Não há evidências conclusivas que a vacina da Pfizer tenha causado a “Paralisia de Bell” em voluntários
Circula nas redes sociais, principalmente no Twitter (1,2,3,4,5) e no Facebook (1,2), publicações alegando que quatro voluntários dos testes clínicos da vacina da BioNTech/Pfizer, contra a Covid-19, teriam desenvolvido uma condição chamada “Paralisia de Bell”.
Algumas publicações vêm acompanhadas de fotos dos supostos pacientes, e outras alegam que isso se trataria desde um evento adverso, até uma reação adversa ou efeito colateral da vacina.
Confira abaixo alguns exemplos:
Alguns sites de notícias, a exemplo do “R7” e “Conexão Política“, também destacaram essa história em seus referidos sites dando ênfase ao evento adverso em seus referidos títulos. Porém, conforme vimos acima, há quem venha divulgando (ou replicando) tais notícias como se a “Paralisia de Bell” fosse um efeito colateral ou uma reação adversa da vacina.
Entretanto, será que isso é verdade? Voluntários desenvolveram uma condição chamada de “Paralisia de Bell”? A vacina da Pfizer/BioNTech foi a responsável por causar isso? Descubra agora, aqui, no E-farsas!
O Que é a Paralisia de Bell?
Segundo o portal “Drauzio Varella”, a “Paralisia de Bell” é um distúrbio de instalação repentina, sem causa aparente, marcado pelo enfraquecimento ou paralisia dos músculos de um dos lados do rosto. É uma doença de bom prognóstico, uma vez que a maioria dos pacientes pode recuperar-se sem tratamento.
Ainda não foi identificada a causa exata da “Paralisia de Bell”. No entanto, os estudos sugerem que o quadro pode estar correlacionado com uma infecção por bactérias (doença de Lyme) ou vírus que atingem o nervo facial.
O Que Há de Verdade em Toda Essa História?
Num documento divulgado no dia 10 de dezembro de 2020, pela FDA — a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos — foi mencionada a ocorrência da “Paralisia de Bell” em quatro voluntários da vacina. Por outro lado, não teria houve nenhum caso no grupo que recebeu placebo. Isso foi classificado como evento adverso.
Esses casos ocorreram 3, 9, 37 e 48 dias após a vacinação. O voluntário correspondente ao primeiro caso teria se recuperado com sequelas após três dias. Os demais estavam em processo de recuperação, ao menos até 14 de novembro de 2020, que era a data de corte.
O Que Não Foi Provado?
Segundo a FDA, a frequência observada da paralisia de Bell relatada no grupo que recebeu a vacina é consistente com a taxa de fundo esperada na população em geral e não há uma base clara sobre a qual concluir uma relação causal neste momento. De qualquer forma, a FDA recomendará vigilância para casos de paralisia de Bell com a implantação da vacina em populações maiores.
Já a MHRA, a agência regulatória do Reino Unido, considerou que quatro episódios em quase 22 mil pessoas não é relevante, já que naquele país existem entre 20 e 30 casos, em média, deste tipo de paralisia facial por cada 100 mil habitantes, a cada ano.
Evento Adverso x Efeito Adverso x Reação Adversa x Efeito Colateral
Por desconhecimento, muitas pessoas acabam confundindo “evento adverso” com “efeito adverso” e “reação adversa“. Logo, há muita desinformação circulado sobre esse caso nas redes sociais.
Ao invés de lerem “evento adverso”, muitas pessoas acabam lendo “efeito adverso”, e rapidamente associam diretamente a vacina a tais casos de paralisia facial. O problema é que esses conceitos não significam a mesma coisa. O mesmo vale para “reação adversa” e “efeito colateral”.
O Significado de Cada Conceito
Um evento adverso um evento desfavorável que ocorre durante ou após o uso de medicamento ou outra intervenção. É importante ressaltar que para ser considerado um evento adverso, o medicamento ou a intervenção não necessariamente tem relação causal com o evento.
O efeito adverso, no entanto, é um efeito prejudicial ou indesejável que ocorre durante ou após uma intervenção ou o uso de um medicamento, em que há possibilidade razoável de relação causal entre o tratamento e o efeito.
Já a reação adversa é qualquer resposta prejudicial ou indesejável, não intencional, a um medicamento, que ocorre nas doses usualmente empregadas no ser humano para profilaxia, diagnóstico, terapia da doença ou para a modificação de funções fisiológicas. A RAM é caracterizada pela existência de uma relação causal específica entre o medicamento e a ocorrência.
E, por último, o efeito colateral é um efeito não pretendido (adverso ou benéfico) causado por medicamento utilizado em doses terapêuticas. A palavra “colateral” denota algo de importância secundária. Dessa forma, o uso dessa expressão pode minimizar a percepção de dano quando o efeito é prejudicial. Como esse termo é frequentemente utilizado de forma inapropriada, a Agência Europeia de Medicamentos (EMEA) o considera ultrapassado e recomenda abolir sua utilização.
Vacinas Podem Causar a “Paralisia de Bell”? E a Nasalflu, da Berna Biotech?
Num texto publicado pelo site “Conexão Política”, em 9 de dezembro de 2020, foi citada uma matéria publicada no DailyMail.
Eis um trecho do que foi divulgado:
“De acordo com o Daily Mail, esta não é a primeira vez que a doença é associada a vacinas, mas alguns cientistas acreditam que as vacinas não desencadearam a doença de Bell em todos os casos, exceto em um – a Nasalflu, da Berna Biotech, uma vacina contra a gripe suíça que foi vendida durante a temporada de gripe de 2001-2002 e prontamente retirada do mercado.“
Esse trecho é um tanto quanto incompleto em relação ao que foi originalmente publicado pelo DailyMail:
“(…) Houve muita preocupação por parte dos cientistas, que conduziram uma série de estudos para tentar descobrir se essas vacinas realmente poderiam causar paralisia temporária. Investigações sobre a Paralisia de Bell, associadas a vacinas para hepatite B, DTPa (difteria, tétano e coqueluche), herpes, além de várias vacinas contra a gripe concluíram que as vacinas não foram a causa raiz da paralisia de Bell.
A única exceção foi o Nasalflu, da Berna Biotech, uma vacina inalatória contra a gripe produzida e vendida na Suíça. Foi feito com o vírus da gripe inativado e uma forma da E. coli (uma bactéria comumente usada para desenvolver vacinas e produtos farmacêuticos). Contudo, a vacina usou uma determinada toxina de E. coli, que os cientistas acreditam ter desencadeado a inflamação e, em seguida, causado a paralisia de Bell em algumas pessoas.“
E a Imagem que Vem Sendo Usada em Algumas Publicações?
Embora a imagem que acompanha algumas publicações retrate pacientes com a “Paralisia de Bell, ela não mostra voluntários que tenham desenvolvido tal condição em testes clínicos da vacina contra a Covid-19 da BioNTech/Pfizer! Isso porque a primeira referência que encontramos dessa imagem data de novembro de 2019, num tópico sobre a paralisia de Bell do periódico BMJ.
Resumindo? A imagem dos pacientes já havia sido publicada antes da pandemia de Covid-19!
Conclusão
Até o momento não há evidências conclusivas que a vacina da BioNTech/Pfizer, contra a Covid-19, tenha causado a “Paralisia de Bell” em voluntários nos testes clínicos! Além disso, embora a imagem que acompanha algumas publicações retrate pacientes com a “Paralisia de Bell, eles não mostram voluntários que tenham desenvolvido tal condição em testes clínicos da referida vacina.