Falso
Jornal antigo mostra celular Nokia que envia mensagens!
Imagem mostra recorte de jornal antigo sobre tecnologia com celulares enormes, disquetes e curso de datilografia! Será que isso é verdade?
O recorte de jornal apareceu na primeira quinzena de maio de 2014 nas redes sociais e mostra 5 notícias sobre tecnologias bem antigas. O texto das manchetes fala sobre o incrível lançamento de um celular Nokia que envia mensagens de texto para outro aparelho, sobre uma pesquisa do IBGE confirmando que 1 em cada 50 mil casas iriam ter acesso à internet, além de ressaltar a utilidade de quem tinha curso de datilografia para o mercado de trabalho.
Algumas postagens brincam com a possibilidade do jornal ser uma publicação recente, feita no estado do Acre!
O jornal antigo, que estaria mostrando as vantagens dessas tecnologias (obsoletas atualmente), foi compartilhado centenas de milhares de vezes no Facebook, mas será que isso é verdade?
Verdadeiro ou falso?
A primeira dúvida que surge ao ler os textos do recorte é: Qual o jornal que teria publicado isso?
Outra questão é: Quando isso teria ido às bancas?
As duas dúvidas acima não podem ser respondidas com certeza, pois não há nenhum trecho que revele a autoria ou a data da sua publicação!
A postagem mais antiga que encontramos na web dessa imagem parece ser a do blog do publicitário Victor Athayde, feita no dia 8 de maio de 2013.
Analisando um pouco melhor a foto, podemos ver claramente que as “novidades” mostradas no recorte não são da mesma época, como podemos verificar nos parágrafos a seguir:
O celular da Nokia, modelo 2110 (mostrado lado a lado na montagem do jornal), foi lançado em fevereiro de 1993. Aqui no Brasil, o aparelho chegou um ano depois!
O leitor Alvim Dias sugere que o modelo dos celulares do jornal seria o 6120, lançado em 1998!
No final da década de 1980, as redações dos jornais já haviam substituído as máquinas de escrever por computadores que tinham processadores de textos rudimentares (mas funcionais). Quem tinha diploma de curso de datilografia ainda teria emprego garantido por mais outras décadas!
Em 1994, o curso de datilografia já não era exigido por empresas a seleção de profissionais. Claro que quem tinha mais intimidade com o teclado se saía melhor numa entrevista de emprego e o termo “datilografia” já estava caindo em desuso e substituído por “digitação”… A última fábrica de máquinas de escrever fechou as portas em 2011 e seu ápice foi em 1998.
A máquina de escrever mostrada no jornal é uma Olivetti Lettera 82, fabricada aqui no Brasil entre os anos de 1981 e 1984! A foto usada na montagem é essa:
Métodos de gravação de dados
Quanto ao disquete, é bem possível que ele ainda estivesse em uso em 1994 (isso se assumíssemos que o jornal teria sido publicado naquele ano), no entanto, outras tecnologias usadas para gravação de dados como CD-R já estavam acessíveis aos consumidores caseiros desde o começo dos anos 1990. Os preços ainda eram meio altos em relação aos disquetes, mas a “enorme” quantidade de dados que podia ser gravada num CD compensava o gasto.
TV a cores no Brasil
A manchete afirmando que crescia o número de TV a cores também é imprecisa e pode estar correta (ou não). Apesar da primeira transmissão de TV a cores no Brasil ter ocorrido durante a Copa do Mundo de 1970, a TV preto-e-branco só perdeu para a colorida em vendas no final dos anos 1980. Portanto, qualquer afirmação de que estava havendo um aumento no número de TVs a cores no Brasil está correta desde tal observação tenha sido feita após a década de 1980.
Casas com Internet
Por não sabermos quando o jornal teria sido supostamente publicado, não há como precisar quantas casas tinham acesso à internet na época. Apenas a título de curiosidade, se pegarmos os dados de 1994 (ano em que a Embratel distribuiu acesso à internet para 5.000 sortudos no Brasil), veremos que uma casa com internet a cada 50 mil seria um numero bastante distorcido para aquele ano. Ao calcularmos a quantidade de brasileiros em 1994 (que era de 160 milhões de pessoas) e imaginarmos que havia, em média, 5 pessoas morando em cada casa, teríamos cerca de 32 milhões de lares. Dividindo as 5 mil linhas de internet disponibilizadas naquele ano, chegaríamos a uma média de uma casa com internet a cada 6.400 lares e não 50.000 como afirmado no texto.
Conclusão
O recorte de jornal é uma montagem de fatos ligados à tecnologia de épocas diferentes. Uma brincadeira feita para atiçar a nostalgia de quem viveu os tempos iniciais das novidades tecnológicas de décadas anteriores!