Correntes
Preço do feijão subiu após Dilma doar 625 toneladas para Cuba?
É verdade que o preço do feijão subiu vertiginosamente por causa da doação de 625 toneladas do alimento que a presidente Dilma Rousseff fez para Cuba?
A notícia se espalhou através das redes sociais no começo da segunda quinzena de junho de 2016 e atribui o aumento do preço do feijão a uma doação de mais de 600 toneladas desse grão para Cuba!
Fanpages bastante populares como a Bolsonaro Opressor, por exemplo, publicaram a constatação, alcançando mais de 8 mil compartilhamentos, além de centenas de comentários!
Segundo o texto amplamente compartilhado, a alta repentina do feijão teria sido causada por uma doação de 625 toneladas que Dilma Rousseff teria feito para o povo cubano.
Será que essa notícia é verdadeira ou falsa?
Verdade ou farsa?
Essa história mistura alguns dados reais com muita desinformação para conseguir alcançar o maior número de pessoas, mas a causa do aumento do feijão brasileiro não tem nada a ver com doações do produto para outros países!
Em primeiro lugar, precisamos explicar aqui que o Governo Dilma Rousseff doou mesmo 625 toneladas de feijão para Cuba. Essa é a parte real da “notícia”.
Como relatado pela imprensa, a doação aconteceu em outubro de 2015, e fazia parte do Programa de Doação Humanitária de Alimentos do Brasil à República de Cuba!
Conforme foi explicado na ocasião pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a ação está prevista na Lei 12.429, de 20 de agosto de 2011, “que autoriza o governo federal a doar estoques públicos de alimentos para assistência humanitária internacional”.
Vale lembrar que os preços do feijão não aumentaram muito na época! Um fato curioso, visto que que um mês antes a Conab publicou um edital disponibilizando a doação para as prefeituras de todo o Brasil 30 mil toneladas de feijão.
Nosso leitor Thales Rocha observa que mais recentemente, em abril de 2016, a Conab também disponibilizou mais 11,8 mil toneladas de feijão para mil municípios de 22 estados brasileiros!
Como podemos ver no relatório de Acompanhamento de Grãos da Safra Brasileira (página 150, tabela 57), o Brasil tinha em estoque em 2014 cerca de 303 mil toneladas de feijão. Nossos estoques caíram para 103 mil em 2015 e tiveram um leve aumento em 2016. Se analisarmos que a queda drástica de 2014 para 2015 nos estoques de feijão não fez o preço do alimento subir, é pouco provável que “apenas” 625 toneladas façam alguma diferença no preço!
A verdadeira causa do aumento
O principal fator para as altas no preço do feijão é o clima. Especialistas explicam que problemas climáticos decorrentes do fenômeno El Niño afetaram a safra do Rio Grande do Sul (que é o maior produtor do alimento no Brasil). Os produtores gaúchos reclamam uma redução de 16% na produção em relação à safra de 2015.
Conclusão
A alta nos preços do feijão brasileiro não tem nenhuma relação com a doação de 625 toneladas que o Brasil doou para Cuba em 2015 e tampouco tem a ver com o fato de Michel Temer ter assumido a Presidência do Brasil.
*Com a colaboração do leitor e amigo Thales Rocha!