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Professores na Suíça ganham muito mais que deputados no Brasil?

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Professores na Suíça ganham muito mais que deputados no Brasil?

Professores na Suíça ganham muito mais que deputados no Brasil?

No dia 17 de janeiro de 2019, o site “Fatos Desconhecidos” publicou um artigo muito peculiar intitulado “Professores na Suíça ganham muito mais que deputados do Brasil. Porém, será que essa alegação é mesmo verdade? Será que o texto publicado realmente condiz com o título? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!

Captura de tela mostrando um trecho do artigo publicado pelo site “Fatos Desconhecidos”

O Título do Artigo não Condiz com Absolutamente Nada do que Foi Escrito no Texto

O artigo publicado pelo site “Fatos Desconhecidos” foi basicamente alimentado por uma única fonte (algo que costuma ser bem problemático). O site que serviu de base para a composição do texto foi o o “Upsocl”, que é basicamente um site chileno de entretenimento. No artigo original do “Upsocl”, publicado em 9 de janeiro de 2019, o título era ligeiramente diferente: “Los diputados en Suiza ganan menos que un profesor y no gozan de beneficios. Son un ejemplo a seguir” (“Os deputados da Suíça ganham menos que um professor e não desfrutam de benefícios. Eles são um exemplo a ser seguido”, em português).

No artigo original do “Upsocl”, publicado em 9 de janeiro de 2019, o título era ligeiramente diferente: “Los diputados en Suiza ganan menos que un profesor y no gozan de beneficios. Son un ejemplo a seguir” (“Os deputados da Suíça ganham menos que um professor e não desfrutam de benefícios. Eles são um exemplo a ser seguido”, em português).

Ambos os textos não dizem que deputados do Brasil ou do Chile ganham mais que professores na Suíça, apenas que professores na Suíça ganham mais que deputados na própria Suíça, mais precisamente membros do parlamento suíço, algo que ambos os textos chamaram de “Assembleia Federal”. Aliás, a principal foto utilizada no artigo do site “Fatos Desconhecidos” é justamente do Conselho Nacional da Suíça (equivalente a nossa Câmara dos Deputados), onde trabalham os parlamentares equivalentes aos nossos deputados federais.

Enfim, sinceramente, é difícil imaginar a razão pela qual isso aconteceu. Contudo, o que poderia ter sido um simples e ingênuo descuido durante a publicação se tornou um exercício interessante de pesquisa. Será que professores na Suíça ganham mais que deputados federais ou estaduais brasileiros? Será que professores na Suíça realmente ganham mais que deputados federais suíços? É o que vocês conferem a partir de agora!

O Salário de um Deputado Federal Brasileiro e as Verbas Parlamentares Para o Exercício do Mandato

Segundo o site da Câmara dos Deputados, em uma notícia publicada no dia 5 de outubro de 2018, o salário mensal dos parlamentares é de R$ 33.763,00. Além disso, para o exercício do mandato, os deputados federais utilizam mensalmente o chamado CEAP (Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar), que pode variar de acordo com o estado do deputado. Os deputados federais de Roraima recebem o valor mais alto entre as demais unidades da federação: R$ 45.612,53. Essa cota serve para o pagamento de despesas, tais como: passagens aéreas, telefonia e serviços postais; fornecimento de alimentação do parlamentar; combustível; serviços de segurança; hospedagem; locação de aeronaves ou automóveis; entre outras despesas.

Os deputados federais de Roraima recebem o valor mais alto entre as demais unidades da federação: R$ 45.612,53. Essa cota serve para o pagamento de despesas, tais como: passagens aéreas, telefonia e serviços postais; fornecimento de alimentação do parlamentar; combustível; serviços de segurança; hospedagem; locação de aeronaves ou automóveis; entre outras despesas.

Os deputados também recebem um valor de auxílio-moradia no valor de R$ 4.253 (concedido aos parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília). Tudo isso sem contar a verba destinada a contratação de pessoal (no valor de R$ 106.866,59 por mês), pagamento ou reembolso de despesas médicas, entre outros benefícios ou subsídios atualmente fornecidos aos deputados federais brasileiros.

Os deputados também recebem um valor de auxílio-moradia no valor de R$ 4.253 (concedido aos parlamentares que não moram em residências funcionais em Brasília). Tudo isso sem contar a verba destinada a contratação de pessoal (no valor de R$ 106.866,59 por mês), pagamento ou reembolso de despesas médicas, entre outros benefícios ou subsídios atualmente fornecidos aos deputados federais brasileiros.

Para efeitos de cálculo, uma vez que são muitos benefícios, vamos utilizar somente os valores referentes ao salário mensal, a cota para o exercício da atividade parlamentar e o auxílio-moradia (R$ 33.763,00 + R$ 45.612,53 + R$ 4.253,00). Assim sendo, um deputado de Roraima receberia, por exemplo, cerca de R$ 83.628,53 por mês para viver confortavelmente, com segurança e, em teoria, servir exclusivamente aos interesses da população.

Uma vez que a Suíça não pertence ao grupo de países que adotaram o Euro como moeda comum, e tampouco é parte integrante da União Europeia, temos que converter o valor anteriormente citado para francos-suíços (CHF). Considerando a cotação do dia 21 de janeiro de 2019 (um real valendo 0,27 francos-suíços), chegamos ao valor de CHF 22.189,85 mensais. Portanto, em um cenário hipotético, onde não houvesse oscilações abruptas no câmbio, e sem considerar os demais benefícios ou subsídios recebidos por deputados federais brasileiros (exceto o 13º salário), um deputado federal de Roraima, por exemplo, receberia anualmente cerca de CHF 266.291,20. Notem que, mais uma vez, estamos apenas fazendo um cálculo bem básico e superficial entre os benefícios e subsídios atualmente disponíveis aos deputados federais brasileiros.

O Salário de um Deputado Estadual Brasileiro

E quanto aos salários de deputados estaduais brasileiros? Bem, nesse caso há uma grande variação de estado para estado.

Foto da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima

De acordo com o site “Politize!”, “geralmente, os deputados estaduais recebem menos visibilidade do que outros cargos parlamentares, mas não ficam atrás no que se refere a benefícios: somando-se ao salário diversos auxílios e bonificações, este parlamentar muitas vezes chega a ganhar mais do que um deputado federal.. Em Roraima, por exemplo, nosso cálculo básico aponta para um ganho mensal de aproximadamente R$ 95 mil para cada deputado estadual.

Assim sendo, não iremos nos preocupar em analisar cada estado ou aquele em que os deputados estaduais ganham mais do que outros, visto que os valores em relação a deputados federais (na composição do nosso cálculo básico) são bem próximos.

O Salário de um Professor na Suíça

Dizer quanto ganha um professor na Suíça é pouco mais complicado. De acordo com uma notícia publicada pelo site do jornal britânico “The Guardian”, em 5 setembro de 2014, dos 30 países membros, que até então faziam parte da OCDE (“Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico”), os professores na Suíça recebiam o maior salário anual, uma média de US$ 68.000 (cerca de CHF 63.240 pela cotação do dólar em relação ao franco na data da publicação do “The Guardian”).

Segundo o jornal, esse era um valor maior do que o salário médio anual do país, que era de cerca de US$ 50.000. Nesse ponto é importante destacar que a OCDE é uma organização internacional, atualmente com 36 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de mercado, e que procura fornecer uma plataforma para comparar políticas econômicas, solucionar problemas comuns e coordenar políticas domésticas e internacionais. O Brasil não faz parte da OCDE.

Dizer quanto ganha um professor na Suíça é pouco mais complicado. De acordo com uma notícia publicada pelo site do jornal britânico “The Guardian”, em 5 setembro de 2014, dos 30 países membros, que até então faziam parte da OCDE (“Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico”), os professores na Suíça recebiam o maior salário anual, uma média de US$ 68.000 (cerca de CHF 63.240 pela cotação do dólar em relação ao franco na data da publicação do “The Guardian”)

Em 1 de dezembro de 2016, o site do jornal “Le News” publicou uma notícia sobre os salários dos professores na Suíça. Na manchete era possível ler que os professores de escolas primárias na Suíça eram os mais bem pagos do mundo. Para afirmar isso, o texto se baseou em fontes diferentes. Primeiramente, baseando-se em um relatório divulgado naquela época, pela IMD, uma das escolas de negócios mais renomadas do mundo, foi apontado que os professores de escolas primárias na Suíça eram os mais bem pagos em um ranking de 60 países. Em média, após lecionar por 10 anos, esses professores ganhavam cerca de US$ 100.000 por ano (cerca de CHF 100,000 pela cotação da data da publicação do Le News). No entanto, o texto também mencionou que, um gerente de produção, que trabalhasse em cargos intermediários de gerência, por pelo menos 5 anos, na indústria farmacêutica, química ou alimentícia, ganhava 19% a mais que um professor de escola primária na Suíça.

Entretanto, os professores na Suíça possuem uma grande variação salarial, de acordo com o cantão (um tipo de divisão administrativa, que seria equivalente a um estado) em que trabalham. Na Suíça francófona (parte da Suíça que fala uma variante do francês), os professores de escolas primárias de Genebra recebiam o maior dos salários: CHF 131.000 por ano. No cantão de menor salário, Neuchâtel, o mesmo professor ganhava até CHF 91.000 por ano, cerca 31% menos. Já em Vaud, o salário comparável era de CHF 108.000.

Em 1 de dezembro de 2016, o site do jornal “Le News” publicou uma notícia sobre os salários dos professores na Suíça. Na manchete era possível ler que os professores de escolas primárias na Suíça eram os mais bem pagos do mundo. Para afirmar isso, o texto se baseou em fontes diferentes.

A notícia publicada pelo “Le News” também citou um estudo da OCDE de 2016, que utilizava o salário de 2014 ajustado pelo poder de compra. Assim sendo, o salário máximo de um professor de escola primária na Suíça era de cerca de US$ 81.000 (cerca de exatos CHF 81.000 pela cotação da época da publicação do estudo). O ajuste em relação ao poder de compra levava em consideração a moeda forte da Suíça e o alto custo de vida no país. Contudo, o texto não mencionou alguns detalhes muito interessantes desse estudo sobre os salários dos professores na Suíça (os valores abaixo já estarão convertidos pela cotação da época):

  • Um professor de ensino infantil iniciava na carreira com um salário médio de CHF 47.000 por ano, e após 10 anos de experiência alcançava, também em média, cerca de CHF 60.000 por ano. O valor máximo recebido por esse professor seria de CHF 72.000 por ano;
  • Um professor de ensino primário iniciava na carreira com um salário médio de CHF 53.000 por ano, e após 10 anos de experiência alcançava, também em média, cerca de CHF 66.000 por ano. O valor máximo recebido por esse professor seria de CHF 81.000 por ano.

Perceberam como os valores variam consideravelmente? Calma que tem mais!

Em abril de 2017, o site “Swiss Info”, uma plataforma informativa mantida pela “Swiss Broadcasting Corporation”, também publicou uma notícia sobre os salários de professores na Suíça. O texto mencionava que, de acordo com os dados salariais da Conferência dos Diretores do Ensino Público para a Suíça de língua alemã, um professor de ensino secundário na região de Zurique – o mais alto nível acadêmico além da universidade – ganhava CHF 110.590 no primeiro ano, ou CHF 8.506 por mês, com direito ao 13º salário. Porém, um professor do mesmo nível na vizinha St. Gallen recebia CHF 15.000 por ano a menos, expondo as diferenças salariais muitas vezes significativas entre os cantões, que também têm custos de vida diferentes. A educação na Suíça é da competência dos cantões (estados), e não do governo federal.

Imagem mostrando os 26 cantões da Suíça

Entretanto, de acordo com o “Swiss Info”, os salários dos professores estavam estagnados nos últimos anos. Dados demostravam, que um professor do ensino secundário em St. Gallen ganhava o mesmo salário em 2015, assim como em 1993, embora a inflação tivesse aumentado 15,3% nesse período. Um estudo de 2009, feito pela Associação de Professores Suíços, mostrou que o professor de ensino médio trabalha nove horas por dia. Os salários estagnados e o aumento de conteúdo a ser ensinado em menos tempo de aula tinham levado, na época, professores e alunos saírem às ruas para exigir o fim dos cortes orçamentários, que causaram problemas de infraestrutura em algumas escolas.

Além disso, naturalmente, quando se olha para os salários suíços, é importante ter em mente, que o custo de vida do país está entre os mais altos do mundo. O site “Swiss Info” fez questão de publicar uma imagem comparando um rendimento familiar mensal (salário acrescido de outras fontes de renda mensais) em relação as despesas mensais, de uma família que possua ao menos uma criança em casa (tudo no campo hipotético, é claro). Veja o gráfico abaixo:

Se fôssemos considerar o maior valor que encontramos para salários de professores na Suíça, ou seja, CHF 131.000, este valor seria menos da metade do cálculo básico que fizemos em relação aos deputados federais brasileiros, que era de aproximadamente CHF 266.000. Portanto:

  • Um professor na Suíça não ganha mais que um deputado federal, e nem mesmo estadual no Brasil;
  • A única possibilidade, mesmo que remota, de um professor na Suíça ganhar mais que um deputado federal ou estadual no Brasil é se fôssemos comparar unicamente seus salários. Porém, isso seria extremamente desonesto, porque os professores não possuem subsídios, gratificações, verbas indenizatórias etc… Ainda assim, na absoluta maioria dos casos, considerando somente os salários, deputados federais e estaduais brasileiros ganhariam mais que dezenas de milhares de professores na Suíça.

O Salário de Parlamentares na Suíça

A Origem do Erro: O Artigo Publicado Pelo Site do Jornal “O Estado de São Paulo” em 2018

Esta talvez seja a parte mais interessante e emblemática de nossa publicação. Isso porque a maioria das notícias que são publicadas comparando salários de professores e parlamentares na Suíça buscaram “inspiração” em uma notícia publicada pelo site do jornal “O Estado de São Paulo” em 13 de março de 2018, intitulada: “Na Suíça, sem benefícios para os deputados.

O texto, de autoria de Jamil Chade, correspondente do jornal em Genebra, na Suíça, relatava a situação de parlamentares do Grande Conselho de Genebra, que é basicamente a legislatura do referido cantão (uma assembleia legislativa), e que atualmente possui 100 membros. É mencionado, que o então deputado e ex-presidente do Parlamento de Genebra, Guy Mettan, chegava ao seu trabalho usando uma scooter e, algumas vezes, de ônibus. Então, é dito, que deputados não tinham direito a carro oficial (exceto se fosse o presidente do parlamento indo a algum evento oficial), tampouco benefício por qualquer tipo de transporte. O auxílio-moradia não fazia parte dos benefícios, e eles ganhavam apenas um voucher para fazer duas refeições por mês.

É mencionado, que o então deputado e ex-presidente do Parlamento de Genebra, Guy Mettan, chegava ao seu trabalhando usando uma scooter e, algumas vezes, de ônibus.

Em seguida, o texto mencionou que, na melhor das hipóteses, um deputado em Genebra iria somar um salário anual de 50 mil francos suíços (algo equivalente, na época, a R$ 172 mil), cerca de 4,1 mil francos por mês. Isso se ele fosse o presidente do Parlamento e comparecesse a todas às sessões. Guy Mettan disse, que só recebia se comparecesse. Se não comparecesse, não recebia. Logo depois foi mencionado que, “o pagamento ao presidente do Parlamento de Genebra é inferior à média de um salário de um fabricante de queijo, menor que a renda de um mecânico de carros na Suíça, de uma secretária, de um policial, de um carpinteiro, de uma professora de jardim de infância, de um metalúrgico e de um motorista de caminhão. Ele, porém, é equivalente ao salário médio de um açougueiro da cidade alpina.

Continuando, “para um deputado ‘ordinário’, o salário é muito inferior ao do presidente do Parlamento. Por ano, eles chegam a receber cerca de 30 mil francos suíços, o equivalente ao pagamento médio atribuído a um artista de circo ou a um ajudante de cozinha, postos ocupados em grande parte por imigrantes. No Brasil, o salário de um deputado estadual chega a R$ 25.300 por mês em São Paulo, por exemplo. Além disso, os parlamentares brasileiros têm direito a uma verba mensal (o chamado ‘cotão’), que pode superar R$ 30 mil, para custeio de gastos de alimentação, transporte, passagens aéreas e despesas de escritório.

Para finalizar, Mettan explicou, que “a função de deputado consome apenas 25% do seu tempo de trabalho e que, por conta do salário baixo, todos são orientados a manter seus empregos originais, mesmo depois de eleitos.

Os Problemas do Artigo Publicado Pelo Site do “Estado do São Paulo” e as Suas Consequências

A notícia publicada no site do “Estadão” é um tanto quanto problemática. Isso porque o título faz com que leitor mais desatento tenha a premissa, que não haja nenhum tipo de benefício para deputados, de um modo geral, na Suíça, o que não é verdade (existem menos benefícios que no Brasil, mas existem benefícios e subsídios).

O artigo trata apenas de membros do Grande Conselho do cantão de Genebra, ou seja, equivalente aos deputados estaduais de uma Assembleia Legislativa. O texto não se refere, por exemplo, ao cargo de Secretário Geral do Grande Conselho (principal e mais importante cargo do conselho), membros do Parlamento Suíço (deputados federais e senadores), e nem mesmo de alguns chefes do executivo em âmbito municipal (alguns prefeitos que recebem valores astronômicos).

Foto mostrando uma sessão no plenário do Grande Conselho de Genebra, em dezembro de 2015

Portanto, o texto não trata dos salários e benefícios recebidos por membros do Conselho Nacional (equivalente aos nossos deputados federais e a Câmara dos Deputados, que na Suíça é composto por 200 membros), e nem membros do Conselho dos Estados (equivalente aos nossos senadores e o Senado Federal, que na Suíça é composto por 46 membros, 2 de cada cantão).

Foto mostrando uma sessão no plenário do Conselho Nacional da Suíça

O título genérico da notícia abriu uma perigosa margem de erro, que se propaga até hoje na internet. Eis algumas notícias que foram publicadas, na época, baseadas no texto do “Estadão”: “Na Suíça, deputado não tem benefícios e ganha menos que professor” (Veja), “Na Suíça, deputados ganham menos que professores e não têm privilégios” (Hypeness). Isso explica a razão pela qual o site “Upsocl” e o “Fatos Desconhecidos” continuam perpetuando tais informações de forma totalmente genérica.

O Salário de Parlamentares Suíços, as Verbas Parlamentares e os Benefícios Recebidos ao Longo do Mandato

Um artigo publicado no site “Swiss Info”, em maio de 2016 dizia que, em média, um mandato no Conselho Nacional (equivalente a Câmara dos Deputados, no Brasil) implicava num compromisso de trabalho de, no mínimo, 50%, sendo que esse compromisso subia para 70% no Conselho dos Estados (equivalente ao Senado Federal, no Brasil). Somente por essa informação, dava para notar que a remuneração total dos parlamentares, provavelmente, seria bem maior.

O texto também mencionou, que cada eleito recebia 26 mil francos anuais, aos quais somava-se uma diária de 440 francos para cada dia de trabalho em sessões do Parlamento, nas comissões ou nos grupos parlamentares. Em média, essa diária significava um pouco menos de 40 mil francos anuais para cada deputado federal. Em outras palavras, sem contar o reembolso de despesas, um parlamentar suíço recebia cerca de CHF 66.000. Nesse ponto vocês até poderiam dizer, que o salário de um professor na Suíça seria equivalente ou até mesmo maior do que um deputado federal do país.

Entretanto, a realidade vivida por um deputado federal ou senador suíço é bem diferente. De acordo com o site da Confederação Suíça (o principal site do governo suíço), dependendo do número de dias de presença e das funções do membro do conselho, o salário e os subsídios podiam chegar entre CHF 130.000 e CHF 150.000 por ano. Resumindo? Esse valor é bem superior a média salarial recebida por professores na Suíça.

Foto do Parlamento Suíço, em Berna

Na Suíça, tanto os deputados federais quanto os senadores recebem a mesma base de valores devido ao Ato Parlamentar de Recursos. Isso não quer dizer, que todos recebam anualmente os mesmos valores. Confira abaixo os valores básicos recebidos pelos membros dos conselhos federais:

  • Salário anual para preparar o trabalho parlamentar: CHF 26.000
  • Subsídio anual para despesas com pessoal (não é obrigado a contratar ninguém) e material: CHF 33.000
  • Subsídio diário por comparecimento ao conselho e comitê: CHF 440 (os membros do Conselho que presidem uma comissão, delegação, subcomissão ou grupo de trabalho recebem o dobro do subsídio diário, ou seja CHF 880)

Além disso, há subsídios para alimentação, viagens e hospedagens. As contribuições previdenciárias são pagas, e subsídios para despesas adicionais são concedidas aos presidentes e vice-presidentes dos conselhos e comitês. Uma parte desses subsídios é isenta de impostos.

Uma das variáveis mais importantes está justamente no subsídio diário no valor de CHF 440 (ou CHF 880), visto que o salário anual e o subsídio anual para despesas com pessoal e material são fixos. De acordo com o Ato Parlamentar de Recursos, os parlamentares recebem esse valor por dia que comparecerem. Porém, se o membro de uma comissão, delegação, subcomissão ou grupos de trabalho não puder comparecer a uma reunião por motivo de doença ou acidente, ele/ela tem direito a uma compensação razoável pela perda do subsídio diário. Durante a licença de maternidade, por exemplo, a parlamentar receberá o subsídio diário perdido de forma integral.

Além do salário, verba para despesas de gabinete, e subsídio diário por comparecimento, há subsídios para alimentação, viagens e hospedagens. As contribuições previdenciárias são pagas, e subsídios para despesas adicionais são concedidas aos presidentes e vice-presidentes dos conselhos e comitês. Uma parte desses subsídios é isenta de impostos.

De acordo com o site oficial do Parlamento Suíço, de um modo geral, em 2017, os deputadores federais suíços ganharam mais que os senadores. O valor médio do subsídio diário por comparecimento entre os deputados ficou em cerca de CHF 47.000. Já entre os senadores, esse valor ficou em cerca de CHF 38.000. Se fôssemos considerar somente os valores que citamos acima, os deputadores federais suíços receberam, em média, CHF 106.000. Porém, existe uma longa lista de subsídios e reembolsos, que englobam alimentação, viagens, hospedagem, reembolso por deslocamento entre Berna (onde está localizado o Parlamento Suíço) e a residência do membro do conselho após um certo tempo.

Resumindo? Entre salário, benefícios e subsídios, um parlamentar suíço alcança, no mínimo, CHF 106.000 e, no máximo, CHF 150.000 por ano, ou seja, uma margem salarial que, na absoluta maioria dos casos, ultrapassa os salários de professores na Suíça, e compromete apenas entre 50% a 70% do tempo de trabalho. O site da Confederação Suíça diz que “O parlamento suíço é um parlamento semiprofissional que permite que os membros do parlamento exerçam outro cargo enquanto cumprem seus deveres parlamentares.” Portanto, membros dos conselhos ainda podem complementar a renda exercendo outras atividades, algo que seria praticamente impensável para professores.

Os Salários dos Secretários Gerais dos Grandes Conselhos e de Alguns Chefes do Executivo

Durante minha pesquisa, encontrei uma notícia bem interessante, que foi publicada pelo site do jornal suíço “24 heures”. O texto tratava basicamente de um aumento anual, que estava prestes a ser concedido pelos membros (deputados estaduais) do Grande Conselho de Vaud (Assembleia Legislativa de Vaud) para o secretário-geral – principal e mais importante cargo do conselho. O secretário-geral é basicamente responsável por garantir a logística e o bom funcionamento do conselho. Ele gerencia a agenda e coordena o trabalho das várias comissões. Durante as sessões, ele se senta à direita do presidente, orientando-o para que os procedimentos adotados sejam os mais corretos possíveis.

Desde 2007, no cantão (estado) de Vaud, o ocupante desse cargo recebia simplesmente CHF 190.000 por ano. No cantão de Genebra, esse valor variava entre CHF 180.000 a CHF 242.000! Aliás, o secretário geral de Vaud ainda era o responsável por liderar uma equipe de 22 pessoas. Em Genebra, esse número subia para 28. Já no cantão de Jura, apenas 2, sendo que o secretário geral ganhava “apenas” entre CHF 115.000 e CHF 165.000!

Aliás, a título de curiosidade, o custo operacional do Grande Conselho de Genebra era o mais alto do país. Os pagamentos com deputados estaduais (100) ocupavam CHF 4,7 milhões de um total de CHF 11,5 milhões. Vaud vinha em seguida, com os deputados (150) ocupando CHF 4,2 milhões de um total CHF 7,3 milhões. Já o custo operacional relacionado ao Grande Conselho de Jura tinha CHF 800 milhões ocupados com o pagamento de deputados estaduais (60) de um tal de CHF 1,3 milhões.

Aliás, a título de curiosidade, o custo operacional do Grande Conselho de Genebra era o mais alto do país. Os pagamentos com deputados estaduais (100) ocupavam CHF 4,7 milhões de um total de CHF 11,5 milhões. Vaud vinha em seguida, com os deputados (150) ocupando CHF 4,2 milhões de um total CHF 7,3 milhões. Já o custo operacional relacionado ao Grande Conselho de Jura tinha CHF 800 milhões ocupados com o pagamento de deputados estaduais (60) de um tal de CHF 1,3 milhões.

Deixei a cereja do bolo para o final, visto que também encontrei uma informação muito interessante no site da rede de televisão suíça RTS, que foi publicada em dezembro de 2017, sobre os salários dos prefeitos da Suíça Francófona. O título dava uma ideia do que esperar do texto: “Jusqu’à 275’000 francs par an, ce que gagnent les maires de Suisse romande” (“Até 275.000 francos por ano, o que os prefeitos da Suíça francófona ganham“, em português).

De acordo com a matéria e pesquisa feita pela RTS, Philippe Varone, presidente (equivalente ao cargo de prefeito) da comuna (uma pequena cidade) de Sion (Sião) recebia cerca de CHF 274.950 por ano, para administrar uma localidade com apenas 35.000 habitantes. Esse valor era maior do que Remy Pagani, prefeito da cidade de Genebra, que recebia CHF 254.000 anuais, aos quais deveriam ser acrescentados CHF 18.500 em subsídios para despesas de escritório.

De acordo com a matéria e pesquisa feita pela RTS, Philippe Varone, presidente (equivalente ao cargo de prefeito) da comuna (uma pequena cidade) de Sion (Sião) recebia cerca de CHF 274.950 por ano, para administrar uma localidade com apenas 35.000 habitantes.

Existiam, é claro, situações muito peculiares. Por exemplo, o prefeito de Ecublens recebia cerca de CHF 50.000 anuais por um comprometimento de 50% do seu tempo de trabalho para administrar a cidade com cerca de 12 mil habitantes. Já Sylvain Dumoulin, prefeito de Savièse, recebia cerca de CHF 136.000 anuais, mais CHF 12.000 de subisídios para despesas de escritório, por um comprometimento de 70% do tempo de trabalho. Nos outros 30%, Sylvain exercia sua profissão de engenheiro. Curiosamente, o prefeito da pequena Cheiry, com 388 habitantes, recebia apenas cerca de CHF 6.000 por ano. A variação salarial é muito grande em relação aos chefes do executivo em âmbito municipal na Suíça.

Ah, e não pensem que transparência é uma marca da integridade do político suíço, visto que das 126 cidades do cantão de Valais, 42 se recusaram a dizer para a RTS quais eram os salários de seus prefeitos.

Conclusões

Ufa! Diante de tudo que foi pesquisado acima podemos chegar a algumas conclusões:

  • Um professor na Suíça não ganha mais do que um deputado federal ou estadual no Brasil, exceto, remotamente, se fôssemos comparar unicamente os seus salários nominais. Porém, isso seria extremamente desonesto, porque os professores não possuem subsídios, gratificações, verbas indenizatórias, e sequer o custo de vida de ambos os países é o mesmo. Ainda assim, mesmo se comparássemos somente os salários, na absoluta maioria dos casos, deputados federais e estaduais brasileiros ganhariam mais que dezenas de milhares de professores na Suíça;
  • O salário nominal de um professor na Suíça é maior que o valor recebido por um deputado estadual suíço, porém esse deputado ocupa apenas 25% do seu tempo disponível para trabalho com a legislatura, o que lhe dá uma ampla possibilidade de complementar significativamente a sua renda mensal e anual, ou seja, o indivíduo que ocupa o cargo de deputado estadual na Suíça acaba tendo uma renda mensal e anual maior do que um indivíduo, que ocupa um cargo de professor naquele país;
  • Embora o salário nominal de um deputado federal ou senador da Suíça, seja menor do que um professor, os deputados federais e senadores possuem um rendimento anual (entre salários, benefícios e subsídios) maior do que um professor na Suíça. Além disso, ambos ocupam entre 50% e 70% do tempo de trabalho na função de parlamentar, possibilitando que complementem significativamente suas rendas mensais e anuais, e aumentando ainda mais essa diferença;
  • O salário de Secretários-Gerais dos Grandes Conselhos é, na absoluta maioria dos casos, maior do que o salário de um professor na Suíça;
  • O salário de muitos prefeitos da Suíça Francófona é bem maior do que o salário de um professor daquele país.

Conforme vocês puderam perceber são muitas as variáveis, mas, grosso modo, podemos dizer que um indivíduo ocupando o cargo de professor na Suíça não tem uma renda mensal ou anual maior do que um indivíduo, que ocupe o cargo de deputado estadual, federal ou senador, tanto no Brasil, quanto na Suíça. No caso da Suíça, a questão do comprometimento do tempo de trabalho é essencial para chegar a essa conclusão. Além disso, deputados federais e senadores suíços possuem benefícios e subsídios. A generalização da palavra “deputado” e a falta de informação sobre deputados federais e senadores no texto publicado pelo site do jornal “O Estado de São Paulo” acabou gerando consequências nefastas, ou seja, outras notícias que distorceram ainda mais o que foi originalmente escrito de forma problemática.

Alguns sites chegaram a apontar que o Brasil deveria aprender com a Suíça. Porém, no caso de muitos prefeitos suíços, aparentemente, eles não têm muito a ensinar sobre economia, pelo menos não em relação aos seus próprios bolsos.

Jornalista e colaborador do site de verificação de fatos E-farsas entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. Entre junho de 2015 e abril de 2018, trabalhei como redator do blog AssombradO.com.br, além de roteirista do canal AssombradO, no YouTube, onde desmistificava todos os tipos de engodos pseudocientíficos e casos supostamente sobrenaturais.

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