Vídeo íntimo de Jeanine Añez vazou nas redes sociais?
Desde que Jeanine Añez se autoproclamou presidente interina da Bolívia, a ex-senadora vem sendo alvo das mais diversas acusações. De fato, algumas de suas declarações foram recentemente apagadas de sua conta no Twitter, posteriormente a viralização nas redes sociais. Contudo, outras declarações jamais foram proferidas por ela. Anteriormente, fizemos dois artigos mostrando direitinho o que Jeanine realmente disse em suas redes sociais ou foi meramente inventado (1 | 2).
Aparentemente, os escrúpulos são deixados de lado, quando estamos no campo político. Isso porque, desde a sua autoproclamação vem circulando um vídeo íntimo, no qual aparece uma senhora loira, de unhas pintadas de rosa, numa ação carnal com um homem, cujo rosto não aparece nas imagens. Assim sendo, alguns usuários passaram a alegar que se tratava de Jeanine Añez.
Evidentemente, não iremos publicá-lo aqui no site, mas provavelmente vocês não encontrarão dificuldades em assisti-lo em algum site dedicado a tais vídeos. Nos limitaremos apenas a publicar um rápido comparativo, combinado?
Entretanto, será que a mulher que aparece no vídeo é realmente a Jeanine Añez? Descubra agora, aqui, no E-Farsas!
Verdadeiro ou Falso?
Falso! Embora não tenhamos conseguido encontrar mais detalhes sobre a identidade da mulher que aparece no vídeo, temos todo um conjunto probatório apontando que não se trata de Jeanine Añez! Uma vez que casos assim suscitam polêmicas e muitas dúvidas, a seguir mostraremos as principais razões pelas quais nada indica que seja Jeanine Añez que aparece no vídeo.
Entendendo Como Se Constrói uma Campanha Difamatória a Partir das Redes Sociais
A absoluta maioria dos sites que abordou esse assunto disse que o vídeo começou a circular entre usuários das redes sociais. Contudo, seu surgimento não foi tão genérico e aleatório assim.
O Vídeo Circula Há Anos em Sites Destinados a Esse Tipo de Conteúdo
O vídeo circula há anos em sites destinados a publicação de vídeos eróticos, mas só foi atribuído a Jeanine Añez a partir do dia 13 de novembro de 2019! Lembrando que a ex-senadora boliviana se autoproclamou presidente interina na noite de 12 de novembro.
Numa rápida pesquisa em mecanismos de busca encontramos esse mesmo vídeo publicado há pelo menos dois anos! Contudo, é plenamente possível que o vídeo seja ainda mais antigo!
É muito importante destacar nesse ponto, que esse vídeo nunca foi atribuído a Jeanine Añez em nenhuma data anterior a sua autoproclamação como presidente interina da Bolívia.
Quem Começou a Propagar esse Vídeo? A Disseminação Através de um Perfil/Site Chamado “Lechuguinos”
A disseminação do vídeo originou-se de um perfil chamado “Lechuguinos”, no Twitter, por volta do meio-dia do dia 13 de novembro. O perfil pertence a um pretenso site de notícias da Venezuela, de caráter totalmente sensacionalista e enviesado ideologicamente. É basicamente um site que apoia o regime de Nicolás Maduro e, consequentemente, apoiava o regime de Evo Morales, assim como demais líderes de esquerda da América Latina.
Para completar, o site habitualmente publica notícias falsas nas redes sociais para difamar opositores políticos dos regimes que defende.
No primeiro tuíte realizado pelo “Lechuguinos”, o vídeo já foi visualizado mais de 150 mil vezes e obteve 2,3 mil compartilhamentos. O “Lechuguinos” alegou que se tratava de um vídeo recente de Jeanine Añez, visto que ela aparecia com as unhas pintadas de rosa. Contudo, além de já sabermos que o vídeo é bem antigo, o perfil não ofereceu nenhuma prova substancial para corroborar com tais alegações.
Embora Jeanine Añez habitualmente use batom e esmalte rosas (geralmente em tons mais escuros), ela sempre apareceu publicamente com todas as unhas das mãos pintadas da mesma cor. A mulher que aparece no vídeo possui as unhas dos dedos médio e anelar da mão direita pintados com as cores vermelho e prata, respectivamente. Já unha do dedo médio da mão esquerda está pintada com a cor prata. Para finalizar, ao assistir o vídeo completo é possível claramente notar diferenças gritantes entre a fisionomia de ambas.
Questionamento Deplorável
No vídeo, ainda foi feito um questionamento totalmente deplorável:
“Jeanine Añez. Como fez para conseguir a presidência?“
O objetivo do perfil não foi apenas divulgar um vídeo, mas difamar de maneira covarde a reputação de Jeanine Añez, que foi chamada de ditadora, tanto no Twitter quanto pelo site. E, tal atitude acabou atingindo não somente a Jeanine, mas todas as mulheres. Como se não tivessem capacidade e precisassem se prostituir ou prestar favores sexuais para ocupar o mais alto cargo do Poder Executivo boliviano.
Enfim, é a mesma situação de uma determinada “expressão popular”, igualmente deplorável, que comumente ouvimos de alguns homens para justificar a ascensão de mulheres em cargos mais altos dentro de empresas, por exemplo. Provavelmente, vocês imaginam qual seja essa “expressão”.
Disseminação em Massa e Imagem Manipulada Digitalmente
Não foi uma única vez que esse vídeo (ou a respectiva matéria no site sobre o vídeo) foi divulgado por esse mesmo perfil no Twitter. Isso aconteceu muitas outras vezes desde então (1 | 2 | 3 | 4). E, em nenhum momento, houve qualquer preocupação em fornecer quaisquer provas que ligassem o vídeo a Jeanine Añez.
Para piorar ainda mais a situação, o site propagou uma imagem manipulada digitalmente, onde Jeanine Añez aparece segurando um livro do “Kama Sutra” (antigo texto indiano sobre o comportamento sexual), quando, na verdade, ela estava segurando uma Bíblia.
Confiram a imagem manipulada digitalmente:
Agora confiram a imagem original:
Outros Sites Enviesados Ideologicamente Ajudaram a Propagar o Vídeo
Outros sites enviesados ideologicamente também promoveram a disseminação indiscriminada e de forma pejorativa desse vídeo. Como exemplo, podemos citar os sites “Noticias en Red“, “Insurgente“, “Resistencia Urbana” e “Libre Mundo”
Esse Vídeo Já Foi Utilizado Para Difamar uma Senadora Paraguaia!
Em maio de 2018, um site argentino chamado “La Precisa” utilizou esse mesmo vídeo para difamar a senadora paraguaia Zulma Gomez, do PLRA — um partido considerado de centro. Na época, Zulma estava envolvida em disputas internas pela liderança seu partido, cujos ânimos afloraram nas redes sociais.
O vídeo voltou a ser atribuído recentemente a Zulma Gomez, mas desde o ano passado não há nenhum indício que seja a senadora paraguaia.
Jeanine Añez Se Pronunciou a Respeito do Vídeo
No dia 15 de novembro de 2019, a autoproclamada presidente interina da Bolívia se pronunciou a respeito desse vídeo. Ela alegou que tudo não passava de uma campanha de difamação e que estava sendo atacada pelo simples fato de ser mulher. Segundo ela, se fosse um homem não haveria nenhum tipo de acusação sexual.
“Ao assumir o governo fui atacada da maneira mais vil com vídeos, que felizmente não ecoaram. E eles vêm daquele setor que só quer prejudicar, que só quer desqualificar, que só o faz por uma espécie de vingança“, disse Jeanine.
Uma Suspeita Divulgada Pelo Site “24CON”
De qualquer forma, também não há elementos suficientes para atestarmos essa versão.
Conclusão
Falso! Embora não tenhamos conseguido encontrar mais detalhes sobre a identidade da mulher que aparece no vídeo, apresentamos neste artigo todo um conjunto probatório apontando que não se trata de Jeanine Añez! Tudo indica que o vídeo foi realmente disseminado com o intuito de difamá-la após sua autoproclamação como presidente interina da Bolívia.
O vídeo começou a ser disseminado por um “site de notícias” da Venezuela de caráter totalmente sensacionalista e enviesado ideologicamente, que habitualmente publica notícias falsas nas redes sociais para difamar opositores políticos dos regimes que defende, assim como o de Nicolás Maduro e o ex-regime de Evo Morales. Ao contrário do que foi divulgado, o vídeo não é nem um pouco recente e já foi utilizado, pelo menos, para difamar uma senadora paraguaia no ano passado. Além disso, com um olhar atento, podemos notar claramente que as características físicas entre a mulher que aparece no vídeo e a Jeanine Añez são incompatíveis.
O vídeo acabou atingindo não somente Jeanine Añez, mas as mulheres de um modo geral. Além da própria mulher que aparece no vídeo ter sido, muito provavelmente, vítima de um vazamento ilegal, o vídeo acabou sugerindo que uma mulher teria precisado se prostituir ou prestar favores sexuais para ocupar o cargo em que estava. Embora tais acusações de teor sexual pudessem recair sobre homens (um vídeo íntimo atribuído ao então candidato ao governo do Estado de São Paulo, João Doria, foi um exemplo disso), a maneira pela qual o vídeo foi divulgado abre, no mínimo, uma margem perigosa de interpretação. Não é mais possível fechar os olhos e permitir que mulheres sejam inferiorizadas, e que suas capacidades intelectuais sejam questionadas de maneira tão baixa e covarde.