Conspirações
É verdade que a Polícia Federal não pôde investigar o celular do Adélio Bispo?
Postagens comparam o trabalho de investigação do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro com a suposta falta de análise do celular de Adélio Bispo! Será verdade?
A afirmação começou a se espalhar através das redes sociais na primeira semana de maio de 2023, após a Operação Venire, da Polícia Federal, executar mandados de busca e apreensão em uma das residências do ex-presidente e de alguns de seus aliados, no dia 03 de maio de 2023.
Dentre equipamentos apreendidos pela PF estava um aparelho de celular pessoal de Jair Bolsonaro e, segundo o que se espalhou, isso seria um exagero, pois a mesma polícia não teve afinco igual quando deveria ter investigado o celular de Adélio Bispo.
É verdade que o celular do Adélio, o homem que esfaqueou o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro em 2018, foi poupado das investigações da tentativa de assassinato?
Verdade ou mentira?
A afirmação contém algumas inverdades que, numa leitura rápida, podem até passar despercebido. Além disso, o texto junta dois fatos não relacionados para tentar convencer o leitor de que a Polícia Federal estaria exagerando com o ex-presidente em um caso “sem nenhuma gravidade”, como a “simples” adulteração de uma carteirinha de vacinação, e “pegado leve” no atentado cometido contra ele.
Para começo de conversa, a Polícia Federal não confiscou o celular do ex-presidente apenas por causa de simples adulteração de carteirinha de vacinação. A Operação Verine foi deflagrada em Brasília e no Rio de Janeiro para averiguar também como dados falsos teriam sido inseridos nos sistemas SI-PNI e RNDS, do Ministério da Saúde, entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.
O objetivo da fraude, segundo informações da PF, era o de burlar as restrições sanitárias impostas pelo Brasil e Estados Unidos e o esquema envolve diversos aliados e familiares do ex-presidente.
Os envolvidos nesse caso podem responder por:
- Crimes de infração de medida sanitária preventiva;
- Associação criminosa;
- Inserção de dados falsos em sistemas de informação;
- Corrupção de menores.
Esse último se deve ao fato da polícia ter indícios de que a filha do ex-presidente aparece em registros do Ministério da Saúde como se tivesse tomado a vacina contra a COVID-19.
A PF não pôde investigar o celular do Adélio?
Não é verdade que a Polícia Federal não investigou o celular do Adélio Bispo, autor da facada contra o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, no dia 06 de setembro de 2018. Dois dias após o atentado, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, determinou a quebra de sigilo em 4 aparelhos celulares e 1 notebook usados por Adélio Bispo de Oliveira.
Falamos sobre isso (e sobre outras ações da polícia) em um episódio do Fake em Nóis em 2021, quando o caso fez 3 anos:
Em janeiro de 2021, surgiu um rumor semelhante, afirmando que o STF teria proibido Jair Bolsonaro de ter acesso às mensagens contidas nos celulares de Adélio Bispo. Na ocasião, explicamos que essa afirmação era falsa, pois a defesa de Bolsonaro teve total acesso ao conteúdo das investigações sobre o atentado contra ele.
Curiosamente, a defesa de Jair Bolsonaro perdeu o último prazo para recorrer da decisão que absolveu Adélio Bispo da agressão por considerá-lo inimputável. Em julho de 2019, a 3.ª Vara Federal da Justiça Federal em Juiz de Fora afirmou que a sentença transitou em julgado, visto que não houve apresentação de recurso pela defesa da vítima.
Em abril de 2021, a mentira afirmando que a PF não periciou os celulares de Adélio voltou a circular, sendo desmentida por várias agências de checagem.
Conclusão
Não é verdade que a Polícia Federal não investigou o conteúdo do celular de Adélio Bispo!