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Refugiados sírios recusaram comida por causa da Cruz Vermelha?

Refugiados sírios recusaram comida por causa da Cruz Vermelha?

É verdade que os refugiados sírios muçulmanos rejeitaram ajuda humanitária por causa da cruz nas embalagens da Cruz Vermelha?

O vídeo foi publicado no YouTube na última semana de agosto de 2015 e mostra um grupo de migrantes na chuva, protestando e se recusando a receber ajuda da Cruz Vermelha por causa do símbolo da cruz estampada nos pacotes. De acordo com o texto que acompanha o vídeo publicado em diversos sites de notícias no mundo todo, o grupo estaria recusando ajuda com receio de que a comida fosse “Haraam” (proibida pelo Islã)!

Nas redes sociais, várias pessoas criticaram a atitude dos refugiados, que supostamente estariam passando fome em nome da sua religião…

Refugiados estariam recusando comida da Cruz Vermelha por causa do logo da entidade! Será verdade? (foto: Reprodução/YouTube)

Refugiados estariam recusando comida da Cruz Vermelha por causa do logo da entidade! Será verdade? (foto: Reprodução/YouTube)

Esse protesto teria sido filmado na fronteira da Grécia com a Macedônia, próximo à aldeia de Gevjelija.

Será que essa história é verdadeira ou falsa? Assista ao vídeo abaixo e descubra conosco:

 

Verdadeiro ou falso?

Essa notícia, que se espalhou rapidamente pelas redes sociais, acabou sendo desmentida por um dos jornais que a ajudaram a se espalhar, o Il Post. No dia 25 de agosto de 2015, o Il Post conseguiu conversar com próprio autor do vídeo, que esclareceu de uma vez por todas o que ocorreu de fato, afastando a interpretação errada que muitos tiveram sobre o vídeo.

Predrag Petrovic, o editor chefe do site de notícias macedônio a1on.mk, afirmou que foi ele quem filmou toda a cena e publicou no YouTube, mas que os migrantes estavam recusando o auxílio em protesto por não terem sido autorizados a atravessar da Grécia para a Macedônia.

Através de mensagens de e-mail, Predrag Petrovic disse ao jornal que:

“Os refugiados haviam passado três dias na terra de ninguém entre a Macedónia e a Grécia. Na ocasião em que o vídeo foi filmado estava chovendo e eles [os migrantes] já tinham passado quase duas horas embaixo de chuva e a polícia macedónia não autorizava a travessia da fronteira. Quando a Cruz Vermelha chegou para distribuir ajuda aos refugiados, eles já estavam zangados e recusaram a ajuda, gritando ‘não! não!’. […] A polícia Macedónia só autorizava um grupo de 200 a 300 refugiados a cada duas horas para atravessar a fronteira[…]”.  

A explicação de Petrovic é bem parecida com a que ele havia publicado na sua página no dia 22 de agosto. Só que, talvez, por causa da tradução, muita gente deve ter interpretado errado a atitude dos refugiados sírios!

Cruz Vermelha confirma a versão de Petrovic

De acordo com o jornal português RTP, Corinne Ambler – coordenadora das comunicações da Cruz Vermelha confirmou a versão de Petrovic – via e-mail. Ela afirmou também que os migrantes agiram sob uma carga de frustração:

“A Cruz Vermelha tem distribuído auxílio e assistência a milhares de pessoas na fronteira e vai continuar fazendo isso enquanto existir a necessidade humanitária […] Distribuímos entre 3000 a 4000 pacotes por semana de mantimentos e eles têm sido recebido com gratidão sem incidentes de pessoas que os recusassem!”.

No site da Cruz Vermelha há diversas fotos tiradas nos dias 22 e 24 de agosto de 2015, onde podemos ver que os refugiados aceitaram ajuda humanitária. A entidade afirma ter entregue 2.800 pacotes de comida no período e aquela manifestação foi um caso isolado.

A Cruz Vermelha auxiliando os refugiados sírios nos dais 22, 23 e 24 de agosto de 2015! (foto: Corinne Ambler / IFRC)

A Cruz Vermelha auxiliando os refugiados sírios nos dais 22, 23 e 24 de agosto de 2015! (foto: Corinne Ambler / IFRC)

Conclusão

Um grupo de refugiados sírios realmente recusou pacotes de mantimentos da Cruz Vermelha, mas isso não se deveu ao fato de uma cruz estar estampada nos pacotes! Os migrantes estavam protestando pela proibição do grupo entrar no país. A Cruz Vermelha afirmou que isso foi um fato isolado, que distribuiu mais de 2.500 pacotes de comida para os grupos de refugiados e não houve recusas!

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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