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Crianças com problemas físicos são enterradas vivas por índios!

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Crianças com problemas físicos são enterradas vivas por índios!

Trecho do documentário Hakani mostra índios enterrando crianças com problemas mentais ou físicos, ainda vivas! As cenas são fortes, mas são reais?

O vídeo apareceu na web em 2010, mas voltou a circular com força nas redes sociais em outubro de 2013. Seria um trecho de um documentário chamado Hakani, que mostra que crianças com problemas físicos ou mentais (e também filhos resultantes de relações extraconjugais) são enterradas vivas pelos líderes da tribo!

Vídeo mostra índios enterrando crianças vivas! Verdadeiro ou  falso?

Vídeo mostra índios enterrando crianças vivas! Verdadeiro ou falso? (foto: Reprodução/YouTube)

As cenas são fortes! Um índio adulto agarra um garoto, aparentemente com problemas nas mãos, e o joga em uma vala que haviam acabado de cavar. Depois de deixar o menino desacordado, vai jogando terra sobre o corpo e no rosto do moleque inconsciente até deixa-lo completamente enterrado.

Se tiver nervos de aço, assista ao trecho abaixo e descubra conosco se isso é verdadeiro ou falso:

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Verdadeiro ou falso?

Se você ficou horrorizado(a) com o vídeo acima, pode ficar tranquilo(a). Ele é falso!

Hakani é um pseudo-documentário feito por uma entidade norte-americana chamada Youth With a Mission, que atua aqui no Brasil desde 1975 e conhecida aqui como “Jocum” “Jovens Com Uma Missão”. O diretor do Hakani se chama David L. Cunningham e é filho do fundador da instituição.

No próprio site do projeto Hakani é explicado que o filme foi feito com índios de verdade, mas que eles foram pagos para atuar (receberam cachê). A terra que é usada para cobrir o rosto do indiozinho no chão e, na verdade, BOLO DE CHOCOLATE!

Essa afirmação também foi repassada a várias agências de notícia como a prestigiada Reuters, por exemplo.

Tudo ali foi encenado!

O filme tem esse nome em homenagem a uma pequena índia da tribo Suruwaha chamada Hakani, que foi adotada por missionários evangélicos, Márcia e Edson Suzuki. Os novos pais da índia afirmam que membros da tribo tentaram matar Hakani, enterrando-a viva aos dois anos de idade, porque ela ainda não havia começado a andar e nem a falar nessa época.

Graças ao irmão mais velho que a teria desenterrado a tempo e fugido com ela, dizem os Suzukis, a garota pode ser adotada por eles e hoje, mais de uma década depois, anda e fala normalmente (Hakani tinha algumas disfunções na tireoide que puderam ser tratadas com sucesso!).

O jornal USA Today afirma que, apesar da família Suzuki possuir os registros hospitalares e fotos do estado debilitado de saúde na qual encontraram a garotinha, não há como verificar se o que dizem a respeito da tribo é verdade ou não.

De qualquer maneira, o casal se uniu ao diretor de cinema americano David Cunningham para criarem o filme Hakani. A ideia seria a de recriar uma suposta tentativa de assassinato de uma criança para mostrar como o infanticídio seria recorrente em todas as tribos indígenas no Brasil.

O documentário foi jogado na internet e exibido em diversas igrejas nos EUA e no Brasil para angariar dinheiro e chamar a atenção para o infanticídio que estaria ocorrendo no nosso país. No entanto, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) considerou “escusa” a origem do filme e teme a generalização inadequada de uma tradição indígena e garante que o assassinato de crianças com deficiência não é comum a todas as etnias. Mesmo entre as tribos que ainda tem esse costume, já existem alternativas de adoção das crianças doentes por outras famílias para evitar as mortes, afirma a fundação.

Sobre o documentário, o antropólogo britânico Stephen Corry, diretor da ONG Survival International afirma que:

“Há décadas que os missionários evangélicos escondem seu trabalho, especialmente em lugares como América do Sul, que tem uma tradição católica muito forte. A Jocum foi expulsa de certas áreas do Brasil, mas continua lá ilegalmente.”

A Survival acusa o filme de “uma ferramenta feita para grupos cristãos evangélicos para aumentar a sua capacidade de se espalhar a crença religiosa, apesar das preocupações do governo brasileiro sobre os seus métodos!”. A ONG também afirma que a questão do infanticídio amazônico tem sido distorcida e inflada e, por isso, as pessoas pensam que a matança de bebês é comum entre os índios, enquanto que na prática isso é raro de acontecer.

Para refutar ainda mais essa história, a ONG também argumenta que: “Enquanto que as tribos indígenas do Brasil estão sendo expulsas de suas terras ou mortas por fazendeiros, mineradores e madeireiros… A questão do infanticídio é apenas uma distração destrutiva.“.

A jornalista Sandra Terena! (foto: Divulgação)

A jornalista Sandra Terena! (foto: Divulgação)

O outro lado

Em 2009, uma jornalista e documentarista descendente de índios chamada Sandra Terena, após assistir ao filme Hakani, resolveu verificar em campo essa história de infanticídio indígena e descobriu que seu próprio povo ainda praticava o infanticídio. Naquele mesmo ano ela produziu o documentário “Quebrando o Silêncio” que acabou ganhando o Prêmio Internacional Jovem da Paz.

Nota do E-farsas

Uma coisa importante a deixar claro aqui é que a cultura indígena é diferente da do “homem branco”. O que parece ser uma coisa monstruosa aqui para nós é vista com outros olhos pelos índios. De forma inversa, é de se imaginar que algumas tribos poderiam achar terrível os brancos que deixam os filhos quase morrendo, a espera de um atendimento no hospital (sempre lotado por causa da falta de médicos, que não ganham o suficiente para se manter ali ou sem remédios adequados, pois a verba para a saúde não foi administrada corretamente), ou que muitos governantes deixem crianças passando fome nas escolas, pois desviam toda a verba da alimentação para seus bolsos.

O que dizer então das crianças que morrem todos os dias nas ruas das grandes cidades? Muitas delas sem direito à educação, moradia, pais, alimentação…

Pensando de forma fria, a comunidade indígena vive em forma de cooperação. Indivíduos que não podem contribuir com as atividades rotineiras da tribo podem causar um peso extra ao grupo, que correria o risco de não conseguir alimentos para todos.

É fácil para nós, que temos como conseguir facilmente alimento ou medicamento até pela internet e no conforto dos nossos lares, julgar o infanticídio indígena (se é que ainda ocorre).

Algumas tribos vivem em situação de miséria e não tem a quem recorrer no caso de uma doença grave. O governo? Esse não dá conta nem dos seus eleitores… Enquanto isso, o líder da tribo vai usando do conhecimento da sua comunidade e trata seus enfermos com chazinhos e pedidos aos deuses para que a cura (ou a morte) venha rápido!

Conclusão

O vídeo é falso! Foram usados atores na produção e o indiozinho não foi enterrado de verdade. Seu rosto foi coberto com farelos de bolo de chocolate. O assassinato de crianças doentes pode ter sido uma prática ocorrida em algumas tribos indígenas, mas não acontece da maneira como foi mostrado no vídeo.

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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