Carrefour colocou alarmes antifurto em embalagens de carne devido ao aumento dos preços?
Duas fotos mostrando o que seriam alarmes antifurtos acoplados em peças embaladas de filé mignon vêm causando um certo rebuliço no Facebook. Isso porque as fotos teriam sido tiradas recentemente numa unidade da rede Carrefour em Curitiba/PR.
A responsável pelas fotos? Uma cliente chamada “I. G.”, que se espantou ao se deparar com tal equipamento, e publicou o registro fotográfico em seu perfil no Facebook (arquivo) no dia 7 de dezembro de 2019! Desde então a publicação já obteve mais de 3,3 mil compartilhamentos.
Confira a publicação e as respectivas fotos, abaixo:
Entretanto, será que essas fotos são realmente verdadeiras? Será que estamos diante de uma montagem? Tais equipamentos são, de fato, alarmes antifurto? Eles foram instalados devido a recente alta nos preços da carne bovina? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!
Verdadeiro ou Falso?
Embora as fotos sejam verdadeiras, a adoção de alarmes antifurto não é uma novidade no país ou no exterior, e nem foram implantados exclusivamente devido ao aumento recente do preço da carne bovina. Tal medida já foi adotada inúmeras vezes aqui no Brasil e em outros países ao redor do mundo, mas o foco sempre foi o combate a escalada de roubos de carnes, bebidas, vinhos e até mesmo doces! Portanto, embora o valor elevado seja naturalmente um grande atrativo aos criminosos, o aumento de preços não é único fator desencadeante de tais medidas!
Como de praxe, a seguir explicaremos melhor essa situação para vocês!
“Furtos Roubam Lucros dos Supermercados” (Folha de São Paulo, 2003)
Em maio de 2003, no início do governo Lula, o site do jornal “Folha de São Paulo”, publicou um texto dizendo que ladrões provocavam perdas equivalente a 1% do faturamento do setor. Em contrapartida, redes varejistas estavam investindo em segurança para coibir tais furtos. No final do texto foi mencionada a seguinte frase:
“O furto de carnes congeladas é tão frequente que empresas de segurança no varejo criaram uma etiqueta antifurto especial para baixas temperaturas.“
Etiquetas Antifurto em Redes de Supermercado no Rio Grande do Sul (Diário Gaúcho, 2011)
Em novembro de 2011, o site do jornal “Diário Gaúcho” noticiou que etiquetas antifurto estavam sendo acopladas em salames, queijos, embutidos e carnes. Segundo o site, os dispositivos antifurto já eram afixados principalmente em peças de roupas e calçados, e em embalagens de bebidas caras, chocolates importados, desodorantes, lâminas de barbear e até medicamentos.
O então presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, esclareceu que existia a preocupação em diminuir as perdas, já que muitos estabelecimentos sofriam com os ataques de gangues com três ou quatro pessoas, entre elas até crianças. Ainda segundo ele, todo produto de consumo tinha muito mercado, ou seja, acabava sendo facilmente revendido após o furto.
Vale ressaltar nesse ponto, que naquela época estávamos no primeiro mandato de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).
“Para Evitar Furtos, Mercados Instalam Chip em Peças de Carne” (Catve, 2015)
Eis um trecho do que foi mencionado na reportagem:
“A etiqueta eletrônica foi colocada em carnes nobres como a picanha. Esta peça, por exemplo, com 900g custa R$ 63,00 e o filé mignon, com 1,6 kg, R$ 102,00. A etiqueta é afixada sob a peça de carne e só é desativada quando passa pelo caixa.“
Um detalhe muito interessante é que a reportagem mostrou um embalagem contendo filé mignon custando R$ 102,79, sendo que o quilo estava saindo a R$ 59,90. Esse valor por quilo é superior ao preço cobrado pelo Carrefour nas recentes fotos divulgadas pela usuária “I.G”, no Facebook.
Vale ressaltar nesse ponto, que naquela época estávamos no segundo mandato de Dilma Rousseff.
“Mercados Usam Até Lacres em Peças de Picanha para Tentar Evitar Furtos” (TV TEM, 2016)
Em setembro de 2016, a TV TEM, afiliada da Rede Globo com sede em Sorocaba/SP, noticiou que supermercados de Jundiaí, também no interior de São Paulo, estavam adotando medidas drásticas para tentar evitar furtos, e uma das estratégicas era colocar peças de picanha, um dos produtos mais visados pelos criminosos, em caixas lacradas. Sim, caixas lacradas! Segundo um levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), furtos de produtos em supermercados estavam causado um prejuízo de mais de R$ 6 bilhões às empresas de todo o país.
Ainda segundo a Abras, além da carne, os itens mais furtados eram bebidas e doces. Por isso, os supermercados vinham incluído tarjas magnéticas que acionavam um alarme. Até chicletes estavam sendo “protegidos”, por assim dizer. Curiosamente, o valor cobrado pelo quilo da picanha, exibido na reportagem, era de “apenas” R$ 49,90. Logo, o preço nunca foi um fator estritamente determinante para a implantação de tais “medidas de segurança”. Além disso, carnes com valores inferiores também já contavam com proteção magnética.
Vale ressaltar nesse ponto, que naquela época estávamos no governo interino de Michel Temer.
Adolescente Rouba 30 quilos de Carne de Supermercado em Ribeirão Preto/SP (Revide, 2018)
Eis um detalhe interessante contido no texto:
“Segundo o depoimento dos funcionários no Boletim de Ocorrência (B.O.), a adolescente roubou uma caixa plástica com seis peças de carne e foi abordada quando passava pelo alarme antifurto, que apitou.“
Vale ressaltar nesse ponto, que naquela época continuávamos no governo interino de Michel Temer.
E no Exterior? Vamos Começar Pela França!
O supermercado passou a proteger pacotes de carne – com preço médio de 30 euros (cerca de R$ 80 naquela época) o quilo – com um alarme antifurto semelhante ao usado em peças de roupas.
A direção do supermercado preferiu não comentar a medida, mas seguranças que trabalham no local afirmaram à imprensa francesa que os furtos de comida estariam aumentando na loja. Diga-se de passagem, alguns supermercados costumavam proteger alimentos sofisticados, como o foie gras e o salmão defumado, com discretas etiquetas antifurtos, que eram desmagnetizadas quando o cliente passava no caixa. Portanto, etiquetas antifurtos, embora mais discretas, já eram comumente adotadas na França.
Por outro lado, entidades sociais criticaram a medida e afirmaram que devido à crise e ao aumento do desemprego, que atingia cerca de 10% da população, “algumas pessoas acabavam sendo obrigadas a furtar comida”. Bem, se fosse aplicado no Brasil, seria de se estranhar uma pessoa em estado de necessidade roubar justamente uma peça de picanha ou filé mignon, não é mesmo?
A Adoção de Tais Alarmes Antifurto é Recorrente na Argentina!
Em 2016 e 2018, diversos usuários argentinos no Twitter (1 | 2 | 3) divulgaram imagens de latas de atum dentro de caixas plásticas sendo vendidas em supermercados do país. As fotos foram atribuídas a rede de supermercados Carrefour, que teria adotado tal medida para evitar roubos em algumas unidades de sua rede.
Interessante notar que latas mais baratas não contavam com tais “medidas de segurança”.
Contudo, o grande destaque da imprensa argentina, em 2018 (1 | 2), teve relação com uma medida tomada por um supermercado chamado “Delca”, localizado na província de Santa Fé. O proprietário do estabelecimento, Enzo Pochettino, alegou que estava perdendo dinheiro devido aos constantes furtos de produtos mais caros, principalmente em relação a bebidas e alguns cortes de carne bovina.
Assim sendo, fotos de uma embalagem de carne envolvida numa espécie de “rede”, além de vinhos com alarmes antifurto viralizaram nas redes sociais:
A Situação se Repetiu no Início de 2019
Em março de 2019, a polêmica girou em torno de uma foto mostrando algumas embalagens de carne, em pratos de isopor, envolvidos nessa mesma “rede” de proteção. Dessa vez, a foto teria feito referência a um supermercado chamado “Único”, também localizado na província de Santa Fé.
Naquele mesmo mês, o “El Nueve” (um canal de TV argentino) promoveu um debate durante o noticiário matutino “Telenueve” a respeito da venda de carnes com alarmes antifurto. Durante o debate foram exibidas algumas fotos de embalagens de carne com alarmes antifurtos.
Confira o debate abaixo no YouTube (em espanhol):
Aliás, em algumas dessas fotos podemos notar alarmes bem semelhantes aqueles adotados pela unidade da rede Carrefour em Curitiba/PR:
Naquela mesma época, diversos supermercados argentinos adotaram um espécie de racionamento para a compra de carne. A rede Carrefour voltou a ser citada, uma vez que havia limitado a compra de até 3 kg de carne por corte. Segundo o site de notícias “24CON”, embora as razões para tais ações delimitantes não estivessem claras, as constantes mudanças de preços e estratégias comerciais estariam restringindo certas liberdades dos consumidores.
Tentamos Contato com a Responsável pela Fotografias
Tentamos contato com a usuária “I.G.” para que ela pudesse nos fornecer mais detalhes sobre as fotografias. Queríamos saber a data, horário e unidade do Carrefour onde as fotos foram tiradas. Também questionamos se ela já tinha visto tais alarmes antifurto anteriormente ao aumento do preço da carne, e se ela havia falado com algum gerente ou atendente sobre a presença de tais equipamentos nos produtos. Contudo, não tivemos nenhum retorno até o fechamento deste artigo. Caso isso aconteça, manteremos vocês informados.
Atualização (12/12):
A usuária I.G. respondeu as nossas perguntas na manhã de ontem (11), um dia após a publicação deste artigo. Segundo a usuária, a foto teria sido tirada na unidade de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Ela alegou realizar compras nessa unidade, juntamente com o marido, há anos, mas que nunca tinha visto tais alarmes. Disse também que há cerca de três meses o quilo dessa mesma peça estava custando R$ 25,00.
Em novo contato, no dia de hoje (12), a usuária I.G. alegou que uma amiga teria registrado outros cortes “mais baratos”, assim como o coxão mole, que também contavam com tais alarmes. Ela também disse acreditar que a adoção dessas medidas teria a ver com o aumento do preço das carnes.
Entramos em Contato com a Assessoria de Imprensa da Rede Carrefour
Entramos em contato com a assessoria de imprensa da rede Carrefour, que nos confirmou a utilização de tais alarmes antifurto e a veracidade das fotos. Segundo a assessora de imprensa Fabiele Fortaleza, os equipamentos são utilizados em determinados cortes, sendo que tal medida também é adotada em outras unidades espalhadas pelo país. A assessora também nos garantiu que a prática não tem nenhuma relação com o aumento recente dos preços, e que se trata de uma medida antiga da rede para coibir furtos.
Conclusão
Embora as fotos sejam verdadeiras, a adoção de alarmes antifurto não é uma novidade no país ou no exterior, e nem foram implantados exclusivamente devido ao aumento recente do preço da carne bovina. Tal medida já foi adotada inúmeras vezes aqui no Brasil e em outros países ao redor do mundo, mas o foco sempre foi o combate a escalada de furtos de carnes, bebidas, vinhos e até mesmo doces!
Para completar, a assessoria de imprensa do Carrefour nos garantiu que a prática não tem nenhuma relação com o aumento recente dos preços, e que se trata de uma medida antiga da rede para coibir furtos. Portanto, embora o valor elevado seja naturalmente um grande atrativo aos criminosos, o aumento de preços não é único fator desencadeante de tais medidas!