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Imigrantes africanos agrediram covardemente uma jovem branca, na Europa?

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Imigrantes africanos agrediram covardemente uma jovem branca, na Europa?

Imigrantes africanos agrediram covardemente uma jovem branca, na Europa?

Recentemente, em nosso grupo no Facebook, fomos questionados a respeito de um vídeo publicado em julho de 2018. Em princípio, o vídeo mostrava duas agressões sofridas por uma jovem branca, que foram cometidas por um grupo de jovens negros, em plena luz do dia.

Na descrição do vídeo, em espanhol, foi mencionado que mulheres estavam apanhando de estrangeiros (no sentido implícito de serem imigrantes) na Europa, e que não havia lei para coibir isso. Também foi dito que a situação no continente era de completa anarquia, e que os direitos humanos das mulheres estavam sendo violados por tais pessoas. Vale ressaltar nesse ponto, que vídeo foi publicado por um professor panamenho de Química, e até o momento já obteve mais de 780 mil visualizações, e quase 17.000 compartilhamentos, ou seja, viralizou na internet.

Na descrição do vídeo, em espanhol, foi mencionado que mulheres estavam apanhando de estrangeiros (no sentido implícito de serem imigrantes) na Europa, e que não havia lei para coibir isso. Também foi dito que a situação no continente era de completa anarquia, e que os direitos humanos das mulheres estavam sendo violados por tais pessoas.

Entretanto, será que estamos realmente diante de agressões cometidas por “estrangeiros”, contra uma mulher, na Europa? Tais “estrangeiros” seriam imigrantes africanos ou muçulmanos? O vídeo retrata um caso real ou tudo isso teria sido encenado? Descubra agora, aqui, no E-Farsas.

Verdadeiro ou Falso?

O vídeo é verdadeiro, no sentido de estarmos diante de agressões deliberadas, que foram registradas em vídeo pelo próprio grupo de agressores. O lamentável episódio não aconteceu em 2018, mas em 2010, na cidade de Bobigny, na França.

Apesar de não temos a confirmação da nacionalidade de todos os envolvidos no vídeo, quem começou a divulgá-lo na internet foi um rapper francês, de origem africana, cujo nome artístico seria “BBR Négeu”. Ele teria nascido em Mali, um país predominantemente muçulmano (cerca de 90% da população). Além disso, sempre houve uma suspeita, que o rapper tivesse participado direta ou indiretamente da ação vista no vídeo (maiores detalhes estarão na conclusão desta postagem).

Para entender melhor esse caso é necessário voltar no tempo, mais precisamente em 30 maio de 2010, um domingo. Segundo o site de notícias francês “Fdesouche.com“, um vídeo havia sido publicado no Facebook, naquele mesmo dia, por um rapper chamado “BBR Négeu”. Porém, o vídeo não era sobre música. O vídeo exibia agressões físicas cometidas por um grupo de negros contra uma jovem branca, e por um motivo totalmente banal: a simples recusa da menina em passar o número do seu celular.

Confira o vídeo abaixo:

 

De acordo com o “Fdesouche.com“, as agressões aparentemente ocorreram em uma área de circulação de pedestres entre o “Centro Comercial Bobigny 2” e a Esplanada da Prefeitura da cidade. Havia a suspeita de que o rapper “BBR Négeu”, nascido em Bamako, capital do Mali (uma ex-colônia francesa), tivesse participado da ação. Isso porque o vídeo não foi uma denúncia da parte dele, pelo contrário, ele exaltou e comemorou as agressões cometidas contra a jovem.

Eis a descrição original, que estava repleta de gírias: “Sa Cés Pour Les Meuf Qui Veulent Pas Pasé Leur 06 Qui Veul Pas Coperé Voila Ski Ce Passe Sa Par Tro Viite Mdrrr !! Boboch Cé Fooleck Mek“. Essa descrição foi “corrigida” pelo “Fdesouche.com” para: “Ça, c’est pour les filles qui ne veulent pas donner leur numéro de téléphone portable, qui ne veulent pas coopérer, voilà ce qu’il se passe, ca part trop vite. Mort de rire. Boboch (Bobigny), c’est fou les mecs!

Em numa tradução livre para português seria algo como:

“Isso é para as garotas que não querem dar seus números de celular, aquelas que não querem cooperar. Isso é o acontece, e bem rápido. Morrendo de rir. Boboch (Bobigny), os caras são loucos!”

Imagem mostrando como era o perfil de BBR Négeu, no Facebook.

Imagem mostrando a descrição do vídeo e alguns comentários publicados sobre o mesmo. A absoluta maioria dos comentários era de pessoas, que acharam toda a ação extremamente divertida (MDR significa “mort de rire”, ou seja, “morrendo de rir”).

Parte de uma das raras capturas de tela, que associam “BBR Néuge” como a principal fonte responsável pela divulgação do vídeo na internet (https://web.archive.org/web/20120522223224/http://img229.imageshack.us/img229/9426/comms.jpg)

A conta de “BBR Négeu”, no Facebook, foi deletada há muito tempo, assim como o vídeo. Temos apenas resquícios do que foi publicado naquela época, tais como alguns comentários feitos por ele, além do vídeo propriamente dito, que continua sendo disseminado até hoje. Por exemplo, em 2010, ele foi republicado pelo site Spi0n, ressurgindo em 2012 e 2013, no site Live Leak. Desde então, esporadicamente, o vídeo acaba viralizando nas redes sociais.

A Exploração do Tema Através de uma Conotação Religiosa

Em janeiro de 2018, esse mesmo vídeo acabou sendo utilizado pelo site norte-americano “Right Journalism como uma forma de atacar os imigrantes muçulmanos, sem qualquer tipo de distinção. No texto foi mencionado, por exemplo, que “ imigrantes muçulmanos acreditavam, que eles fossem os donos das ruas, porque havia pessoas no governo, que lhes permitiam ficar impunes por tudo de ruim que estavam fazendo“.

Em janeiro de 2018, esse vídeo acabou sendo utilizado pelo site norte-americano “Right Journalism” como uma forma de atacar os imigrantes muçulmanos, sem qualquer tipo de distinção.

O texto também dizia, que os muçulmanos não respeitavam as mulheres, e foram comparados a animais. Se as pessoas continuassem permitindo, que os refugiados muçulmanos entrassem nos Estados Unidos, suas esposas e filhas viveriam com medo todos os dias em seu próprio país. Para completar, toda a ação que acontece no vídeo foi retratada como se um refugiado muçulmano tivesse abordado uma jovem branca, no Reino Unido, em busca de sexo.

De fato, está mais do que evidente o assédio e agressão cometida contra a jovem, porém o incidente ocorreu na França, não no Reino Unido. A abordagem em pedir o número de celular, diante daquelas circunstâncias, também denota uma clara conotação sexual (ainda que isso possa parecer implícito para algumas pessoas). Contudo, não podemos usar esse vídeo para definir o comportamento de todos os membros de um determinada religião.

O Vídeo Também Circulou na Alemanha

De acordo com o site Mimikama, uma espécie de organização não governamental voltada a checagem de informações, na Áustria, Alemanha e Suíça, esse vídeo também circulou nas redes sociais desses países, principalmente na Alemanha.

A pesquisa realizada pelo Mimikama, publicada em duas ocasiões no ano de 2015 (nos meses de agosto e outubro), apontou a mesma origem para o vídeo, ou seja, a partir da publicação de “BBR Négeu”, no Facebook, em 2010. Foi destacado ainda que o incidente não ocorreu na Alemanha, mas na França.

Os Desdobramentos do Caso: Quem é “BBR Négeu”? Quem são as Pessoas que Aparecem no Vídeo?

No dia seguinte (31) a divulgação dessa história por parte do “Fdesouche.com“, entrou em cena uma pequena investigação de um outro site francês chamado “Riposte Laïque“. Segundo esse outro site, assim que clima pesou contra “BBR Négeu”, o rapper deletou todo o conteúdo de seu perfil. Porém, o vídeo com cenas de agressão havia provocado uma segunda vítima: um cidadão chamado Sylvain, que nada tinha a ver com a história. Isso porque ele era o dono de um número de celular, que o “BBR Négeu” havia adicionado (falsamente ou por engano) em seu perfil no Facebook.

Sylvain teria passado o domingo atendendo constantes ligações de inúmeras pessoas, que o insultaram, por estarem revoltadas com “BBR Négeu”. O incômodo foi tanto, que o rapaz chegou a declarar, que iria processar o rapper por divulgar indevidamente seu número de celular. Infelizmente, não encontramos qualquer desfecho para essa história. Provavelmente, ele deve ter desistido de processá-lo.

No dia seguinte (31) a divulgação dessa história por parte do “Fdesouche.com”, entrou em cena uma pequena investigação de um outro site francês chamado “Riposte Laïque”. Segundo esse outro site, assim que clima pesou contra “BBR Négeu”, o rapper deletou todo o conteúdo do seu perfil.

O “Riposte Laïque” também chegou a publicar uma espécie de linha do tempo dos acontecimentos. Inicialmente, o vídeo teria sido descoberto por um fórum voltado para adolescentes entre 15 e 18 anos, pertencente ao site “Jeuxvideo.com” (um site francês dedicado a videogames). O caso se espalhou e chegou ao conhecimento do “Fdesouche.com“, que por sua vez fez uma grave acusação: grandes plataformas de compartilhamentos de vídeos estariam censurando todas as tentativas de disseminar o incidente, que foi classificado como “um ato de racismo contra brancos”. Os grandes veículos de imprensa da França também teriam simplesmente ignorado esse caso.

Enfim, antes de “BBR Négeu” simplesmente desaparecer com as publicações de seu perfil, um leitor teria entrado nos mesmos grupos que os amigos dele. Nesses grupos estariam sendo discutidos planos para transformar igrejas vazias em mesquitas, reivindicações de direitos islâmicos e a luta contra o fundamentalismo secular. O texto do “Riposte Laïque” foi muito bem fundamentado através de links para cada um dos pontos mencionados acima. Porém, em razão do tempo, esses endereços não estão mais disponíveis para consulta, e o conteúdo deles não foi salvo em arquivos digitais.

BBR Négeu Reapareceu nas Redes Sociais Pouco Tempo Após a Divulgação do Vídeo

Cerca de dois meses depois, “BBR Négeu” reapareceu na internet ao criar um perfil na rede social francesa “Skyrock”. Na época com 18 anos (atualmente ele teria 27 anos), ele se definiu como um jovem rapper, morador de Bobigny, e pertencente a um grupo chamado “G-nozik”. Além disso, o rapper alegou que vinha compondo músicas desde os onze anos de idade. Seu grupo seria composto por ele e mais dois amigos: “Cyrano” e “La2So” (ou LaSSo). Todos esses nomes, é claro, são apenas artísticos.

Cerca de dois meses depois, “BBR Négeu” reapareceu na internet ao criar um perfil na rede social francesa “Skyrock”. Na época com 18 anos (atualmente ele teria 27 anos), ele se definiu como um jovem rapper, morador de Bobigny, e pertencente a um grupo chamado “G-nozik”.

Seu grupo seria composto por ele e mais dois amigos: “Cyrano” e “La2So” (ou LaSSo). Todos esses nomes, é claro, são apenas artísticos.

Algumas músicas e clipes do grupo chegaram a ser publicadas na “Skyrock” entre os anos de 2010 e 2011. Posteriormente, foi criado um canal no YouTube, o “gnoziktv”, que permaneceu ativo, porém com pouquíssimos clipes musicais, até o ano de 2015. Desde então, não encontramos mais atividades do grupo “G-nozik”, assim como o paradeiro de seus membros.

Em agosto de 2010, o site “Riposte Laïque” voltou a falar de “BBR Négeu”. O motivo? Bem, o rapper havia voltado ao Facebook, porém dessa vez num tom “moralista”. Segundo o site, ele chegou a publicar o seguinte texto em seu perfil (o conteúdo teve que ser ligeiramente suavizado):

“Hoje em dia, a nova geração está perdida. Muitas mulheres não se cuidam mais. Quem se entrega para um cara que mal conhece? Supostamente, é o amor da sua vida, mas abra os olhos em vez de se sujar! Muitas mulheres dizem que são boas mulheres, mas já deram para metade da vizinhança”

De qualquer forma, ninguém sabia exatamente quem era o homem por trás do nome “BBR Négeu”. Devido a péssima resolução do vídeo divulgado por ele, ficava difícil dizer qual era exatamente sua participação no conjunto das agressões contra a jovem.

Por outro lado, todos os sites franceses que divulgaram esse caso apontaram para o envolvimento dele e ao menos mais três amigos. Essa hipótese foi muito reforçada, porque em nenhum momento “BBR Négeu” teria pedido desculpas pela publicação do vídeo ou negado seu envolvimento na agressão da jovem. Ele simplesmente teria deletado tudo e sumido por um tempo da internet, como se estivesse esperando a poeira baixar. Portanto, é difícil acreditar que ele seja inocente em toda essa história.

Apesar do apelo popular vindo da internet e de alguns raros sites franceses, não encontramos nenhuma evidência de que qualquer investigação tivesse sido iniciada ou qualquer medida judicial tivesse sido tomada contra “BBR Négeu” e seus companheiros. Foi praticamente como se a agressão sofrida pela jovem nunca tivesse existido.

Um Outro Caso de Agressão Contra Jovens na França?

Em 7 de julho de 2010, o site do jornal francês “Le Progrès”, com sede em Lyon, na França, divulgou um caso de supostas agressões contra duas jovens brancas.

Segundo o site, sete rapazes e cinco garotas tinham sido detidos dois dias antes (dia 5 de julho, uma segunda-feira), por volta da meia-noite, após agredirem duas jovem às margens do rio Rhône, na Cours Gambetta, uma avenida da cidade de Lyon. As jovens estariam num gramado, quando o tal grupo se aproximou e começou a importuná-las. A discussão rapidamente tomou outros rumos, e o grupo passou a xingar as jovens de “brancas imundas” e “racistas”.

Em 7 de julho de 2010, o site do jornal francês “Le Progrès”, com sede em Lyon, na França, divulgou um caso de supostas agressões contra duas jovens.

Teria havido uma briga com direito a socos e pontapés, e um dos agressores aproveitou a ocasião para roubar a bolsa de uma das jovens. Posteriormente, a bolsa teria sido descartada. Ninguém teria ajudado as jovens, porém uma testemunha teria presenciado a cena e alertado a polícia. Pouco tempo depois, duas viaturas teriam comparecido ao local e detido sete suspeitos, sendo três menores de idade.

Essa notícia acabou sumindo do site “Le Progrés” com o passar do meses, tudo o que temos é uma cópia digital da notícia. Porém, outros sites de também divulgaram esse caso, tais como: Agora Vox e o Génération Identitaire Lyon. Eles basicamente replicaram as informações fornecidas pelo site “Le Progrés”. Infelizmente, não tivemos maiores informações desse caso. De qualquer forma, esse caso não teria qualquer relação com o incidente ocorrido em Bobigny.

Conclusão

Conforme mencionado anteriormente, o vídeo é verdadeiro no sentido de estarmos diante de agressões deliberadas, que foram registradas em vídeo pelo próprio grupo de agressores. Infelizmente, não temos a confirmação da nacionalidade desses agressores. Se um dos pais dos envolvidos fosse francês ou até mesmo se um deles tivesse nascido na França, de pais estrangeiros (sob determinadas condições), a situação mudaria de figura. Tudo que temos é um indicativo de que o responsável por divulgar o vídeo, o rapper “BBR Négeu”, tenha origem africana, visto que teria nascido em Bamako, capital do Mali. Isso não o torna necessariamente um imigrante, visto que não sabemos a nacionalidade de seus pais. De qualquer forma, sempre existiu uma forte suspeita de que ele tivesse participado direta ou indiretamente da ação vista no vídeo.

Já em relação a orientação religiosa dos agressores, não temos a confirmação de que todos os envolvidos sejam muçulmanos. Existe um forte suspeita de que eles sejam, de fato, muçulmanos, mas isso não quer dizer que esse comportamento possa ser considerado global, ou seja, que todos os jovens muçulmanos tenham aquele comportamento tão covarde contra as mulheres.

Para ser bem sincero, esse caso está muito além de qualquer fronteira e longe de uma explicação fácil. Uma das definições básicas de racismo é o preconceito e a discriminação diante de percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Não deveria importar se o ato hostil é cometido contra negros, brancos, amarelos ou azuis com bolinhas roxas. Digo isso, porque geralmente se aplica o conceito de que o racismo é quando um grupo predominante hostiliza o grupo mais fraco ou uma minoria. E quando se pensa em minorias, logo se pensa, de forma enraizada, em pessoas de pele negra, indígenas, homossexuais etc… É isso que vemos no vídeo desta postagem? Quem é o grupo dominante e a minoria no vídeo? Muitos podem considerar isso como uma “infeliz exceção”, mas não é. Apenas não é muito divulgado, porque sequer é considerado como racismo. Geralmente, isso é repaginado como machismo. Agora, eles fariam a mesma coisa se fosse uma jovem negra e africana passando naquele local? Se o título dessa postagem fosse “Imigrantes europeus agridem covardemente uma jovem negra, na África”, isso seria noticiado como machismo? Essas são perguntas indigestas, que não possuem uma resposta fácil. Não estou dizendo que esse caso seja racismo, apenas propondo um exercício de reflexão.

E, no meio disso tudo, todos se esquecem do básico: a mulher. Não importa a cor da pele de uma mulher. Não importa que seja negra, parda ou branca. Quando se abre uma ferida, a cor do sangue que escorre na pele de quem apanha é a mesma. A pele de quem apanha é que treme, se contrai. Entre as mais diversas cores de pele, a sensação de impotência é a mesma, o medo é o mesmo, a vergonha e a humilhação são as mesmas. Quem bate, esquece, quem apanha, não.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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