Cartaz com erro ortográfico em protesto estudantil é verdadeiro ou falso?
Desde a segunda semana de maio de 2019, a foto de uma jovem segurando um cartaz vem viralizando nas redes sociais. O motivo? Um erro ortográfico considerado grotesco por muitas pessoas. No cartaz é possível ler os seguintes dizeres: “Mecheu com a Educação, Mecheu com Todos!” O problema reside justamente na forma de escrever a palavra (verbo) mexer, que é com “X“, não com “CH“. Esse erro acabou sendo utilizado por milhares de pessoas como argumento para provar o suposto baixo nível do ensino superior no Brasil.
Somente uma das publicações, que inclusive ofendeu a jovem, foi compartilhada mais de 57 mil vezes no Facebook! Isso sem contar, é claro, com as inúmeras publicações feitas no Twitter e no próprio Facebook.
Entretanto, será que essa é imagem é verdadeira? Será que ela foi manipulada digitalmente? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!
Verdadeiro ou Falso?
A foto é verdadeira! Não é uma montagem! Porém, há duas observações muito importantes a serem feitas aqui, visto que ela teria sido tirada do seu contexto original.
Em primeiro lugar, essa foto foi compartilhada milhares de vezes como se tivesse sido tirada no dia 15 de maio de 2019, data em que milhares de pessoas foram às ruas, em centenas de cidades pelo Brasil, protestar contra o contingenciamento de verbas na educação. Isso não é verdade. Tudo indica que a foto tenha sido tirada no dia 9 de maio de 2019, na cidade de Muzambinho/MG.
Os jovens que aparecem na foto pertencem ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, que possui um campus na cidade. O protesto foi apenas uma das manifestações, que já vinha ocorrendo dentro e fora do campus, e estava mesmo relacionado ao contingenciamento de verbas na educação.
Posted by IFSuldasMinas on Thursday, May 9, 2019
Em segundo lugar, o Coletivo Feminista “IFSuldasMinas” assumiu a autoria do cartaz. Esse grupo é composto por estudantes do Campus Muzambinho. De acordo com o coletivo, os dizeres do cartaz foram escritos de maneira errada, de forma proposital. Essa seria uma forma de demonstrar como os estudantes poderiam ser afetados pela falta de investimento na educação.
Confira uma espécie de nota publicada no dia 10 de maio de 2019 (arquivo), sobre essa polêmica:
Uma Outra Foto em que Esse Cartaz Aparece
A página “IFSuldasMinas” ainda publicou uma outra foto, no dia 13 de maio de 2019 (arquivo), onde esse cartaz aparece novamente. Porém, vale lembrar que essa foto também teria sido tirada no dia 9 de maio. Confira a foto abaixo:
Nessa outra foto podemos notar que o cartaz está mesmo escrito com “CH“ em vez “X“.
Isso Significa que Esse é o Nível dos Estudantes de Universidades ou Institutos Federais no Brasil?
Não! Vamos considerar por um momento, que o erro ortográfico passou despercebido, e posteriormente o coletivo deu uma desculpa qualquer para justificar o erro. Uma vez que essas frases de ordem acabam sendo pulverizadas em outros protestos ao redor do Brasil, resolvemos ir atrás de cartazes semelhantes. O objetivo? Verificar se esse poderia ser considerado um erro generalizado. Confiram alguns exemplos:
Conforme vocês podem notar não poderíamos considerar isso como um erro generalizado. Aliás, vocês podem pesquisar por conta própria as fotos, com boa resolução, que foram disseminadas através da imprensa e das redes sociais de inúmeros estudantes ou associações de alunos. Muitos até podem questionar a existência ou não de um viés ideológico por trás das manifestações ocorridas no dia 15 de maio. Porém, dizer que o cartaz com “ch” representa o nível dos estudantes de maneira global, ainda que o erro não tivesse sido alegadamente proposital, é impreciso e desproporcional.
Por outro lado, aspas poderiam ter sido utilizadas? Poderiam e deveriam. Cartazes contendo erros ortográficos utilizados em protestos, ainda mais no setor da educação, sempre abrirão margem para esse tipo de crítica. Não importa qual seja o lado. Portanto, nesse caso as aspas eram necessárias para descartar quaisquer dúvidas.
E as Demais Fotos que Circulam na Internet?
Temos ciência de outras imagens, algumas com baixíssima resolução, que viralizaram nas redes sociais. Porém, encontrar a fonte e analisar adequadamente fotos repletas de artefatos consome tempo e paciência. Portanto, é difícil prometer se faremos análises de outras imagens. Não havíamos encontrado essa foto até nos depararmos com uma publicação falsamente atribuída a estudantes de Cubatão, da página “Direita Cubatense”, no Facebook (arquivo). Nesse sentido, gostaríamos de agradecer a pronta colaboração da página da “Associação dos Estudantes de Cubatão” (AEC), que nos apontou a origem da foto.
Já em relação a algumas fotos com boa resolução, de faixas impressas contendo erros ortográficos, é possível que alguns casos sejam frutos de erros da gráfica responsável pelo material. Algo que infelizmente é comum. Por outro lado, a utilização de material incorreto em protestos também abre margens para críticas. Sendo um protesto a favor da educação, não soa muito sensato utilizar tais faixas, caso o erro realmente tenha sido previamente notado. Enfim, cada um com sua consciência.
Conclusão
A foto é verdadeira! Ela foi tirada durante um protesto estudantil na cidade de Muzambinho/MG, no dia 9 de maio de 2019. Porém, segundo o Coletivo Feminista “IFSuldasMinas”, que assumiu a autoria do cartaz, os dizeres foram escritos de maneira errada, de forma proposital. Essa seria uma forma de demonstrar como os estudantes poderiam ser afetados pela falta de investimento na educação. Portanto, em princípio, a foto foi tirada de contexto. Essa é a razão pela qual classificamos o caso como “Fora de Contexto”, embora a foto seja autêntica.
Por outro lado, aspas poderiam e deveriam ter sido utilizadas para descartar quaisquer dúvidas. Cartazes contendo erros ortográficos utilizados em protestos, ainda mais voltados a educação, sempre abrirão margem para esse tipo de situação. Não importa qual seja o lado. De qualquer forma, dizer que o cartaz com “ch” representa o nível dos estudantes de maneira global, ainda que o erro não tivesse sido alegadamente proposital, é impreciso e desproporcional.