Exame aponta para um caso de reinfecção de COVID-19 em Birigui/SP?
Recebemos uma interessante sugestão de pauta através de nossa página no Facebook. Um usuário nos questionou se um determinado exame, que vem sendo compartilhado na plataforma, retrata um caso de reinfecção pelo novo coronavírus.
Confira abaixo a publicação (arquivo):
Assim como o respectivo exame:
No papel é possível notar que a paciente, uma moradora da cidade de Birigui, interior do Estado de São Paulo, testou positivo para COVID-19 em julho de 2020, e voltou a testar positivo no início deste mês!
Entretanto, será que estamos realmente diante de um caso de reinfecção pelo SARS-CoV-2? Descubra agora, aqui, no E-farsas!
Verdadeiro ou Falso?
Indeterminado! Embora o exame seja verdadeiro, ainda é prematuro dizer que se trata de um caso de reinfecção de COVID-19. Somente esse exame não é garantia alguma que estejamos diante de uma reinfecção propriamente dita.
Conversamos com o Prof. Me. Everson Stábile, Sócio-Proprietário do Examedic Exames Laboratoriais
Na manhã de hoje (5), entramos em contato com o Everson Stábile, que é sócio-proprietário da Examedic — o laboratório responsável pelo exame. Ele nos confirmou que a paciente, de 48 anos, testou positivo para o novo coronavírus em julho de 2020. Na época, a paciente apresentava um quadro gripal, não necessitou de internação, e posteriormente se recuperou.
Recentemente, ela voltou a apresentar os mesmos sintomas e, mais uma vez, testou positivo. A diferença é que dessa vez cerca de 25% do pulmão da paciente estaria comprometido e os sintomas estariam mais intensos do que em julho. Rapidamente, diante dessa situação, logo pensamos que a paciente teria contraído Covid-19 pela segunda vez. Contudo, pode não ser bem assim!
Segundo Everson, ainda é muito prematuro afirmar que estamos diante de um caso de reinfecção! Particularmente, ele acredita que seja um residual, um quadro de latência, por assim dizer. E o que isso significaria? O vírus pode ter começado a infectar a paciente em julho, “adormeceu”, entrou em latência, e a paciente melhorou dos sintomas. Porém, semanas depois ele pode ter retomado sua atividade, começado a se reproduzir, e voltado a causar os mesmos sintomas. Também poderia ser o caso da paciente não ter gerado uma resposta imunológica eficiente.
Infelizmente, não sabemos o que aconteceu. Seria necessário, por exemplo, sequenciar o vírus para saber se o mesmo de julho ou não. Não é algo simples, demanda tempo, além de análises suplementares. Questionamos Everson se essa investigação seria feita, mas segundo ele, a Examedic é apenas laboratório de análises clínicas, não de pesquisa.
Isso não quer dizer…
…que a Covid-19 seja apenas uma gripezinha, tampouco que não existam casos comprovados de reinfecção. Sim, eles existem, e obviamente estão sendo estudados! O que estamos dizendo é que é necessário cautela antes de afirmar ou negar que seja um caso de reinfecção, entenderam? Por isso classificamos como “Indeterminado”.
Conversamos com a Paciente
Conversamos com a Andreia, que é a paciente a quem pertence esse exame. Ela nos autorizou a citar seu nome, e nos confirmou que os sintomas estão mais intensos que em julho, e que 25% dos seus pulmões estariam comprometidos. Ela fez questão de alertar que o vírus é real, e acredita que o caso dela possa servir de alerta para que as pessoas se cuidem mais.
Questionamos Andreia se ela vinha sendo acompanhado pelas autoridades de Saúde de Birigui, e ela disse que sim.
A Lista de Medicamentos
Inclusive, citou que um posto de saúde local a orientou tomar uma série de medicamentos. Entre eles estava a azitromicina, um antibiótico de largo espectro, que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Estava presente também o levofloxacino — antibiótico do grupo das fluoroquinolonas, considerado extremamente tóxico, e utilizado em casos mais extremos de infecção secundária causada por bactéria, visto que ele não tem absolutamente nenhum efeito contra o vírus em si!
Um estudo publicado em agosto de 2020 na “Oxford University Press Public Health Emergency Collection” apontou que as fluoroquinolonas são um dos antibióticos que vêm sendo prescritos (sozinhos ou associados a outros remédios) para pacientes com Covid-19. Nos últimos anos, porém, vieram à tona casos de efeitos colaterais debilitantes e potencialmente permanentes associados às fluoroquinolonas. Foram identificados danos nos tendões, músculos, articulações e sistema nervoso central, além de hipoglicemia, aneurisma da aorta e problemas psiquiátricos.
Além disso, não há estudo comprovando a eficácia do levofloxacino contra a Covid-19.
Na lista também constava a acebrofilina — um broncodilatador e expectorante —, e a prednisona — um corticoide. Os corticoides já são uma classe de medicamentos reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento de quadros graves da doença e a entidade passou a recomendar o uso nessas situações após a publicação de estudos com três medicamentos da classe: dexametasona, hidrocortisona e metilprednisolona.
Contudo, há um grande porém aqui! A utilização de medicamentos dessa classe é considerada útil em pacientes internados, em condição grave, e sob circunstâncias bem específicas. Isso porque, se a dose não for bem acertada, pode ocorrer um efeito inverso. O medicamento pode inibir o sistema imunológico e agravar um quadro de Covid-19.
Para completar, não encontramos nenhum estudo mostrando a eficácia, especificamente da prednisona, em pacientes ambulatoriais com Covid-19.
Um Agradecimento Especial
Agradecemos nesse ponto a Dr. Laura de Freitas, farmacêutica-bioquímica, mestra e doutora em Biociências e Biotecnologia, pesquisadora na USP (área de microbiologia), além de co-fundadora do “Nunca Vi 1 Cientista“, um projeto muito importante de divulgação científica, que possui um canal no YouTube com mais de 60 mil inscritos! Vale a pena conferir!
Ela nos auxiliou a compreender melhor essa combinação um tanto quanto “exótica” de medicamentos.
O Risco da Utilização Combinada desses Medicamentos
Segundo a ferramenta “Drug Interactions Checker”, a utilização combinada da prednisona com o levofloxacino pode aumentar o risco de ruptura de tendão ou tendinite, principalmente entre idosos acima de 60 anos, e entre aqueles que passaram por um transplante de rim, coração ou pulmão.
Já a utilização combinada da azitromicina com o levofloxacino pode aumentar o risco de arritmia cardíaca, embora esse seja um efeito colateral considerado raro.
Portanto, nunca tome nenhuma medicação por conta própria, combinado?
Entramos em Contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Birigui
Tentamos contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Birigui, mas não tivemos nenhum retorno até o fechamento deste artigo. Caso isso aconteça publicaremos uma atualização tão logo seja possível.
Conclusão
Indeterminado! Embora o exame seja verdadeiro, ainda é prematuro dizer que se trata de um caso de reinfecção pelo novo coronavírus! Somente esse exame não é garantia alguma que estejamos diante de uma reinfecção propriamente dita. Seria necessário, por exemplo, sequenciar o vírus para saber se o mesmo de julho ou não. Não é algo simples, demanda tempo, além de análises suplementares.