Falso
Cuba adotou com sucesso a cloroquina no tratamento de pacientes da COVID?
É verdade que o governo cubano adotou com sucesso o uso de cloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus?
O assunto voltou a ser comentado nas redes sociais no dia 19 de maio de 2021, depois que o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou na Comissão parlamentar de Inquerito (CPI) que a ilha cubana teve sucesso no combate ao novo coronavírus após adotar um protocolo baseado no uso de cloroquina.
“Estamos falando de 29 países que hoje têm protocolos de uso de cloroquina no mundo contra COVID. Países como China, países como Coreia do Sul, países como Cuba, que é mundialmente conhecida pela medicina avançada. Cuba tem um protocolo enorme para uso de cloroquina para COVID. Eu tenho esse protocolo todo impresso. Cuba tem um grande protocolo para uso de cloroquina para COVID”, afirmou o general da ativa aos senadores em seu depoimento.
Será que Cuba diminuiu os casos de COVID após o uso de cloroquina?
Verdade ou mentira?
A cloroquina e a sua derivada hidroxicloroquina são medicamentos usados no tratamento e profilaxia de malária, além de auxiliar no tratamento de amebíase extraintestinal, artrite reumatoide e lúpus eritematoso.
Após ficar famosa por suposta cura de pacientes com a COVID-19, a cloroquina passou por inúmeros testes e, desde maio de 2020, estudos vem comprovando que estas drogas não são eficazes contra o novo coronavirus.
A procura pelo medicamento aumentou tanto que, em julho de 2020, a Anvisa publicou uma resolução proibindo a venda desses fármacos sem receita médica.
Em abril de 2021, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizette Giamberardino Filho, esclareceu durante audiência pública da Comissão Temporária da Covid-19 do Senado que a entidade “não recomenda e não aprova tratamento precoce e não aprova também nenhum tratamento do tipo protocolos populacionais [contra a covid-19]”. A posição é parecida com a da Organização Mundial de Saúde, que recomenda o não uso de cloroquina e hidroxicloroquina em tratamentos contra a COVID-19 por entender que seu uso é ineficaz, além de trazer sérios efeitos colaterais aos pacientes.
Mas e Cuba?
Voltando à Cuba, a ilha caribenha não adotou protocolo de combate ao coronavirus com cloroquina! Essa desinformação parece ter começado aqui no Brasil em publicações feitas em um site em julho de 2020, mas os dados apresentados pela reportagem distorcem falas das fontes originais.
O texto se baseia em declarações do pesquisador cubano Agustín Lage, consultor de um grupo de organizações que colabora com o Ministério da Saúde Pública de Cuba, mas uma busca pela reportagem completa revela que o especialista também disse que não há como provar que o medicamento influenciou ou não na melhoria dos pacientes.
Em entrevista à Folha em julho de 2020, o pesquisador Agustín Lage disse:
“Eu não disse que a cloroquina foi responsável pela baixa mortalidade da covid-19 em Cuba. Este é um dos medicamentos, dentre outros. Na verdade, a baixa mortalidade no país é resultado da política de saúde estabelecida em plano único que envolve muitos ministérios e organizações do Estado e que inclui ações epidemiológicas e clínicas”
Aliás, o site Covid19CubaData lista o protocolo para o tratamento de pacientes cubanos com COVID e mostra que o governo não inclui hidroxicloroquina na lista de medicamentos recomendados. Esse site é atualizado pelo governo da ilha caribenha e disponibilizado para consulta por jornalista.
Situação atual da pandemia em Cuba
Basta uma simples busca no Google por “coronavirus cuba” para verificar que a informação de que os casos da doença em Cuba caíram é falsa. O gráfico abaixo mostra o contrário:
Medidas severas de restrição
Em abril de 2021, o governo cubano adotou medidas drásticas para tentar diminuir o contágio. Dentre as medidas estão restrições de mobilidade na ilha e sinalizações em casas onde possa haver pessoas contaminadas. O país tem média de quase 1.100 casos diários, cerca de 31% a mais que no fim de março de 2021.
A boa notícia é que Cuba começou a vacinar seu povo com imunizantes desenvolvidos no próprio país. Foram 5 projetos aprovados que trazem esperança aos cubanos.
Atualização: 27/05/2021
Alguns leitores entraram em contato para nos alertar de que há menção à cloroquina e derivados no protocolo cubano para pacientes com COVID. Achamos que cabe aqui mais alguns esclarecimentos.
O documento cita, de fato, a palavra “cloroquina” em algumas páginas, mas como uma recomendação para somente casos leves da doença. Mesmo assim, a recomendação é que o medicamento seja usado em doses baixas e em combinação com outros fármacos. Portanto, é errado afirmar que Cuba teve sucesso no combate à COVID com o uso de cloroquina.
Na página 25 do protocolo, há avisos bem claros sobre os efeitos colaterais da cloroquina:
Vários estudos, como esse feito em Cuba e publicado em novembro de 2020, mostram que a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina não foi totalmente comprovada, uma vez que os resultados não foram conclusivos. O mesmo estudo também alerta para as reações adversas desses medicamentos, sendo as reações cardiovasculares as mais perigosas, uma vez que ocorreram com certa frequência e em relação à dose administrada.
Conclusão
Não é verdade que Cuba adotou com sucesso protocolo incluindo cloroquina para pacientes com coronavirus. O medicamento e seus derivados chegaram a ser usados há quase um ano atrás, mas o governo de lá já não recomenda mais seu uso contra a COVID-19.