Conspirações
O Dr. Robert Malone, inventor da vacina de RNA contra a COVID-19, disse que ela causa danos às crianças! Será?
Vídeo mostra o inventor da vacina de RNA afirmando que a vacinação causa danos irreversíveis no organismo das crianças! Será que isso é verdade?
O vídeo tem menos de 2 minutos de duração e começou a se espalhar através de grupos de WhatsApp na segunda quinzena de dezembro de 2021. Nele podemos ver um homem que se apresenta como Dr. Robert Malone fazendo várias afirmações a respeito do perigo da vacinação contra a COVID-19 em crianças.
Segundo o doutor, um gene contido nas vacinas de mRNA força o corpo da criança a produzir proteínas Spike tóxicas, o que costumam causar danos permanentes nos órgãos críticos das crianças.
O homem também afirma que a tal vacina é baseada numa tecnologia de vacina de mRNA que ele mesmo criou, por isso ele sabe tanto sobre ela e quais os problemas que ela causa nas crianças!
Será que isso é verdade ou mentira?
Verdade ou mentira?
Em primeiro lugar, o doutor Robert Malone existe e é mesmo um virologista como afirma. Essa parece ser a única parte realmente verídica de suas afirmações. De resto, nada do que ele diz no vídeo é verdadeiro.
Testes clínicos realizados nos Estados Unidos com 3.100 crianças e divulgados no dia 29 de outubro de 2021 pela agência reguladora de remédios e alimentos daquele país, a FDA, mostrou que a taxa de eficácia na prevenção contra a COVID-19 da vacina Pfizer-BioNTech entre crianças de 5 a 11 anos foi de 90,7%. Além disso, não foram identificados efeitos adversos graves.
Outras nações além dos EUA chegaram a resultados semelhantes e atualmente cerca de 30 países já iniciaram as vacinas em crianças com o imunizante Pfizer-BioNTech.
E aqui no Brasil?
Por aqui, a Anvisa aprovou na segunda quinzena de dezembro a aplicação da vacina da Pfizer contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos e divulgou duas notas técnicas sobre a segurança do uso do imunizante nos pequenos.
A agência analisou os dados de estudos de fase 1, 2 e 3 feitos pela Pfizer nos últimos meses com quase 4.000 voluntários. Assim como ocorreu nos Estados Unidos, o imunizante mostrou ter 90% de eficácia, representando o mesmo resultado dos ensaios clínicos feitos com adultos.
Além disso, a Anvisa contou com a consultoria de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia. Participaram da consultoria a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O Dr. Robert Malone inventou a vacina de mRNA?
Não! A autoria da vacina mRNA é creditada à Dra. Katalin Karikó e ao seu colaborador, o Dr. Drew Weissman. Karikó, bioquímica húngara, passou 40 anos trabalhando desenvolvendo avanços-chave para os imunizantes da Moderna e da BioNTech.
Em 1989, o doutor Malone publicou um artigo intitulado “Cationic liposome-mediated RNA transfection“, algo que contribuiu para o campo de estudos desse tipo de imunização, mas isso não o torna o inventor das vacinas de mRNA. Até porque quando seu artigo foi publicado, a doutora Karikó (e mais um sem número de cientistas) já estava estudando o assunto há quase uma década!
No estudo do doutor Malone, ele descobriu que era possível transferir mRNA protegido por um lipossoma (uma pequena bola de gordura) para dentro de células de cultura. Com isso, seria possível – pelo menos em teoria – fornecer informações para a produção de proteínas nessas células.
O problema era que as células não sobreviveram tempo suficiente para conseguir produzir a proteína desejada, causando uma reação inflamatória no organismo. Foi só em 2005 que diversos cientistas, incluindo a doutora Katalin Karikó conseguiram descobrir formas de transferir um mRNA sem “estragar” as células e sem causar inflamação. A explicação mais detalhada do processo pode ser lida nessa matéria de julho de 2021 do site português Visão. A própria doutora Karikó admite que não existe um único inventor desse tipo de vacina e que esse feito é o fruto de um esforço coletivo de inúmeros cientistas.
Ele mesmo admitiu não ser o inventor das vacinas
Apesar de se autointitular o inventor das vacinas de mRNA em seus perfis nas redes sociais, o doutor Malone enviou documentos ao site de checagem de fatos Logically, solicitando a correção do título usado na checagem que se refere a ele. Em seu pedido de retratação, Malone disse que não inventou as vacinas de mRNA, mas sim a “plataforma de tecnologia de vacina”.
O site analisou os documentos enviados – cópias de 9 patentes – e nenhum dos papéis mostrou que ele inventou as vacinas de mRNA.
Proteínas Spike
Em certo momento do vídeo, o doutor afirma que uma proteína chamada Spike, presente na vacina, causa sérios danos ao organismo das crianças, o que também não é verdade. As vacinas de mRNA tem por objetivo induzir o organismo a produzir uma versão modificada e inofensiva da proteína chamada Spike. Ela está presente no vírus do novo coronavirus e apenas parte da cópia de seu código genético é “apresentada” para as células de defesa do nosso corpo.
O sistema imunológico, quando entra em contato com essa substância, passa a produzir anticorpos para atacá-la, o que gera a proteção contra o vírus.
É importante ressaltar que essa proteína, além de ser uma cópia enfraquecida de pedaços do vírus, não fica muito tempo no organismo, sendo eliminada poucas semanas após ter sido aplicada.
Conclusão
Não é verdade que as vacinas causam danos irreversíveis nas crianças vacinadas contra a COVID-19! As informações apresentadas pelo virologista norte-americano em vídeo são falsas!