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Singapura acabou com a corrupção após intervenção militar?

Singapura acabou com a corrupção após intervenção militar?

Singapura acabou com a corrupção após intervenção militar?

É verdade que um general consertou Singapura e acabou com a corrupção após impor um regime militar no país?

A afirmação se espalhou nas redes sociais e em grupos do WhatsApp na segunda quinzena de fevereiro de 2021, logo após o apresentador Carlos Roberto Massa – o Ratinho – falar sobre isso aos seus fãs em um programa de rádio.

No dia 17 de fevereiro de 2021, o apresentador disse que “aqui deveriam fazer como em Singapura” durante uma entrevista no programa “Turma do Ratinho”, na rádio Massa FM, e trouxe à tona uma discussão sobre a implantação de regimes autoritários ser ou não a solução para os problemas de um país.

Trecho polêmico da entrevista do Ratinho: “[..] está na hora de fazer igual foi feito em Singapura. […] Entrou um general em Singapura, consertou o país e, um ano depois, fez eleições. Mas primeiro consertou, chamou todo mundo que tava denunciado e falou: ‘Vocês têm 24 horas para deixar o país senão serão fuzilados’. Limpou Singapura. Hoje Singapura é um baita de um país[…]” 

Será que Singapura foi “consertada” por um regime militar?

Verdade ou mentira?        

Singapura é uma cidade-país considerada um dos maiores centros econômicos do mundo. Há 50 anos, não passava de uma ilha pobre e com poucos recursos naturais, o que não prometia um grande futuro, segundo o que diz nessa reportagem da BBC de fevereiro de 2019.

Em 1965, após se tornar um Estado autônomo, Cingapura (ou Singapura) passou a ser liderado por Lee Kuan Yew – como primeiro-ministro.

Após comandar o país com mão-de-ferro por 30 anos, Yew (que não era general como Ratinho havia afirmado) deixou o cargo, mas continuou no poder como Ministro Sênior (e depois, ocupando outros cargos).

Depois de Lee, o economista Goh Chok Tong governou Singapura de 1990 a 2004, sendo sucedido por Lee Hsien Loong. Hsien serviu como militar, mas deixou as Forças Armadas em 1984 para entrar para a política.

Lee Kuan Yew morreu em março de 2015, aos 91 anos de idade, deixando um legado de controles rígidos (como a repressão à imprensa e restrições rígidas, além de castigos corporais e excessiva interferência do Estado que permanecem em vigor até os dias de hoje).

Crescimento econômico

O governo rígido de Yew não é a única explicação para o crescimento dessa ilha-Estado de cerca de 6 milhões de habitantes. Essa reportagem de agosto de 2015 do El País explica que a evolução de Singapura se deve em grande parte à sua localização no estreito de Malaca – que é privilegiada por ser uma das rotas marítimas mais importantes do mundo.

Outro detalhe que não é colocado na conta é que o país é considerado um paraíso fiscal, e também sua estabilidade política ajuda. Afinal de contas, o mesmo partido venceu todas as eleições desde que o país foi criado.

Singapura é regida por um sistema parlamentarista e é considerada um Estado de democracia frágil, pois mesmo com eleições a cada 6 anos, todo o sistema de leis foi elaborado de forma que a oposição nunca vença.

Lá não tem corrupção?

Singapura tem uma agência de combate à corrupção chamada CPIB desde dos anos 1950. A CPIB investiga todos os inquéritos sobre corrupção e tem total autonomia para realizar prisões, analisar dados bancários de suspeitos e intimar testemunhas, além de realizar buscas e apreensões.

Apesar da impressão de que não há corrupção no país, escândalos envolvendo empresas e políticos surgem em Singapura. No entanto, como o governo decide o que pode ser publicado e o que não pode (a ilha-Estado possui leis que dão ao governo o poder de taxar como falsa qualquer reportagem e/ou declaração feita na na imprensa), notícias assim são abafadas.

Em carta enviada ao apresentador Ratinho, o jornalista Jamil Chade explica que:

“[…] Em 2019, um blogueiro foi denunciado pelo primeiro-ministro. Motivo: ele compartilhou em suas redes sociais um artigo de um jornal da Malásia que insinuava que o chefe-de-governo de Singapura poderia estar envolvido num esquema de corrupção. Obviamente, uma mentira inaceitável e impensável! Afinal, como o senhor disse, Singapura é ‘limpa’. Num ranking de 180 países, a RSF coloca Singapura na 158ª posição em termos de liberdade de imprensa e numa situação mais vergonhosa que a Venezuela.”

Conclusão

Não é verdade que um golpe militar salvou Singapura e tornou o país em uma potência mundial! 

Gilmar Henrique Lopes é Analista de Sistemas e, em 2002, criou o E-farsas.com (o mais antigo site de fact checking do país!) que tenta desvendar os boatos que circulam pela Web. Gilmar é o autor do livro "Caçador de Mentiras" pela Editora Matrix e da aventura de ficção infantojuvenil "Marvin e a Impressora Mágica"!

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