Cientistas brasileiros descobriram que a proxalutamida cura a COVID-19?
Será verdade que cientistas brasileiros descobriram que a proxalutamida é a cura definitiva para o novo coronavírus?
A descoberta foi compartilhada através de grupos do WhatsApp na segunda quinzena de março de 2021 e comemora um estudo com a cura definitiva da COVID-19 feito por um grupo de médicos brasileiros e norte-americanos em pacientes com a doença.
Segundo o texto, a proxalutamida seria o medicamento que cura em poucos dias, principalmente dos pacientes acometidos pela variante P1.
Será que isso é verdade mesmo?
Verdade ou mentira?
No dia 16 de março de 2021, uma pesquisa feita pelo grupo hospitalar brasileiro Samel em parceria com a empresa norte-americana de biotecnologia Applied Biology apontou que a proxalutamida pode ser capaz de reduzir o tempo de internação e o número de mortes por COVID-19. No entanto, o estudo ainda não foi publicado em nenhuma revista científica e sequer foi validado por outros cientistas.
O resultado do estudo foi apresentado apenas em Power Point, em uma coletiva de imprensa:
A proxalutamida
A droga objeto do estudo é um anti-androgênico usado no tratamento de cânceres relacionados à testosterona como o câncer de próstata. Ainda sob investigação, ela ainda não é comercializada no Brasil e tampouco foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o uso contra o novo coronavírus. Aliás, o uso da proxalutamida contra a COVID-19 também não foi aprovado na FDA (órgão equivalente à Anvisa nos EUA) ou por qualquer outra agência regulatória de outros países.
O estudo
De acordo com o grupo que estudou o medicamento, foi acompanhada a evolução do quadro clínico de 590 pacientes pacientes hospitalizados com o novo coronavírus em 12 unidades de saúde de nove cidades amazonenses, sendo administrada a proxalutamida em 294 pacientes e placebo (uma substância parecida com a droga, mas sem efeito) nos demais doentes com o novo coronavírus.
Os autores do estudo relataram que houve 92% de redução na mortalidade dos pacientes que foram submetidos à proxalutamida e uma diminuição do tempo de internação.
São necessários mais testes e dados
Apesar de publicações nas redes sociais estarem espalhando que a proxalutamida seria a solução definitiva para a cura do novo coronavírus, a verdade não é bem essa. Em entrevista ao portal UOL, o infectologista e professor da Unesp (Univesidade Estadual Paulista) Alexandre Naime explica que:
“Analisando o power point, não dá para saber qual foi o tratamento base, isso é, se além da proxalutamida, os pacientes receberam corticoide, qual foi o tipo de uso do oxigênio ou qualquer outro tipo de intervenção. Sem saber o que os participantes de cada grupo receberam nos 12 hospitais diferentes, é impossível analisar se o efeito de fato foi pelo uso da proxalutamida”
Ao jornal Estadão, a médica infectologista e professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Conceição Pedroso disse que ainda é cedo demais para afirmar que essa é a droga para a cura definitiva da COVID.
“Não se pode dizer que a droga é ‘milagrosa’ até que o estudo seja detalhado em um artigo e depois analisado pela comunidade científica.”, disse a doutora Conceição.
Em entrevista ao jornal Estadão, o próprio co-autor do estudo, Carlos Wambier, diz que os pesquisadores não confirmam que a proxalutamida seja a cura para a covid-19, pois ainda são necessárias mais investigações, inclusive para validar se o mesmo efeito pode ser observado em diferentes populações e com variantes virais.
Conclusão
É errado afirmar que a proxalutamida cura a COVID-19! Foi divulgado um estudo feito com 590 pacientes no estado do Amazonas que mostrou significativa redução na quantidade de mortes e de tempo de internação, mas o artigo ainda não foi publicado em nenhuma revista científica e ainda é preciso muitos testes para a comprovação da eficácia do medicamento!