas. Ele disse, que apreciamos e frequentemente participamos de tais práticas, porque acreditamos que elas são boas para se envolver, porque achamos que valem a pena. É a bondade das práticas e das experiências que nos atraem. Portanto, seria uma perda para o mundo se essas práticas e experiências deixassem de existir.
Ainda assim, alguém poderia questionar Todd dizendo, que seria apenas uma perda do ponto de vista humano, e que esse ponto de vista não existiria mais se fôssemos extintos. Segundo Todd,isso é verdade. Porém, todo esse conjunto de reflexões está ocorrendo do ponto de vista humano, e que não poderíamos fazer as perguntas que estavam sendo feitas em seu texto, sem situá-las dentro da prática humana da filosofia. Até mesmo para perguntar, se seria ou não uma tragédia se os humanos desaparecessem da face da Terra, seria necessária uma estrutura normativa restrita aos seres humanos.
Em seguida, Todd resolveu analisar essa questão por um outro lado, o lado daqueles que pensam, que a extinção humana seria uma tragédia e, no geral, uma coisa ruim. Assim sendo, ele formulou perguntas desse ponto de vista: A existência dessas práticas não superaria os danos, que proporcionamos para o meio ambiente e os animais contidos nele? Tais práticas não justificariam a existência continuada de nossa espécie, mesmo concedendo o sofrimento que proporcionamos para tantas vidas não-humanas?
Para tentar solucionar essas questões, Todd fez uma outra pergunta: Quantas vidas humanas valeriam a pena sacrificar para preservar a existência das obras de Shakespeare? Se nos fosse exigido um sacrifício humano para salvar suas obras da erradicação, quantos humanos representariam um número alto a ser sacrificado? Todd disse que, em sua opinião, uma única vida humana já seria um número alto (ou, para evitar discussões, uma vida humana inocente). Ainda segundo ele, independentemente do número, este seria bem baixo. Todd também perguntou: Suponha que um terrorista tenha plantado uma bomba no Louvre, e que os primeiros socorristas tenham que escolher entre salvar várias pessoas no museu e salvar a arte. Quantos de nós considerariam seriamente salvar a arte?
Então, Todd questionou quanto sofrimento e morte da vidas não-humanas estaríamos dispostos a tolerar para salvar Shakespeare, nossas ciências e assim por diante. Segundo ele, exceto que acreditemos, que exista uma lacuna moral tão profunda entre o status dos animais humanos e os não humanos, qualquer resposta razoável que venhamos a dar será superada pelos danos e sofrimentos que infligimos aos animais. Também disse, que há muito tormento causado a muitos animais e uma perspectiva muito certa de que isso vai continuar e provavelmente aumentar. Além disso, haveria aqueles que acreditam, que tal lacuna deve, talvez, se tornar mais íntima da riqueza de vidas de muitos de nossas “criaturas semelhantes conscientes”. Segundo Todd, nossa própria ciência estaria revelando essa tal riqueza para nós, ironicamente nos dando uma razão para eliminá-la junto com nossa própria existência continuada.
Considerando esse ponto de vista, alguém também poderia perguntar se seria bom que, aqueles de nós que atualmente estão aqui, déssemos um fim as nossas vidas, de modo a evitar mais sofrimento animal (Todd literalmente quis dizer suicídio em massa, ou seja, que as pessoas se matassem para evitar o sofrimento animal). Embora Todd não tivesse uma resposta final para essa pergunta, deveríamos considerar, que o caso dos seres humanos futuros é muito diferente do caso dos humanos atualmente existentes. Exigir dos humanos atualmente existentes, que eles deveriam acabar com suas vidas introduziria sofrimento significativo entre aqueles, que têm muito a perder morrendo. Em contraste, impedir a existência de futuros humanos não introduz tal sofrimento, uma vez que esses seres humanos não existirão e, portanto, não terão vidas para sacrificar. As duas situações, então, não seriam análogas.
Agora, notem o que Todd escreveu, ipsis litteris: “It may well be, then, that the extinction of humanity would make the world better off and yet would be a tragedy. I don’t want to say this for sure, since the issue is quite complex. But it certainly seems a live possibility, and that by itself disturbs me.” Traduzindo: “É bem provável, então, que a extinção da humanidade tornaria o mundo melhor, mas ainda assim seria uma tragédia. Eu não quero dizer isso com certeza, já que o problema é bastante complexo. Porém, certamente parece uma possibilidade viva, e isso por si só me perturba.“
Ao terminar seu texto, Todd disse, que há mais um aspecto trágico nisso tudo. Em muitas tragédias dramáticas, o sofrimento do protagonista é causado por suas próprias ações. Ele cita que Édipo, ao matar o próprio pai, inicia a sequência de eventos, que leva à sua trágica realização; e é a atitude de Lear em relação à sua filha Cordélia, que leva à sua morte. Assim sendo, devido as nossas próprias ações, pode acontecer que nós, seres humanos, provoquemos nossa extinção, ou pelo menos algo próximo a isso, contribuindo através de nossas práticas para nosso próprio fim trágico.
Todd May Afirmou em seu Texto que Apoia a Extinção da Raça Humana?
O trecho final do artigo de opinião de Todd May é um tanto quanto sombrio, uma vez que Todd apresentou um ponto de vista, que não seria o dele, mas de alguém que poderia vir a pensar em suicídio em massa de seres humanos para evitar o sofrimento animal. Sem dúvida alguma, isso é algo muito perturbador. No entanto, é necessário ter muita cautela, quando estamos lidando com textos filosóficos. Todd é um filósofo, não é um cientista.
Em nenhum momento, Todd disse que apoiava explicitamente a extinção dos seres humanos. Ele simplesmente disse, diante de um limitado contexto filosófico, que seria bem provável, que a extinção humana pudesse tornar o mundo melhor para os animais e o meio ambiente, mas ainda assim seria uma tragédia. Tanto é que, em seguida, Todd disse que não tinha certeza sobre o estava dizendo. Aliás, a tal tragédia seria pelo fato de que, talvez, provoquemos nossa extinção, devido as nossas próprias ações, embora sejamos condescendentes com nós mesmos, devido a nossa superioridade moral em relação as demais espécies, que por sua vez está imbuída em tudo que proporcionamos ao planeta, e que as demais espécies não podem oferecer.
Para ser bem sincero, Todd criou um texto tão confuso ao utilizar palavras com duplo significado, expressões subjetivas e até mesmo redundantes (beirando o erro gramatical), que no fim ele não tem certeza alguma sobre o que pensar. O tempo todo ele usa expressões, tais como: “é bem provável”, “pode acontecer”, “alguém poderia pensar”.
Ele também fez uma série de questionamentos sobre situações extremas, e quais seriam as atitudes das pessoas diante de tais situações, para tentar demonstrar, como exemplo hipotético, que a vida de uma ostra teria o mesmo peso de um ser humano. Bem, essa é a visão dele. Por outro lado, ele disse acreditar, que uma única vida humana seria um preço muito alto a se pagar, por exemplo, para preservar a existência das obras de Shakespeare. A vida humana, nesse ponto, seria mais importante do que a criação das próprias vidas humanas. O próprio Todd May admitiu que o assunto era complexo. Ele infelizmente limitou essa discussão aos efeitos das mudanças climáticas nos ecossistemas, e ao sofrimento dos animais imposto pelo ser humano. Todd, não considerou, por exemplo, um asteroide gigantesco vindo em direção a Terra. Uma ostra não teria capacidade de impedí-lo, mas os seres humanos e os avanços tecnológicos poderiam, quem sabe, desviar sua rota. Como resultado, os seres humanos salvariam não somente a própria espécie, mas a vida animal e a flora do planeta. Em tudo há um preço a se pagar, mas Todd não tem certeza nem mesmo desses preços.
Todd May, uma vez que não é cientista, esqueceu que a natureza pode causar profundas mudanças ambientais por contra própria! A natureza pode ser repugnantemente cruel sem qualquer intervenção humana. Os animais podem causar tanto desmatamento e degradação ambiental, quanto a humanidade faz em escala local. As plantas, assim como os seres humanos, já causaram catástrofes climáticas alterando a composição da atmosfera terrestre.
Enfim, de qualquer forma, Todd May não apoiou explicitamente a extinção da raça humana, não disse que a raça humana merece morrer, e nem que isso seja realmente necessário acontecer. Ele não fornece respostas finais ou tem plena certeza do que disse. O grande problema é que, por estarmos diante de um texto filosófico, muita gente passou a interpretar isso da forma que quis, mediante vieses de confirmação.
A Repercussão Geral do Texto de Todd May
O texto de Todd May acabou repercutindo de forma explosiva em sites de viés conservador, principalmente norte-americanos, porém com outras narrativas criadas a partir do texto.
O site “LifeSite“, por exemplo, pinçou apenas alguns pontos específicos do texto de Todd, para dizer que eles “ecoam um refrão comum de ambientalistas radicais e ativistas do controle populacional, inclusive em ensaios anteriores do New York Times, embora geralmente exijam a limitação de nascimentos futuros em vez de acabar com a raça humana por completo.” Também foi mencionado, que o professor, cujo currículo não apresenta nenhuma formação em ciências ambientais, recebeu críticas negativas de comentaristas pró-vida.
O site “The Daily Wire“, citando um trecho final do texto, diz que a situação de Todd “o levava à posição bastante desconfortável de que ele talvez tivesse que se matar pelo bem do planeta, ou pelo menos favorecer o aborto em massa.” Já o site “National Review“, ironizou o fato de Todd ser um professor de filosofia, e disse que: “O crescente anti-humanismo entre os intelectuais, bioeticistas, ambientalistas e ativistas dos direitos dos animais – frequentemente promovido subversivamente pelo New York Times – é profundamente insalubre e um combustível para o niilismo. Pior, a fobia de seres humanos pode ser perigosa, porque há pessoas mentalmente desequilibradas por aí que não veem essa porcaria como um jogo mental, e podem agir como misantropos“.
Pouquíssimos sites divulgaram o texto de Todd May com uma boa dose de bom senso e reflexão. Um bom exemplo disso foi artigo publicado pelo site “Big Think.”
No artigo do site “Big Think”, foi discutido se essa era uma opinião popular, se as pessoas deveriam ficar preocupadas por isso, quem estava do lado dos seres humanos, se mundo seria realmente melhor sem os seres humanos, e lembrou o simples fato que já ocorreram diversas extinções em massa antes da evolução dos humanos modernos. Em uma delas, o evento de extinção Permiano-Triássico, estima-se que 96% de todos os animais marinhos, e 70% de toda a vida de vertebrados terrestres foram dizimados. A extinção da raça humana não depende exclusivamente das ações tomadas pelos seres humanos. Gostando ou não, somos apenas mais uma, dentre tantas espécies, vivendo em um planeta habitável.
O Artigo do Controverso Site “Natural News” é Mais Problemático
Agora que vocês já conhecem o que foi publicado no NYT, e a repercussão geral do texto de Todd May, chegou a hora de falar do texto publicado pelo site brasileiro “OVNI Hoje”, que é basicamente uma cópia, de um artigo publicado em 7 de janeiro de 2019, pelo site norte-americano “Natural News”.
Novamente, vemos o mesmo modus operandi: são pinçados alguns trechos do texto de Todd May para alegar que, “os argumentos de May também parecem insinuar que vale a pena preservar apenas as culturas que contribuíram com algo que vale a pena. Enquanto outros acadêmicos apontaram o controle populacional ou a redução da população, Mays está saltando diretamente para a extinção total.” Porém, Todd May não disse em momento algum do texto, que vale apenas preservar as culturas, que contribuíram com algo que vale a pena, e nem mesmo insinuou isso.
Basicamente, o “Natural News” tentou criar mais uma narrativa, onde o NYT, considerado por muitos como um veículo de imprensa de centro-esquerda, estaria tentando disseminar a agenda globalista em um outro patamar, muito mais elevado, do que um hipotético plano de redução populacional. De acordo com esse site, o NYT estaria tentando implantar na cabeça das pessoas, que isso é algo normal. No entanto, a publicação do “Natural News” faz apenas suposições em relação ao que foi escrito por Todd May (“parece isso ou aquilo”). O site desconsiderou inúmeras partes do texto de Todd May, e a seção exata onde foi publicado, que sequer é facilmente encontrada pelo leitor comum.
Para completar, foi mencionado que Todd seria um professor de química, talvez em uma tentativa de validá-lo como cientista. Porém, Todd é apenas um filósofo (lembrando que não está sendo julgado o viés ideológico de Todd, somente seu texto), dentre tantos outros que existem ao redor do mundo. Se emitir opinião fosse determinante para o cometimento de um crime, todos nós seríamos culpados de alguma coisa, em diversos momentos de nossas vidas.
Existe, no entanto, uma situação ainda mais grave em relação ao site “Natural News“, visto que ele é um site dedicado à venda de vários suplementos alimentares, promoção de medicina alternativa, alegações nutricionais e de saúde controversas, notícias científicas falsas, e inúmeras teorias da conspiração (incluindo os supostos perigos do flúor na água potável, antitranspirantes, sabão em pó, glutamato monossódico, aspartame) e supostos problemas de saúde causados por ingredientes supostamente “tóxicos” em vacinas, além da suposta e absurda ligação delas com o autismo, que já foi refutada no passado. Sinceramente, seria impraticável descrever a quantidade de absurdos publicados pelo fundador do site, Mike Adams, que se autointitula um “nutricionista holístico”. E, apesar de tantas mentiras e conteúdo falso disseminado pelo “Natural News“, que já foi considerado o pior site anticiência do mundo, este ainda recebe milhões de visitantes mensalmente.
Conclusão
A alegação que um editorial do jornal norte-americano “The New York Times” apoiou a extinção da raça humana é falsa. Todd May não faz parte do conselho editorial do NYT, e seu artigo de opinião foi publicado em blog pertencente ao jornal. Além disso, em seu texto, Todd não disse que apoia explicitamente a extinção da raça humana, e nem insinua, que vale apenas preservar as culturas, que contribuíram com algo que vale a pena no mundo.