Um menino de 4 anos cortou os pulsos em Goioerê por causa da Momo?
É verdade que um menino de quatro anos de idade e morador de Goioerê tentou se matar por influência dos vídeos onde aparece a Momo?
A notícia surgiu em alguns sites e blogs – e também nas redes sociais – na segunda quinzena de março de 2019 e deixou muita gente preocupada. De acordo com o texto, um menino de quatro anos de idade teria tentado se matar e a sua tentativa de suicídio teria sido influenciada por vídeos onde aparece a Momo. O caso teria ocorrido em um bairro no município de Goioerê (PR) e o menino, além disso, teria agarrado o pescoço do pai com muita força, em uma tentativa de enforcá-lo!
A família, segundo o que diz na reportagem, teria descoberto que os vídeos de conteúdo infantil que o menino assistia eram interrompidos pela Boneca Momo, com cenas que ensinam a prática do suicídio às crianças.
Será que isso é verdade ou mentira?
Verdade ou mentira?
O texto que se espalhou também nos grupos de WhatsApp não dá muito detalhes que tornariam mais fácil a verificação dos fatos nele relatados. É muito vago nos dados que realmente importam e bastante detalhista onde não precisava (e não deveria) ser.
Por exemplo, a matéria afirma que o fato teria ocorrido “há poucos dias”, mas não diz quando exatamente.
Mesmo o nome da criança sendo ocultada, outros nomes deveriam constar na matéria como, por exemplo, em qual hospital o menino foi atendido (se é que foi levado a um hospital), ou qual o nome do delegado que está cuidando do caso (sim, casos como esse geralmente envolvem a Polícia).
Já os detalhes de como o menino teria tentado se matar, recomenda-se ocultar ou omitir esses dados. Essa recomendação faz parte de um manual que foi elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os jornalistas. A mídia é aconselhada a fazer uma cobertura cuidadosa ao noticiar o assunto e isso, segundo o que a OMS apurou, ajuda – dentre outras coisas – a não “dar ideias” para outras pessoas. A seguir, listamos 6 atos que os jornalistas não devem cometer ao cobrir casos de suicídios e mais 6 deveres desses profissionais:
6 instruções do que fazer quando cobrir suicídio
- Trabalhar em conjunto com autoridades de saúde na apresentação dos fatos.
- Referir-se aos casos de suicídio como “consumado”, não como “bem sucedido”.
- Apresentar somente dados relevantes, em páginas internas de veículos impressos.
- Destacar as alternativas ao suicídio.
- Fornecer informações sobre números de telefones e endereços de grupos de apoio e serviços onde se possa obter ajuda.
- Mostrar indicadores de risco e sinais de alerta sobre comportamento suicida.
6 instruções do que NÃO fazer ao cobrir suicídio
- Não publicar fotografias do falecido ou cartas suicidas.
- Não informar detalhes específicos do método utilizado.
- Não fornecer explicações simplistas.
- Não glorificar ou fazer sensacionalismo sobre o caso.
- Não usar estereótipos religiosos ou culturais.
- Não atribuir culpas.
Origem
Procuramos em jornais locais (em Goioerê) sobre o assunto e não encontramos nada a respeito. O site VVale, a exemplo de vários outros, publicou o texto da suposta tentativa de suicídio do garoto citando como fonte o site Massa News.
O site Massa News, por sua vez, apenas copiou o texto do site Goio News, que não cita nenhuma fonte e parece ser a fonte de todos os outros sites que publicaram a mesma notícia.
O site BHAZ, afirmou que uma menina se matou no Mato Grosso do Sul e que um garoto cortou o pulso superficialmente no Paraná, no dia 09 de março de 2019. No entanto, o site não dá mais detalhes sobre o fato e parece tê-lo usado apenas como exemplo.
O YouTube Kids está sendo invadido por vídeos da Momo ensinando o suicídio?
Segundo o que se espalhou na internet na segunda quinzena de março de 2019, a plataforma de vídeos infantis do YouTube estaria sendo invadido por vídeos aparentemente normais, mas com trechos inseridos neles mostrando a boneca Momo ensinando as crianças como cometer suicídio. O caso causou uma histeria coletiva, tornando o assunto um dos mais comentados no Brasil.
Em um artigo que vamos publicar ainda hoje você vai descobrir que o assunto não é bem assim. Aguarde!
Esse artigo de 2014 do Terra, por exemplo, mostra que mutilação é um indício forte de depressão (no artigo, tratado como “tristeza”).
Atualização 19/03/2019
O portal Massa News entrou em contato conosco explicando que teria falado com exclusividade com a mãe do garoto e que ela teria confirmado a ocorrência do incidente. O link que o Massa News no enviou, no entanto, é de uma matéria de um site terceiro (parceiro deles, segundo o Massa News), que afirma ter falado com a mãe do menino.
A matéria do site Catve (parceiro do Massa News) afirma que a mãe do menino que teria cortado os pulsos disse que os cortes foram superficiais e que, após uma discussão, o menino tentou estrangular o pai.
Infelizmente, continuamos sem provas do ocorrido e tampouco alguma ligação entre a suposta automutilação do garoto e os vídeos do Momo. De acordo com a Catve, a mãe do garoto não o levou ao hospital e nenhuma autoridade foi notificada. Portanto, sem provas, isso continua sendo um boato!
Conclusão
Não há provas de que um menino de quatro anos tenha cortado os pulsos em Goioerê e menos provas ainda de que o garoto (caso isso seja verdade) tenha sido influenciado pela Momo. Todavia, preste atenção nos seus filhos, pois não é uma simples boneca que pode levá-los ao suicídio, mas a depressão, que é uma doença séria e quem a tem precisa de tratamento!