Lenda - leite longa vida

Mensagem recebida em janeiro de 2006 - texto sem correção

Re: Leite (importante)

“Serviço de Utilidade Pública”

Muita atenção quando forem comprar leite em caixinha!

Fiquei sabendo por fontes seguras que, por não serem vendidas até determinado prazo, essas caixinhas voltam para a fábrica para que o leite seja repasteurizado! Isso pode ocorrer por até 5 vezes, o que acaba deixando o leite com um sabor diferente, aumentando a possibilidade dele coalhar e reduzindo significativamente sua qualidade, já que o teor nutricional diminui.

Ao voltarem para a venda ao consumidor final, o pequeno número que está marcado na figura acima com o círculo vermelho é alterado. Esse número varia de 1 a 5 e o ideal é comprar até o número 3, acima disso, a qualidade do leite estará bem ruim.

Esse pequeno número fica localizado no fundo da caixinha, se você for comprar uma caixa fechada, basta verificar apenas uma embalagem, todas as outras terão a mesma numeração.

Por exemplo, se uma embalagem tiver o número 1, significa que é a primeira vez que sai da fábrica e chega ao supermercado para a venda final, já se tiver o número 4, significa que ele já foi repasteuridado 4 vezes e depois retornou para o supermercado para a venda final e assim por diante...

Dêem mais atenção, principalmente, quando a oferta for muito boa, geralmente, o supermercado coloca um valor menor para os produtos que já passaram várias vezes por esse processo, os de número 4 e 5.

Essas informações são de uma pessoa que já trabalhou na indústria alimentícia e conhece todo esse processo, por isso, não deixem de fazer sempre essa observação!

Saúde a todos!

O texto que está circulando desde novembro de 2005 chegou até a nossa caixa de entrada em janeiro de 2006 e nos deixou de cabelo em pé! Será possível que o leite longa vida é reaproveitado?

Depois de algumas rápidas pesquisas, chegamos à seguinte conclusão: O e-mail é falso!

Logo de cara, já deparamos com a primeira "falha" que denuncia a fraude: O texto não tem identificação! Todas as pessoas que nos mandaram esse foram unânimes. Nenhum dos remetentes foi o autor do texto. Todos apenas nos repassaram. E, na internet, é sempre assim... quando o autor não usa o nome de alguém famoso, simplesmente não assina o texto.

Primeira pergunta: Quem são as fontes seguras? Não se sabe. Desde que começamos o E-farsas.com percebemos nos textos uma necessidade que os autores têm de dar ao texto um clima de conspiração e de que "só eu sei, e nem a imprensa sabe!".

De acordo com as respostas dadas pelos SACs das empresas de laticínios brasileiras, o leite "vencido" é recolhido por outras empresas credenciadas que reciclam as embalagens e usam o leite para a fabricação de ração animal.

O nosso colaborador Leandro Araujo de Lima apurou que o custo da suposta reciclagem seria muito mais alto do que o da produção. É muito mais barato usar leite "zero quilometro" do que ter esse trabalho de reciclar o leite velho e depois ainda coloca-lo em uma nova embalagem (ainda tomando o cuidado de colocar um número no fundo da bagaça!). Leandro nos conta que, de acordo com suas pesquisas, a embalagem longa vida custa quase o dobro do valor do leite que vai dentro dela.

É! Não compensa! A menos que a embalagem também seja reaproveitada e o número, repintado no fundo da embalagem. Mas aí seria mais dispendioso ainda! Iria dar um trampo do caramba.

Imagina só a cena: um funcionário vai aos depósitos dos supermercados, recolhe os encalhes e leva-os de volta à empresa. Lá outros funcionários abrem as embalagens - com o maior cuidado pra não danifica-las - e "repasteurizam" o leite vencido. Depois, os empregados recolocam o leite de volta nas embalagens, selam de novo e, pra não se perderem, apagam o número antigo e pintam um novo no lugar! Ufa! que trabalho, hein?

Caso essa história do reaproveitamento do leite para humanos seja verdade, eles (as empresas) não dariam essa "brecha" de deixar o número marcado no fundo das caixinhas, não é?

Para testar essa estranha teoria, procuramos em alguns supermercados algumas caixas de leites e, para nossa surpresa, não havia nenhuma caixinha de leite com o número "1"! Será que as empresas só estão vendendo leite "repasteurizado"? Achamos que não.

Chegamos à uma outra conclusão: se o autor do texto nos alerta que o leite "ideal" é o de número 3, e as empresas nos aconselham a consumir o leite em até 6 meses após a fabricação, então estaremos tomando um leite de mais de um ano e meio de vida! Que horror!

O autor encerrou com chave de ouro esse "brilhante" texto. Nessas últimas linhas o escritor afirma que essas "informações" são de uma pessoa que já trabalhou nesse ramos e sabe de tudo. É claro que ninguém nunca vai ficar sabendo quem é essa pessoa por três possíveis motivos:

Segundo - essa pessoa que passou essa informação existe de verdade, mas inventou tudo;

Terceiro - essa pessoa existe mesmo e a história é real: o leite é reaproveitado mesmo e, por isso, ninguém poderá saber quem fez essa denúncia por uma questão de segurança!

Os irmãos Gabriel e André Prado, nossos leitores assíduos, entraram em contato com o SAC da Batavo (empresa de laticínios) e receberam a seguinte resposta:

... de acordo com a legislação vigente o leite cru não pode sofrer duas vezes tratamento térmico e que temos o SIF (Serviço de Inspeção Federal) na planta de nossa fábrica fiscalizando todo o nosso processo produtivo.

Em relação aos produtos vencidos recolhidos nenhum produto retorna à fábrica, uma vez que somos fiscalizados pelo SIF, que não permite a entrada na fábrica de produtos vencidos/ deteriorados. Os produtos vencidos são enviados a uma empresa credenciada a qual faz a destruição do produto, reciclando a embalagem e destinando o conteúdo para ração animal.

A diretora de comunicação da Tetra Pak, Carla Coelho, informa que "infelizmente se trata de mais uma lenda urbana sem fundamento e que acaba afetando as empresas". Ela explica que a numeração no fundo de embalagem é relativa à uma marcação chamada número de ordem de produção. "A cada pedido de embalagens feito por uma empresa produtora de leite é gerado um número seqüência, que serve para o rastreamento da produção", explica. Os números entre um e cinco que aparecem na embalagem referem-se ao posicionamento da bobina.

O diretor comercial da Leite Shefa, Pedro Ribeiro, nega o que é informado no e-mail. Segundo ele, a operação de recolhimento e repasteurização do leite longa-vida, além de proibida pela legislação nacional, também seria inviável para a indústria do setor. "O leite longa-vida tem validade de 120 dias fechado e este produto não chega a ficar duas semanas na prateleira dos supermercados", garante Ribeiro, que representa a segunda maior empresa do segmento em volume.

Segundo o diretor, a notícia não tem o menor fundamento. Ele lembra, ainda, que todas as embalagens tetra pak utilizadas para sucos, atomatados e outros produtos saem de fábrica com o número impresso. Números de supostos prejuízos que podem ser causados pela onda de boatos às indústrias do setor não existem. No entanto, Ribeiro admite que isso pode ocorrer se não houver um contra-ataque das informações. "Um consumidor mal informado pode estragar um setor em pouco tempo e afetar todo o segmento", diz.

		Título:		O LEITE LONGA VIDA REAPROVEITADO
		Status:		Falso!
		Publicado em:		11 de abril de 2006