Construções
Capa da revista National Geographic é falsa!
Uma das capas mais famosas da revista National Geographic, que mostra duas piramides é fotomontada!
Em fevereiro de 1982, a revista National Geographic, famosa por suas excelentes reportagens e pela qualidade de suas fotos, se rendeu à manipulação digital de fotos.
A capa, considerada um ícone da fotografia mundial, mostrava um grupo atravessando a camelo, em frente às pirâmides de Gizé. Para relembrar, veja uma reprodução abaixo:
Capa da revista National Geographic – fevereiro 1982 – (reprodução)
A foto real, sem manipulação, é a mostrada abaixo:
Essa foto foi feita pelo fotógrafo Gordon Gahan que, enquanto preparava seu equipamento para tirar a famosa fotografia, perdeu o comboio – que passou direto.
Então o fotográfo teve que dar uns trocados aos "modelos" para que estes voltassem e refizessem todo o trajeto.
Com a fotografia em mãos, foi apresenta-la ao pessoal da editora, se deparou com um problema: a imagem foi tirada como paisagem (uma foto horizontal, manja?), era mais larga do que alta! Um problemão, pois a capa da revista é mais alta do que larga, ou seja, layout retrato.
A solução encontrada foi a seguinte: "juntar" um pouco mais as duas piramides, além de mudar a posição dos camelos, deixando-os mais próximos à esquerda da imagem. Nasceu a capa da edição 161, de 2 de fevereiro de 1982.
Na época, a revista justificou-se dizendo que o que fizeram não foi nada demais, pois se o fotógrafo tivesse tirado a foto alguns metros mais à esquerda o resultado seria o mesmo. Nesse caso, segundo os editores, a manipulação foi apenas uma correção.
De acordo com o site Mediatico, de Portugal, a prática de manipulação de fotografias não é tão recente. O texto cita uma reportagem fictícia do "L’Illustration", de 1905 chamada de "Et si le Louvre brûlait". O artigo exibia uma fotomontagem do museu em chamas enquanto bombeiros tentavam apagar o incêndio.
No entanto, a manipulação digital de imagens era considerada novidade no início dos anos 80. Foi nessa época que as editoras começaram a trabalhar com scanners Scitex, máquinas enormes e capazes de transferir imagens para o computador com qualidade razoável. Tirando a questão do preço (que era um pouco alto!), o conjunto – hardware e software – agilizou o trabalho dos profissionais da área.
A discussão sobre até onde vai a ética na manipulação de imagens para o fotojornalismo é bastante polêmica e parece que não vai terminar nunca. O jornalista Judy Kiel escreveu, em 2006, um excelente artigo onde ele expõe os prós e contras do uso desse recurso na fotografia jornalística. Kiel inclusive cita, como exemplo, essa história da capa da National Geographic e como foi a repercussão do fato na época.
Se você se interessou pelo assunto, assista a uma entevista que fizemos com o fotógrafo Alex Villegas, em 2009, onde conversamos a respeito da manipulação de imagens.