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Miriam Leitão presa em 1968 por assalto ao Banespa?

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Miriam Leitão presa em 1968 por assalto ao Banespa?

Miriam Leitão presa em 1968 por assalto ao Banespa?

É verdade que a jornalista Miriam Leitão foi presa, em 1968, após assaltar o Banco Banespa e levar com seus comparsas o equivalente a R$ 800 mil?

A foto do documento do processo que teria levado a jornalista Miriam Leitão pra cadeia voltou a ser compartilhada através de grupo do WhatsApp na segunda quinzena de julho de 2019. Nela podemos ver um documento que, segundo o texto que a acompanha, seria o processo que teria levado à prisão a jornalista Miriam Leitão sob a acusação de assalto a mão armada.

O texto ainda afirma que Miriam teria sido presa em 1968 após assalto ao Banco Banespa e, com um revólver calibre 38, teria levado juntamente com seus comparsas Cr$ 80 mil, o que daria – segundo o texto compartilhado – cerca de R$ 800 mil.

Será que essa história é verdadeira ou falsa?

Texto de uma das versões que acompanham as fotos de Miriam Leitão: “Foto do julgamento do assalto ao Banco Banespa da Rua Iguatemi, em São Paulo, ocorrido no dia 06 de outubro de 1968. A assaltante usava um revólver calibre 38 e junto com seus comparsas levou 80 mil cruzeiros, que seria equivalente a R$ 800 mil. Alguém reconhece a assaltante?” (foto: Reprodução/WhatsApp)

Verdade ou mentira?

Apesar dessa história ganhar força em inúmeros compartilhamentos em grupos do WhatsApp na segunda quinzena de julho de 2019, esse boato é bem mais antigo. Em junho de 2018, o mesmo texto (com algumas variações) já se espalhavam através das redes sociais e já foi desmentido diversas vezes desde então.

O primeiro dado que averiguamos foi que, em 1968, Miriam Leitão tinha apenas 15 anos e ainda morava em Caratinga (MG) – sua cidade natal – e só se mudou para Vitória (ES) aos 18 anos de idade.    

Mas e a ficha de prisão?

Quanto à ficha de prisão que se espalhou nas redes sociais, ela é real, mas é de 1972 e registra quando Miriam Leitão havia sido presa pelo “crime” de “fazer parte do PC do B” (partido considerado clandestino na época):

Perceba que na sua ficha de prisão não é mencionado nada de posse de armas ou de assaltos! (foto: Reprodução)

A ficha acima faz parte do livro “Em nome dos pais”, escrito por Matheus Leitão – filho de Miriam – onde ele reconstitui eventos da repressão do início dos anos 1970. 

A foto da ficha da prisão de Miriam Leitão não é segredo e, inclusive, compõe a arte da capa do livro do filho da jornalista! (foto: Divulgação)

Prisão e tortura em uma grávida

Em uma entrevista ao Observatório da Imprensa em 2014, Miriam Leitão contou que morava na capital do Espírito Santo em 1972 quando foi presa ao sair de casa com Marcelo Netto (seu companheiro na época)

“Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía”.

Leitão também disse na entrevista que estava grávida de um mês na ocasião e que foi ameaçada de estupro, além de ter ficado trancada em uma sala escura com uma cobra, dentre outras agressões. Ela foi liberada somente quando já estava com 4 meses de gestação!

Roubo ao Banespa

Não encontramos nenhum envolvimento de Miriam Leitão (ou do codinome “Amélia”, citado na ficha de prisão) no assalto ao Banespa ocorrido no período final de 1968, como você pode conferir no arquivo do jornal Tribuna da Imprensa. Aliás, essa reportagem foi a mais próxima do suposto assalto citado no texto espalhado no WhatsApp, pois ela não cita diretamente o assalto de outubro de 1968, mas um segundo assalto que teria ocorrido em dezembro daquele ano “dois meses depois de assalto semelhante”. No caso do assalto de dezembro, o jornal afirma que (igualmente ocorreu no assalto de dois meses antes) oito homens entraram armados na agência (o jornal não cita nenhuma mulher).

Reprodução

Cruzeiro foi só até 1967

O texto afirma que a quadrilha a qual Miriam Leitão faria farte teria roubado oitenta mil cruzeiros em outubro de 1968, só que o autor desse boato se esqueceu que o Cruzeiro (Cr$) foi a moeda em vigor somente até fevereiro de 1967, quando foi substituído pelo Cruzeiro Novo (um cruzeiro novo equivalia a mil cruzeiros). O Cruzeiro só voltou a ser a moeda oficial do Brasil em maio de 1970. Portanto, se fosse verdade essa história, “Miriam e seus comparsas” teriam roubado 80 cruzeiros novos ou 80 mil cruzeiros novos, o que torna muito difícil a conversão para Real.

Conclusão

A ficha de prisão de Miriam Leitão é verdadeira, mas é de 1972, quando ela havia sido presa apenas por fazer parte ao Partido Comunista do Brasil (que era um partido clandestino na época do Regime Militar). Ela afirmou em entrevistas que foi torturada durante os meses em que ficou presa e que só foi liberada quando já estava com 4 meses de gestação e que seu filho nasceu forte e sem nenhuma sequela.

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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