Pão de forma pode dar falso positivo no bafômetro?
É verdade que o consumo de pão de forma pode apresentar consumo de álcool no teste do bafômetro?
Na segunda quinzena de julho de 2024, uma série de publicações feitas em diversos sites e blogs apresentou uma preocupante constatação: o bafômetro acusa excesso de álcool no organismo de quem consome de pão de forma!
O assunto veio à tona após a descoberta de que algumas marcas de pão de forma possuem um certo teor de álcool em sua composição, mas será que a ingestão desse alimento pode interferir no teste do bafômetro?
Verdade ou mentira?
Especialistas ouvidos pela CNN disseram que o álcool etílico se forma na fabricação de pães, mas ele é evaporado no forno. No entanto, alguns fabricantes parece terem usado quantidades acima do aceitável de álcool para diluir conservantes que evitam o mofo e prolongam a longevidade do produto. Três das marcas de pão de forma que foram testadas apresentaram níveis elevados da substância, o que pode ser prejudicial se consumido exageradamente por crianças e pessoas com problemas de saúde.
No entanto, o álcool consumido pela ingestão de pão de forma não é detectado pelo exame do bafômetro.
Em nota, o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito) explicou que:
“[…] para quem está ao volante e é confrontado com o etilômetro, o famoso bafômetro, não há qualquer prejuízo, ao contrário do que tem se propagado. Aqui, o único risco é de desinformação, como deixam claro especialistas em medicina, nutrologia e trânsito.”
O órgão ainda esclarece que a entidade que testou as marcas de pão de forma não fez nenhum experimento com o aparelho usado para medir a alcoolemia em motoristas (o famoso bafômetro, ou etilômetro).
Segundo informou o Detran, se alguém realizar um teste com o etilômetro imediatamente após comer um sanduíche com fatias desses pães de forma que apresentaram alto teor alcoólico (foram 3 as marcas reprovadas no teste), o teste pode dar positivo (pouco provável, mas pode acontecer). No entanto, trata-se de um falso positivo, pois o álcool medido pelo aparelho também pega partículas de álcool presentes na cavidade bucal (e não apenas dos pulmões). Mas, por se tratar de um erro, o motorista pode pedir uma nova medição alguns minutos depois, o que resultará em negativo:
“De fato, quem acabou de comer um sanduíche de pão de forma pode ter um resultado positivo no teste, se confrontado com um etilômetro em uma Operação Direção Segura Integrada (ODSI), ação de educação e fiscalização que o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) realiza para conscientizar motoristas e evitar acidentes. A pesquisa mostra que, no caso de três marcas atuantes no mercado, duas fatias reúnem mais álcool do que o tolerado pelo equipamento. Mas se trata de um “falso positivo”, que também pode acontecer com o consumo de bombons de licor, vinagres, enxaguantes bucais e outros produtos com álcool. Volátil, de fácil evaporação, esse etanol é eliminado pelo organismo em questão de minutos. Assim, ao repetir o exame, possibilidade que o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) assegura como direito à contraprova, o condutor testará negativo.”
É importante ressaltar que quando o bafômetro detecta altos níveis alcoólicos, o motorista é instruído pelo policial a aguardar alguns minutos para que o exame seja refeito.
A operação foi confirmada pela Polícia Militar do Distrito Federal, esclarecendo que o motorista que não ingeriu bebida alcoólica pode e deve pedir um “reteste”:
“Se o condutor disser: ‘óh, ingeri um bombom, ou comi alguma coisa que pode ter álcool’, a gente pede para a pessoa aguardar que a gente vai fazer um reteste, depois de uns 10 minutos. É importante salientar que o reteste não é previsto na legislação, mas a gente não vai deixar de fazer o reteste, justamente pra não deixar de prestar serviço de qualidade. Se ela tiver falando a verdade, vai ser demonstrado que o ar era somente aquele da mucosa bucal e o teste vai dar zerado, assim como foi demonstrado, em apenas 3 minutos”, diz o coronel da PMDF Edvã Sousa.
O Detran também ouviu especialistas, como a médica nutróloga Eline de Almeida Soriano, que explicou que não é possível alguém ficar embriagado ao consumir pão de forma, mesmo em grandes quantidades, pois o álcool é metabolizado rapidamente pelo nosso corpo:
“O corpo humano metaboliza pequenas quantidades de álcool muito rapidamente. A quantidade de 1,69 g de etanol, encontrada em duas fatias de uma determinada marca, é logo metabolizada pelo fígado, impedindo a acumulação de álcool no sangue em níveis que causariam embriaguez. Para efeito de comparação, uma cerveja de 350 ml contém aproximadamente 14 g de álcool e não causa alterações profundas da cognição.”
O Detran de Goiás fez um vídeo mostrando que a concentração de álcool ao consumir pão de forma é tão pequena que não é detectada pelo bafômetro:
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Testes descartam hipótese
O Comando de Policiamento de Trânsito (CPTRAN) da Polícia Militar do Distrito Federal também realizou testes com o bafômetro e concluiu que nenhum dos voluntários apresentou teor alcoólico alguns minutos após o consumo de pão de forma:
“É possível concluir que a concentração de álcool etílico quando presente na composição do pão de forma não foi capaz de comprometer a integridade dos alvéolos pulmonares ao ponto de constatar a influência de álcool no organismo dos voluntários submetidos ao estudo”, afirmou o estudo.
É importante ressaltar que a PMDF também realizou testes com outros produtos que contêm álcool (bombons de licor, enxaguantes bucais, etc.) e constatou que o álcool permanece na “mucosa bucal” dos voluntários, e não no organismo.
Conclusão
O consumo de pão de forma não gera falso positivo de consumo de álcool no teste do bafômetro!